Cidades

Domingo, 18 de Maio de 2025, 15h20

COMBATE AO ABUSO

Mudanças e gestos podem denunciar violência sexual infantil

ANA JÚLIA PEREIRA

Gazeta Digital

 

Em 2024, Cuiabá registrou 344 notificações de violência contra crianças e adolescentes, destes 43,3% se referem à violência sexual e em 73,7% dos casos, o crime ocorreu dentro da residência da vítima. Neste dia 18 de maio, é marcado como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, em uma campanha de conscientização para conseguir barrar o aumento de casos.

A infectologista Celésia Ormond, contou a dificuldade que os médicos legistas da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) possuem quando o caso se trata de violência sexual contra crianças e adolescentes, isso porque ela afirma que a cada 10 crianças atendidas, outras 100 foram abusadas.

“A gente se sente dando murro em ponta de faca, porque é comprovado que 10% dos casos de violência sexual infantil vão parar na polícia. E dentro desse número, é ainda menor a porcentagem de crianças que conseguimos comprovar que foi abusada. Porque o abusador sabe que não pode deixar marcas, para continuar praticando o crime, e sabe que em algumas crianças, se houver penetração, ele pode matar, e não é isso que ele quer, porque ele precisa continuar praticando o crime”, explica.

Ela conta que a média de idade com mais incidência desses crimes, são bebês e crianças até os 13 anos, por isso, afirma ser necessário que mãe ou responsável pelos menores, fique atento aos sinais de uma mudança de comportamento destas crianças.

“A criança, mesmo as que não fala, ela apresenta os sinais. Se a mãe for atenta e cuidadosa, ela vai perceber mudanças de comportamento, como a criança ficar mais irritada, fica mais assustada, uma criança que é extrovertida ficar introvertida, entre outros sinais que os adultos precisam ficar atentos”.

Ela explica que após os pais perceberem a mudança de comportamento, é importante conversar com a criança para saber se ela foi realmente vítima de algum tipo de violência. Na sequência, é necessário abrir um boletim de ocorrência na delegacia, e somente depois, o menor é levado para exames na Politec.

“Normalmente os delegados pedem o exame de constatação de violência sexual. Nesse exame já está incluído tanto o exame ginecológico, que a gente vai fazer a constatação de conjunção carnal, ou de coito anal, quanto a parte do exame de corpo delito, porque às vezes a criança pode também ter sinais de atos libidinosos pelo corpo”, explica.

Celésia define o abusador de crianças como um psicopata, e não como um pedófilo como é dito de costume, isso porque o pedófilo precisa de diagnóstico de parafilia, ou seja, é aquela pessoa que sente uma atração muito forte por criança.

“O abusador, na verdade, é um psicopata, aquele que sente prazer em prejudicar o próximo, ter poder e dominação. Porque a maioria, são amigos íntimos do pai e da mãe. Se não for o pai biológico ou o padrasto, a gente percebe que são pessoas que tem confiança dos responsáveis e que por isso, também dificulta na hora de denunciar”.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso, os bairros com maior número de registro de casos são o bairro Morada da Serra, o Pedra 90 e o bairro Áreas. Por isso, Celésia explica que questões socioeconômicas também estão ligadas a casos de abuso infantil.

“A criança que a mãe precisa sair para trabalhar o dia todo, e ele fica sozinho em casa, tem um risco de abuso maior, mas ninguém denuncia porque elas são desassistidas e não tem com quem ficar”.

Por isso, a médica expõe a necessidade de orientação para as crianças e adolescentes, com cartilhas, ensinamentos de quem ninguém pode tirar suas vestes ou passar a mão em suas partes íntimas.

“É necessário explicar para os pequenos a anatomia do corpo, que somente a mamãe pode tocar no momento do banho, inclusive é cientificamente comprovado que quanto mais a criança entende do seu próprio corpo, de sexologia, ele adia a iniciação sexual, diferente desses ignorantes que dizem que faz é incentivar a prática do sexo, é completamente diferente”.

A médica finaliza dizendo que os pais precisam acreditar nos filhos, uma vez que eles não teriam criatividade suficiente para inventar as barbaridades que eles estejam passando.

“Às vezes a criança não entende o que aconteceu e não sabe explicar, mas ela gesticula. Então, a história dela ali já corrobora o ato e por isso é muito importante prestar atenção nas mudanças de comportamento e no que a criança está tentando ou dizendo”, finaliza.

Atualmente, 257 crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual foram acompanhadas pelo Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) nos últimos 5anos, destas 214 meninas e 43 meninos.

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