Cidades

Terça-Feira, 25 de Janeiro de 2022, 19h40

PANTANAL SOB RISCO

Organizações alertam para instalação de Porto no Rio Paraguai

Da Redação

 

Pedido de Licença Prévia para instalação de um Porto às margens do Rio Paraguai está em pauta em Mato Grosso. A instalação do “Porto Barranco Vermelho”, no município de Cáceres (MT), passará por aprovação do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema-MT) nesta quarta-feira (26), às 08h30 (horário de Cuiabá). Organizações sociais se mobilizam contra o projeto que tem mais de 100 pendências e promove a implantação de hidrovia, ameaçando a existência do Pantanal.

Com o Terminal de Uso Privado Unidade Portuária Barranco Vermelho, pretende-se realizar operações portuárias e de transporte de grãos e insumos fertilizantes, interligando o trecho do rio Paraguai entre o porto localizado em Cáceres/MT a Corumbá/MS. O empreendimento seria um intermediador entre o transporte terrestre, com uso de caminhões, e o transporte por hidrovia.

Organizações sociais – Associação Sócio Cultural Ambiental Fé e Vida, Comitês Populares das Águas, Comitê Popular do Rio Paraguai e Instituto Gaia, dentre outras – e parlamentares – deputado estadual Lúdio Cabral (PT) e a vereadora de Cáceres Profª Mazéh Silva (PT) – alertam que a construção deste e de qualquer porto nas margens do rio Paraguai é uma operação de implantação de hidrovia, com realização de obras de dragagem e aprofundamente de leitos, derrocamento de rochas no seu leito, retificação de curvas.

“É como se você construísse uma estação rodoviária antes da estrada. Você cria um fato consumado para forçar a implantação da hidrovia. O que é uma ameaça gravíssima, a mais grave de todas, pois a hidrovia afetará o fluxo das águas dos rios e todos os seus afluentes", afirma o deputado Lúdio Cabral . 

"Na prática, o Pantanal, que já sofre com a escassez severa de água, será esvaziado. Se esse projeto for adiante para atender a interesses exclusivamente econômicos, nós estaremos decretando a morte do Pantanal”, alerta.

De acordo com o revisor do processo no Consema-MT e representante da Associação Sócio Cultural Ambiental Fé e Vida, Lourival Vasconcelos, os comboios previstos para navegar no rio Paraguai são compostos por duas barcaças, de fundo chato, e um rebocador, que medem 140 metros de comprimento por 24 metros de largura.

Portanto, “serão necessárias alterações na margem do rio em diversos pontos, trazendo impactos significativos. Também é importante salientar que o período de seca tem ultrapassado mais de quatro meses, o que influencia na navegabilidade”, explica Lourival Vasconcelos .

Impacto socioambiental

De acordo com Lourival Vasconcelos, além da descaracterização do rio Paraguai, “os impactos socioambientais não ficarão restritos à área de influência declarada no processo, que é apenas de 1,8 km”. As áreas de influência direta e indireta do empreendimento são habitadas por comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de pescadores profissionais e artesanais.

Também haverá impacto na biodiversidade aquática e terrestre e consequente alteração nas áreas úmidas, a exemplo do próprio Parque Nacional do Pantanal, tanto na parte de Mato Grosso quanto na de Mato Grosso do Sul.

Outros locais como a Estação Ecológica Taiamã, reconhecida como sítio Ramsar, e o Parque Estadual Guirá também serão impactados. “As barcaças carregadas passarão ao lado da ilha Ínsua, reserva indígena da etnia Guató, que também não foi consultada sobre o licenciamento da Unidade Portuária de Barranco Vermelho”, reitera Vasconcelos.

Ilegalidade

O processo de Estudo de Impactos Ambientais (EIA/RIMA) apresentado não atendeu o Termo de Referência elaborado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), apresentando um número excessivo de 111 pendências.  Apesar disso, em dezembro de 2021, a Sema-MT emitiu parecer técnico favorável à licença prévia que será votada no Consema. 

“Com tantas pendências o EIA/RIMA deveria ser indeferido de Plano por não atender o Termo de Referência, conforme previsto na Legislação ambiental vigente, Parágrafo Único do Art., 32 da Lei Complementar nº 592, de 26 de maio de 2017”, aponta a Associação Fé e Vida.

A Unidade Portuária Barranco Vermelho descumpre a Recomendação nº 10/2018 do Comitê Nacional das Zonas Úmidas (CNZU), ligado Ministério do Meio Ambiente, recomendando a ANA, DNIT, Ministério do Transporte e outros, que considere o trecho do tramo norte do rio Paraguai como área com restrição de uso para navegação de grande porte.

O licenciamento do porto na cidade de Cáceres também é objeto de uma Ação Civil Pública do Ministério Público Federal de Cáceres, iniciada em 2020, e foi autorizado em caráter liminar pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

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