Segunda-Feira, 04 de Agosto de 2025, 20h25
DEU NO FANTÁSTICO
Companhia reutiliza peças de "avião canabalizado" que fez pouso errado em MT
Restos de aeronave foram deixados em Rondonópolis
FANTÁSTICO
Há cerca de um ano, em 9 de agosto de 2024, o voo 2283 da Voepass partiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP), mas nunca chegou ao destino. O turbo-hélice ATR 72-500 caiu na cidade de Vinhedo, a 80 quilômetros da capital paulista, e ninguém sobreviveu.
Agora, detalhes revelam que uma falha crítica nos sistemas de degelo da aeronave foi omitida do diário de bordo horas antes da decolagem fatal. Em uma gravação obtida pelo Fantástico, um mês após o acidente, dois funcionários da manutenção da Voepass, sem saber que estavam sendo gravados, lamentaram a falha não reportada na madrugada do acidente.
Um deles disse que estava com "remorso desgraçado" por omitir a falha da aeronave. "Errei, errei de não ter mandado por escrito", afirmou ele. Outro colega aconselhou: "Printa, manda pro teu celular, guarda isso daí", sugerindo reunir provas para uma investigação e classificando a situação como uma "sujeira".
Segundo um mecânico da companhia, que preferiu não se identificar, horas antes da queda, os sistemas de degelo não estavam funcionando corretamente. No último voo da aeronave antes do acidente, o comandante pousou em Ribeirão Preto e pediu que ela fosse mandada para a manutenção.
No entanto, o comandante não registrou oficialmente a queixa e, assim, o avião foi liberado para decolar. Segundo o mecânico, a equipe "voava sob pressão" e "não podia ficar colocando sempre pane na aeronave".
O voo estava com 58 passageiros a bordo, além de quatro tripulantes. Entre eles, estavam Nélvio e a professora Gracinda, pais de Eduarda Hubner, que viajavam para São Paulo para assistir a um show de Ney Matogrosso. Também estavam a bordo o agrônomo Hiáles e sua esposa Daniela, uma fisiculturista que tinha duas competições marcadas nos Estados Unidos, com planos de seguir de São Paulo para Atlanta.
O avião decolou às 11h58 da manhã. Eduarda recebeu uma foto dos pais no avião às 11h49, e sua mãe avisou: "Estamos embarcando agora, se cuidem, está vento frio".
Luiz Cláudio de Almeida, um ex-comandante do turbo-hélice ATR que atuou como copiloto na Voepass, aponta que aquele dia foi "especialmente crítico", com um boletim alertando para muito gelo em todos os níveis. Apesar disso, ao contrário das recomendações dos manuais, o avião não baixou para derreter o gelo acumulado.
O sistema de degelo foi acionado três vezes durante o voo, mas, ao fazer uma curva para aproximação de pouso, a aeronave perdeu sustentação devido à sua estabilidade já comprometida.
Conhecido na Voepass como "Papa Bravo" (devido a seu prefixo PS-VPB), o avião tinha problemas crônicos. O comandante Almeida, que conhecia bem a aeronave, afirmou: "Esse avião não estava adequado para voar nas condições de gelo". Ele diz ainda que nunca viu o sistema "boot", que infla para expulsar o gelo das asas, funcionar corretamente no "Papa Bravo", o que teria sido crucial para evitar o acidente.
AVIÃO EM MT
Os problemas na Voepass não se restringiam ao "Papa Bravo". O comandante Almeida citou o caso de um ATR que ficou seriamente danificado ao pousar por engano em uma pastagem em Rondonópolis (MT), em 2016, quando a empresa se chamava Passaredo. Essa aeronave foi "canibalizada" pela própria Voepass, com a reutilização de peças de aviões desativados ocorrendo "com muita frequência e pouco controle", segundo funcionários.
Muitos passageiros do voo 2283, incluindo os pais de Eduarda e o filho e nora de Ari e Ercília, Hiáles e Daniela, não sabiam que viajariam pela Voepass. A empresa não vendia mais passagens diretamente, e os passageiros compravam da Latam, acreditando que voariam em jatos da Latam. A reserva apenas mencionava "operado por 2Z", o código internacional da Voepass, que passageiros comuns desconhecem. O nome "Voepass" aparecia discretamente no cartão de embarque.
Em nota, a Latam afirmou que informa o passageiro antes da compra sobre a empresa aérea e o modelo da aeronave, e que seu acordo de codeshare com a Voepass foi encerrado por iniciativa própria. A Voepass, por sua vez, declarou que sua frota sempre esteve apta a realizar voos, seguindo padrões de segurança internacionais e que confia no trabalho do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
As consequências do acidente são devastadoras para as famílias. Eduarda Hubner, que perdeu os pais, descreveu a perda da "função de filha" e como passou a ser o suporte para seus irmãos mais novos, de 21 e 12 anos, exercendo uma "função materna". Ari e Dona Ercília perderam o filho e a nora, que estavam "no auge da vida" e planejavam ter o primeiro filho em 2025.
Os parentes das vítimas formaram uma associação para buscar respostas e justiça. Eduarda afirma que um avião "não cai do nada" e que o acidente foi resultado de várias falhas, uma série de negligências que foram se acumulando e levaram a essa fatalidade. As famílias querem saber a verdade e que a justiça seja feita para que a situação não se repita com outras pessoas.
Não há previsão para a divulgação do relatório final do Cenipa, mas as famílias e ex-funcionários clamam por mais informações. O comandante Almeida, por exemplo, gostaria que o gravador de voz da cabine fosse divulgado. Por enquanto, somente os investigadores sabem o que realmente aconteceu nos últimos minutos do voo 2283 da Voepass. A empresa só foi definitivamente proibida de voar em 24 de junho deste ano, dez meses e meio após o acidente.
Leal | 04/08/2025 20:08:42
Pelo amor, né Folhamax??? ??CANABALIZANDO????? Deve haver um ?canabal? devorando os editores de vocês, né??
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