Quarta-Feira, 16 de Abril de 2014, 10h03
Gabriel Novis Neves
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Gabriel Novis Neves
Quando mais jovem até que eu gostava de fazer muitas coisas. Hoje, com o físico vencido pela idade, tive que abdicar de algumas delas. Cito dois exemplos: jogar futebol e fazer caminhada.
Da falta do futebol não me ressinto muito, mas, das caminhadas! Ah, dessas sinto enormes saudades!
Sentia-me muito bem caminhando pelas ruas de Cuiabá liberando minhas endorfinas. Mas, fui traído por lesões espontâneas dos meus meniscos.
Durante as caminhadas me desligava de tudo que me trazia desprazer e me focava somente no prazer que sentia ao observar o que o dia chegante estava trazendo de belo.
Encantava-me o sapatinho de salto alto esquecido na calçada ou o guarda-chuva aberto e abandonado no asfalto. Minha mente elaborava mil e uma histórias para aqueles objetos.
O canto e namoro dos pássaros em seus voos rasantes; as árvores floridas; o cão vadio e amigo; o vai e vem de gente apressada; o menino indo para a escola; o velho sentado no banco da praça observando o infinito – essas e outras tantas outras coisas também me encantavam.
Caminhava com minha máquina a tiracolo e fotografava cada achado ou fato interessante que, mais tarde, se transformavam numa história fantasiosa.
E os altos papos com os praticantes deste esporte democrático? Os parceiros variavam e pertenciam a todas as classes sociais.
Ouvia desde confissões de fracassos amorosos a segredos do governador do Estado.
Existia uma ética entre os caminhantes – a ética do sigilo dos desabafos.
Como médico, era muito solicitado a “tirar certas dúvidas” íntimas, tudo dentro do maior respeito que as ruas merecem.
Agora, tem uma lista de coisas que deixei de fazer por puro desprazer e outras que nunca fiz mesmo.
Enjoei, principalmente, das reuniões sociais e conversas políticas, mas não da política em si, que é um exercício da cidadania.
Nunca consegui assistir novelas, seriados ou outros entretenimentos ofertados pela televisão de baixo poder cultural que possuímos. Em alguma época, até me interessava por alguns programas esportivos.
Ultimamente, sinto-me até nauseado assistindo certas partidas de futebol, e não gosto de ver o Botafogo perder, fato este muito frequente.
Cheguei a tal estado de saturação que tive receio de um dia enjoar de viver, mas, para meu consolo, descobri recentemente que “desse mal não morro”, usando uma expressão bem cuiabana.
Pelas limitações que a idade me impôs, senti o quão prazeroso é o hábito de escrever e publicar textos despretensiosos sem obrigatoriedade e, muito menos, pensando em recompensas materiais.
Foi a maneira lúdica de expor minhas fantasias neste meu outono da vida.
Muitos não entendem essa minha forma de brincar com o tempo e com as palavras. No entanto, muitos outros se identificam com as minhas “viagens”.
Para esses descobridores dos meus desejos, ofereço parceria nesse exercício intelectual e vivencial.
Tenho certeza que não deixarei de gostar das coisas belas da vida, pois isso é felicidade.
Sou um privilegiado.
*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT
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