Depois de ficar uma semana refugiada em Brasília, sob proteção da ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, a prefeita Bett Sabah Marinho da Silva (PT) do município de Rondolândia (1.600 Km de Cuiabá), conseguiu ser ouvida pelo delegado Flávio Henrique Stringueta da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), em Cuiabá nesta terça-feira (25). A GCCO foi designada para auxiliar nas investigações sobre as ameças de morte que a petista e sua família tem sofrido há pelo menos 10 meses. Ela denunciou que um "emissário", a mando de alguém, fez chegar ao seu gabinete que sua "cabeça" estava a prêmio por R$ 130 mil e que uma motocicleta e armas já teriam sido compradas para executá-la.
A reportagem apurou que Sabah também conseguiu proteção policial e pretende retornar para sua região já nesta quinta-feira (27). Essa proteção foi proporcionada por forças de segurança federal com apoio da cúpula estadual que até então vinha ignorando os apelos da gestora. Detalhes sobre a escolta não são revelados por estratégia de segurança. Ela não confirma, mas existem suspeitas de que as ameças tenham ligação com grupos políticos rivais. Bett venceu as eleições em 2012 por uma diferença de apenas 3 votos e o adversário derrotado ainda tentou anular o pleito na Justiça Eleitoral, mas não conseguiu.
Em 2011, 2 prefeitos foram executados a tiros em Mato Grosso. O primeiro, foi o de Novo Santo Antônio, Valdemir Antônio da Silva (PMDB), o Quatro Olhos, assassinado no dia 23 de julho. Um mês depois, no dia 5 de agosto do mesmo ano, Antônio Luiz Cesar de Castro (DEM), o Luizão, então prefeito de Nova Canaã do Norte (699 km ao norte de Cuiabá) também foi morto.
No caso da prefeita de Rondolândia, a Secretaria Estaduald e Segurança Pública (Sesp) só agiu depois que a ministra ligou para o governador Silval Barbosa (PMDB) cobrando que ele tomasse providências e garantisse a integridade física dela. Outra reivindicação da petista feita em Brasília foi por mais segurança também para seu município de 3,7 mil habitantes que só dispõe de 3 policiais militares e o índice de violência só aumenta. Ela cobra um efetivo maior.
Uma investigação também foi aberta pela Polícia Civil para apurar a origem das ameaças, uma vez que o município de Rondolândia está localizado na divisa do Mato Grosso com Rondônia, uma das localidades mais violentas envolvendo as regiões Centro-Oeste e Norte. Procurada, a Polícia Civil disse que a investigação já vinha sendo feita desde o dia 24 de janeiro quando um boletim de ocorrência foi registrado pela prefeita. O delegado do caso é José Ricardo Garcia Júnior, da Delegacia Regional de Juína, que também é responsável por Rondolândia. Agora com os apelos da prefeita em Brasília que despertou atenção inclusive da Câmara Federal, a GCCO reforçou as investigações.
Bett Sabah denunciou que precisou retirar os 2 filhos da cidade e também o marido. Depois, recorreu a Brasília em busca da proteção que não encontrou em Mato Grosso. Ela também recebeu orientação da Polícia Federal em Brasília e por precaução, não comenta mais sobre o assunto. Está seguindo as recomendações do serviço de proteção. Ela também foi ouvida por deputados que integram a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos na Câmara Federal. Eles disseram que pretendem fazer uma visita a Rondolâdia para conhecerem a realidade in loco.
As eleições de 2012 foram agitadas com a disputa polarizada entre Bett e Agnaldo Rodrigues de Carvalho (PP). Ela venceu o pleito com 1.061 votos enquanto o agricultor Agnaldo Carvalho foi escolhido por 1.058 eleitores. Foram registrados ainda 79 votos nulos e 13 eleitores votaram em branco. Derrotado, ele recorreu à Justiça pedindo que o pleito fosse anulado, mas perdeu. Em julho do ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) negou o recurso de Carvalho e manteve Bett como prefeita.
Histórico de ameaças
No ano passado, 2 gestores procuraram a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) para denunciar ameaças de morte e pedir ajuda. Ou seja, Bett Sabah e Eduardo Penno (PMDB), atual gestor de Novo Santo Antônio. Em todas as vezes a AMM protocolou ofício junto ao secretário de Segurança Pública, Alexandre Bustamante e nada foi feito. De acordo com a assessora jurídica da AMM, Débora Simone Rocha Farias, não houve nem resposta às cobranças. Ela explica que no caso da prefeita de Rondolândia, outro ofício foi enviado no começo deste ano para a Sesp e continua sem resposta.
Em 2012, foram 2 prefeitas, Nelci Capitani (DEM) de Colniza e Maria Manea da Cruz Vitozzi (hoje PSD), de Lambari D’Oeste que denunciaram ameaças. Elas também solicitaram apoio da pasta de segurança pública por meio da AMM, porém, os ofícios foram ignorados. A reportagem ligou no celular do secretário Alexandre Bustamante, mas ele não atendeu.
No caso de Maria Manea de Lambari D' Oeste, seu marido Luiz Carlos Alves da Cruz, foi executado em 2004 com tiro na cabeça quando concorria à Prefeitura Municipal. Foi morto quando saía de uma reunião política. Desde que foi eleita prefeita do município, em 2008, Manea convivia, diariamente, com ameaças e, em novembro de 2010, a Polícia Civil desmantelou uma quadrilha que pretendia executá-la.