As eleições de 2018, da qual saiu vitorioso o governador Mauro Mendes (DEM) e como principal derrotado o ex-governador Pedro Taques (PSDB), estão sendo investigadas em um inquérito aberto pelo Departamento da Polícia Federal em Mato Grosso (DPF-MT), que tramitou de forma sigilosa desde outubro de 2019.
A reportagem do jornal A Gazeta teve acesso integral ao inquérito, que aponta atuação de um poderoso grupo criminoso que, segundo as acusações, teria como integrante três ex-governadores: Pedro Taques, ex-PSDB e hoje no Solidariedade, Silval Barbosa (PMDB) e Blairo Maggi (PP).
Apesar das disputas políticas em público, a PF trabalha com a hipótese de que, quando as cortinas do teatro desciam, todos atuavam em conjunto. As principais informações que levaram os investigadores a acreditar nisso são as articulações criminosas reveladas pelas delações de Silval Barbosa e do ex-secretário de Estado Pedro Jamil Nadaf.
O curioso é que, apesar da delação de Silval ter sido concluída em 2017, -oportunidade em que ele saiu do Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), onde esteve preso por quase dois anos -nenhum inquérito foi aberto para investigar as denúncias.
Na delação, Silval diz que Taques recebeu recursos de propina da JBS para que não ‘olhasse no retrovisor’ quando assumisse o governo. Silval narra que encaminhou propina de R$ 4 milhões que tinha como crédito na JBS para a campanha de Taques. Joesley Batista, um dos donos da JBS, teria vindo a Cuiabá para se encontrar pessoalmente com Taques e fechar um acordo sobre a doação, de modo que os recursos evitariam investigações contra a empresa e contra o governo de Silval.
O relato de Silval, que é público desde 2017, mostra que Blairo também interferiu na campanha de 2014. Na ocasião, o então senador pediu para que Silval não investisse na campanha de Lúdio Cabral (PT), a quem Barbosa apoiava oficialmente. O pedido mais tarde foi repetido pelo próprio Taques.
Denúncia de advogada
A notícia crime que deu origem ao inquérito foi feita pela advogada Juliana Gadomski Chaves. O documento, que cita a delação de Silval, foi protocolado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) no dia 18 de abril. Gadomski cita o caixa 2 da JBS e outros fatos narrados na delação que não foram investigados a mando da Procuradoria Geral da República (PGR), que conduziu a delação de Silval.
‘Para absoluta surpresa de todos, os fatos, apesar do conhecimento das autoridades que conduziram a colaboração e do dever absoluto de agir insito à função pública, ainda foram investigados’, diz a advogada. ‘As razões são ainda desconhecidas’, afirma a denunciante.
Neste trecho, Gadomski faz referência indireta à Rodrigo Janot, chefe da PGR na época da delação de Silval, que não abriu nenhum inquérito para investigar diretamente as denúncias contra Pedro Taques, de quem o procurador-geral foi colega no Ministério Público Federal (MPF).
A notícia-crime de Gadomski foi aceita no mês seguinte, em maio. A princípio, a investigação poderia focar apenas nas eleições de 2014, mas as investigações da PF solicitaram cópia de documentos eleitorais ao TRE-MT referentes ao pleito de 2018, quando Pedro Taques também disputou.
No dia 22 de maio, o promotor eleitoral Sérgio Silva da Costa solicitou a abertura de inquérito policial com base na denúncia da advogada, o que foi deferido pela juíza Gabriela Knaul de Albuquerque e Silva no dia 28 de maio do mesmo ano de 2019. Em seguida, em julho, a Superintendência da PF no estado pediu ao TRE o compartilhamento das contas eleitorais dos três ex-governadores.
Em agosto a PF também determinou que, por se tratar de muitos fatos, as investigações deveriam seguir dois eixos: o primeiro refere-se a 2018, para apurar doações ilegais da JBS feitas para a campanha de Pedro Taques. O segundo eixo seria de 2010, também para verificar doações ilegais da JBS, mas para as candidaturas de Silval Barbosa ao governo e de Blairo Maggi ao senado.
Depois disso, em outubro, o inquérito é devidamente instaurado pela PF. Em despacho o delegado da Polícia Federal, Tomas Wlassak, pede informações sobre Silval Barbosa, José Riva, Valdir Piran, Eder de Moraes, Júnior Mendonça, o BicBanco, Blairo Maggi e Joesley Batista. Informações que, conforme o delegado, devem ‘relacionar histórico político ou empresarial dos mesmos, dados constantes dos bancos de dados da Polícia Federal’.
No dia 11 de março deste ano, após receber a delação de Nadaf e ouvir o ex-secretário em depoimento, a PF solicitou dilação do prazo pra continuar com as investigações.
Outro lado
O ex-governador Pedro Taques (SD) disse à reportagem que ainda não tem conhecimento do inquérito, mas defende a investigação e afirma que ninguém está acima da lei.
‘São sempre as mesmas conversas fiadas de delatores que não passam de vagabundos que roubaram, e agora querem acusar outras pessoas, depois de ficarem ricos com o dinheiro público’, afirmou.
Ele lembra que em 2010 foi candidato ao Senado na mesma chapa de Mauro Mendes (DEM), que na época disputava o governo do Estado. ‘Ele [Mauro] perdeu para o Silval Barbosa, que era apoiado pelo Blairo Maggi’. ‘Nem meus inimigos me acusam de ser corrupto, pois não sou, aí falam em caixa 2, grampos; sempre com base nas mesmas delações mentirosas, de quem ficou rico roubando e agora virou Santo’, completa.
Já o ex-governador Blairo Maggi (PP) também afirmou que não foi notificado, e que se chamado a depor, irá esclarecer ‘qualquer dúvida’. ‘Tenho a consciência tranquila sobre meus atos, sempre pautados na transparência, honestidade e integridade’.
Já o ex-governador Silval Barbosa afirma que tem o compromisso de continuar colaborando com a justiça por conta do seu acordo de colaboração premiada e irá esclarecer qualquer questionamento. ‘Eu já relatei e vou continuar relatando o que sei de todas as campanhas que participei e o que ouvi de outras campanhas. 70% dos gastos com campanhas eleitorais são via caixa 2. Isso é no Brasil inteiro’, afirmou.
Antonio Carlos
Domingo, 31 de Maio de 2020, 19h06Ismar
Domingo, 31 de Maio de 2020, 12h57Armindo de Figueiredo Filho
Domingo, 31 de Maio de 2020, 10h20Ggm
Domingo, 31 de Maio de 2020, 10h11Diego
Domingo, 31 de Maio de 2020, 10h05Soraya
Domingo, 31 de Maio de 2020, 10h04Amaral antunes
Domingo, 31 de Maio de 2020, 09h47?s de ouro
Domingo, 31 de Maio de 2020, 09h36