Cidades

Sábado, 13 de Junho de 2020, 10h49

ENTREVISTA

"Órgãos devem ter estratégias contra violência doméstica", alerta presidente de Conselho

Da Redação

 

 

Além do avanço do novo coronavírus, as mulheres têm enfrentado uma outra pandemia, a da violência física e sexual, sobretudo doméstica. A avaliação foi feita pela presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso (Cedm), a procuradora Glaucia Amaral. Ela destaca que as mudanças impostas pelo isolamento social elevaram o número de “gatilhos” que fizeram disparar o número de casos. Nesta entrevista, Glaucia pontua que ações de conscientização e o fortalecimento da rede de proteção à mulher são alguns dos projetos que estão em andamento e que, mesmo com a impossibilidade de realização da Conferência Estadual da Mulher presencialmente, o evento será realizado virtualmente, inclusive com a entrega do Prêmio Ruth Marques Corrêa da Costa. Confira:

Estamos perto do terceiro mês de isolamento social e os índices de casos de violência contra a mulher só aumentam em todo o mundo. Qual o panorama atual na nossa realidade de Mato Grosso?

Com certeza é um momento bastante difícil. O isolamento social, por si só, não gerou um aumento de casos, mas fez com que muitos dos “gatilhos sociais” fossem disparados, causando uma explosão de casos de agressões físicas e sexuais. Tivemos este ano caso de feminicídio, também,  o que não havia sido registrado em 2019. Então o panorama é bastante delicado e tem feito com que todos os órgãos atuem no sentido aumentar a eficácia para prevenir e coibir esta violência.

Como a rede de proteção à mulher tem atuado para a redução dos casos e para o atendimento das vítimas?

Este é um trabalho constante que realizamos e, com a pandemia, estamos ampliando algumas ações. É importante deixar claro que órgãos como a Delegacia da Mulher não fecharam, que a patrulha Maria da Penha segue seu trabalho, enfim, que os órgãos públicos estão atuando normalmente. E isso segue em discussão dentro do Grupo de Trabalho criado em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública. Estamos neste momento discutindo formas de garantir o atendimento às vítimas, neste momento em que elas não podem ou são aconselhadas a ficarem em suas casas.

Além dos órgãos públicos, de que forma a iniciativa privada pode ajudar?

Com a conscientização. As empresas podem e devem ajudar com eventos e dinâmicas para os funcionários, pode massificar campanhas públicas de combate, enfim, pode se engajar nesta luta. São atitudes importantes que são notadas pelos consumidores e ajudam a agregar valor às marcas. Este trabalho também é feito pelo Poder Público, nas escolas, nas comunidades, em diversos outros lugares.

Recentemente, o presidente da OAB-MT foi acusado de suposta violência doméstica contra sua esposa. Qual a atuação do Conselho neste caso em específico?

Desde o primeiro momento, o CEDM esteve acompanhando o caso, inclusive na delegacia, e vai continuar acompanhando, inclusive solicitando às autoridades competentes. Isso é praxe, sempre que solicitado o Conselho vai acompanhar as investigações, os procedimentos, os processos, atuando para assegurar o pleno atendimento das vítimas.

Todos os anos, o Conselho realiza a Conferência Estadual da Mulher, evento muito importante no sentido de propor políticas públicas afirmativas, evolvendo todos os 141 municípios, antes da etapa estadual. Qual será a dinâmica para este ano, uma vez ele não ocorrerá presencialmente, por conta da pandemia?

O evento é de suma importância dentro da estratégia de combate à violência contra a mulher e a adoção de políticas afirmativas. Como não pode haver aglomerações, a etapa estadual da conferência será realizada toda virtualmente, inclusive com a entrega do prêmio Ruth Marques Corrêa da Costa, que premia mulheres com atuação destaca nesta luta. A pandemia potencializou a violência contra a mulher, trouxe novos problemas, mas tenho a certeza de que seguiremos lutando em busca das soluções.

 

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