Opinião

Terça-Feira, 28 de Julho de 2020, 11h52

Gonçalo de Barros Neto

Escolhas...

Gonçalo de Barros Neto

 

Num mundo decadente quanto ao lugar de cada qual nas responsabilidades, ninguém assume as consequências dos próprios atos, a advertência de Sartre reivindica a tomada de consciência: ‘O homem está condenado a ser livre (...) uma vez jogado no mundo, ele é responsável por tudo que faz’ (O Existencialismo é um Humanismo).

Considerando que o ser humano se constrói, se inventa, ou seja, se determina no mundo, culpar os outros pelos fracassos e justificar o insucesso das próprias investidas numa percepção estrutural, de classe ou pessoal, talvez tenha como origem a fuga das responsabilidades. 

Se você faz de si uma eterna desculpa, a consequência será timidez e falta de audácia em enfrentar as estruturas psicológicas que te afugentam. Essa necessária coragem para enfrentar as vicissitudes da vida é a diferença básica entre vencer e perder. 

O medo do julgamento público tem uma censura efetiva, forte, no comportamento social. O perigo maior é quanto à carência de autenticidade, o despertar para o fato de que tal medo fez de você um mero reprodutor do modo de viver dos outros. A angústia por isso revela-se em tristeza e perda do sentido da vida.    

Por isso a cada vez maior importância para os tempos modernos das palavras do citado filósofo existencialista. Se não aceitas a liberdade que tens para fazer de si o que se tornarás, e que tal premissa antes de ser um permissivo é uma percepção do que é o processo da construção de uma pessoa enquanto está no mundo, uma mera constatação, jamais entenderás o propósito da própria existência (Existencialismo cristão). 

O eterno sentir-se angustiado por não poder determinar-se, ser autêntico, por medo dos julgamentos sociais, faz da pessoa, tormento, tristeza. Não há química no cérebro ou psiquiatra que resolva a situação. Ela não é conceitual, é de natureza. 

A falta de autenticidade é o grande problema existencial na atualidade. As coisas acontecem e as pessoas não sabem o porquê acontecem e o motivo pelo qual se encontram em dada situação. 

Se você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você (Nietzsche). O abismo, aqui, é a representação, o conceito social que acredita ter. A pessoa deve aprender a lidar com esse monstro, essa fobia de estar em efeméride pública. 

Apertar o botão do ‘que se danem os julgamentos sociais’ e abrir-se para a autenticidade é o caminho da felicidade que muitos procuram em consultórios profissionais e em livros de autoajuda. Não encontram, nunca encontrarão, pois, depende mais de enfrentamento e aceitação das próprias responsabilidades; e isso poucos querem. 

Assim, de um pequeno ‘existo’ até um formado ‘sou’, tudo, absolutamente tudo, deveu-se a alguém que foi condenado a ser livre; livre nas escolhas. Escolheu errado e continua a escolher errado, e agora culpa os outros e as ideologias...

É por aí...

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é graduado em Filosofia e Direito e da Academia Mato-Grossense de Magistrados.

 

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