O primeiro protótipo de ponto de ônibus instalado em Cuiabá caiu na graça dos usuários pela “beleza e interatividade”, mas no que diz respeito ao conforto, ainda falta melhorar – e muito. O Instituto de Arquitetura do Brasil, em Mato Grosso (IAB-MT), contestou o modelo sob o argumento de que o ponto não condiz com a realidade local e não atende as necessidades dos usuários. 

Toda tarde, o ponto que está situado na Avenida República do Líbano está sempre vazio. Mas nas suas laterais, os usuários se espalham para procurar uma sombra atrás de pequenas árvores, ou placas de trânsito. 

Silvaneide de Moraes, que trabalha próximo do local, contou que adorou o ponto. “Achei que o visual ficou bonito se comparado com os outros, é bem moderno”, disse. 

Questionada pelo motivo de não estar sentada no ponto, ela disse que ele não protege do sol. Desde que foi apresentado, no dia 18 de agosto, a principal reclamação tem sido essa. “De manhã não tem nenhum problema, mas de tarde, o sol bate de frente e incomoda bastante”, disse. 

Não demorou muito para Lindinalva Regina chegar e também se acomodar atrás de uma árvore e concordar que, na parte da manhã, o ponto até tem uso. “Não tem como ser 100% né? Mas, já melhorou bastante coisa. Achei ele interativo, explicando as rotas, o visual é bonito, mas infelizmente foi colocado em um local que não ajuda muito, por isso vem sofrendo retaliações”, disse. 

Mas para Fernando Santos, o modelo “ostenta” uma situação que vai ao desencontro da realidade. Segundo ele, de que adianta toda essa estrutura se o transporte público continua uma “calamidade”?. “Sei que é uma coisa de cada vez, mas, por ora, a população quer melhorias nos ônibus, nos pontos a gente vai improvisando, como você pode ver”, disse, apontando para o pessoal sentado na calçada atrás das árvores. 

Abílio Brunini, conselheiro e arquiteto do IAB-MT, explicou que o ponto não apresentou sua principal função, que é abrigar os usuários do transporte coletivo. “Para nós, o ponto foi usado apenas para demarcar que ali é um local de embarque e desembarque, pois não tem mais utilização nenhuma. Não tem conforto, qualidade térmica, não tem iluminação, nem segurança”, destacou. 

Segundo ele, o espaço não precisa ser caro, mas acessível. “Um cadeirante não é acomodado ali. O banco é alto e está contra a norma, as bordas são agudas. Não tem proteção nenhuma”. 

Outro item que o IAB criticou foi a grande quantidade de publicidade no espaço. “Já a função real ele não atende”. No decorrer da semana, o protótipo sofreu alterações no teto. 

O secretário de Mobilidade Urbana, Thiago França, explicou que, por se tratar de um modelo que está sendo estudado, o ponto está sujeito a alterações. No caso, o teto era de policarbonato verde, agora está branco fosco. Na visão do IAB, não melhora muito. 

Na semana em que acontece o Fórum Estadual de Cidades, 21 a 25 de setembro, disse o arquiteto, a discussão em torno do protótipo terá continuidade com os profissionais da área e demais participantes. “No dia 25 de manhã, vamos até o ponto estudá-lo. Depois vamos percorrer a cidade de ônibus em um ‘rolezinho’. De tarde, vamos desenhar e buscar soluções para esse protótipo, como a prefeitura diz”, explicou Abílio. A atitude, segundo ele, é para mostrar que a IAB não busca apenas criticar a ação.