Antes de qualquer coisa, é bom deixar claro: na época em que comecei, não existia essa palavra bonita marqueteiro. Nós éramos jornalistas, produtores, repórteres, comunicadores chamados para ajudar em campanhas. A gente entrava com uma câmera na mão, uma escuta treinada e uma sensibilidade que vinha da vivência. Fazíamos comunicação política sem dar esse nome porque sabíamos conectar a mensagem com o sentimento do povo. Sem pretensão de ser guru de ninguém. Éramos, talvez, os mensageiros de um tempo que ainda estava aprendendo a nomear as suas engrenagens.
Se hoje me chamam de marqueteiro, eu aceito com respeito. Mas o que sou, mesmo, é um homem com conhecimento político, experiência de campo, faro de comunicador e alma inquieta agora mais ainda, encantado com a inteligência artificial.
E é por isso que eu digo: a eleição de 2026 não vai parecer com nada que já vimos em Mato Grosso.
Não vai bastar ter carisma no palanque nem fala ensaiada na televisão. Não vai bastar ter jingles ou santinhos. Agora, os algoritmos também pedem voto. E, em silêncio, vão escolhendo quem sobe e quem desaparece nas telas do eleitor.
Em 2026, a comunicação política será hipersegmentada, emocionalmente calibrada, com vídeos milimetricamente desenhados para tocar a ferida ou inflar a esperança de cada grupo, cada bolha. Não haverá uma campanha única haverá dezenas de campanhas paralelas, cada uma ajustada ao perfil psicológico de quem assiste. Tudo ao mesmo tempo, e tudo parecendo orgânico, natural, espontâneo.
O que antes era trabalho de marqueteiro, agora é tarefa compartilhada com máquinas que sabem o humor do eleitor antes mesmo do próprio eleitor.
E Mato Grosso, com sua diversidade regional, será laboratório vivo dessa nova engrenagem. O eleitor do Araguaia não verá o mesmo vídeo que o eleitor da Baixada. O jovem de Rondonópolis será impactado de forma diferente do produtor rural do norte. O que une essas estratégias é que nenhuma delas vai parecer estratégia.
Influenciadores, perfis segmentados, redes cruzadas. Os bastidores estão mudando. Mas a essência, não: a boa comunicação ainda é a que toca o humano. A diferença é que agora isso será feito com dados, previsões e inteligência sintética e não mais apenas com a sensibilidade do comunicador.
Digo isso com a humildade de quem participou de mais de 90% das campanhas eleitorais de Mato Grosso nas últimas décadas. Vi esse estado se formar politicamente. Vi nomes nascerem das ruas, do rádio, da televisão, das feiras e das igrejas. E agora, vejo novos nomes surgirem direto do digital, do streaming, da inteligência artificial.
Por isso, mais do que nunca, precisamos refletir sobre o que está em jogo. Não basta saber o que será dito. É preciso entender quem está dizendo, por quê, e para quê.
2026 está logo ali. E quem quiser falar do futuro, precisa ter vivido de verdade o passado.
Por José Motta – jornalista, diretor de fotografia, produtor cultural e consultor de comunicação
Gerson
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