Sexta-Feira, 05 de Abril de 2019, 08h43
Nara Assis
Já tomou sua dose de “não” hoje?
Nara Assis
Ninguém gosta de receber um “não”. Frustração é um sentimento difícil de lidar, às vezes machuca, causa irritação, incomoda. E exatamente por isso é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Se estivermos confortáveis, seguros, não há como aprendermos a administrar as adversidades e superá-las. Passar por frustrações é um incentivo que leva a ações conscientes, e este aprendizado começa ainda quando somos bebês.
Certamente, você já presenciou o “show” de alguma criança contrariada no supermercado, no parque, no meio da rua. As novas gerações têm cada vez mais dificuldades em ouvir não, em compreender isso como algo natural e que a vida segue. Não é preciso ser PHd no assunto para entender as consequências de não trabalhar isso ainda na infância: criam-se pequenos imperadores, que não aceitam limites e têm dificuldades de seguir regras.
Não falo do cumprimento de normas básicas, como não virar à direita quando a placa determina seguir o sentido oposto – embora sejam muito importantes, vale ressaltar – mas dos conflitos psicológicos gerados por estas atitudes. Quem sempre ouviu sim dificilmente reage bem ao primeiro não, e os próximos tendem a ser ainda piores. Quem sempre ouviu sim também tem dificuldade em falar não. As pessoas que conheço com este perfil esquivam-se da responsabilidade de negar qualquer pedido. Ou a repassam para um terceiro ou simplesmente cedem, mesmo não querendo ou não podendo.
Aceitar o não significa também respeitar o limite do próximo, a vontade do outro. Atitudes tão simples, mas cada vez mais raras, que refletem sobremaneira nos relacionamentos pessoais, amorosos e profissionais. Como se colocar no lugar do outro sem ter esse discernimento? Como compreender e até mesmo oferecer ajuda quando não se admite estar errado? Empatia é um exercício necessário que nos exige desconstruir pensamentos, admitir erros e respeitar o ser humano, independente de quem seja.
Não é não. Ninguém disse que seria agradável ouvir vários ao longo da vida, mas aprender a lidar com cada um deles é fundamental para a saúde dos relacionamentos. Especialmente em um país no qual morrem tantas mulheres, todos os dias, ano após ano. Este recorte aqui é necessário porque, segundo o Mapa da Violência 2015, dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares das vítimas. Além disso, em 33,2% do total dos casos o autor do crime foi parceiro ou ex-parceiro da vítima, o equivalente a quatro feminicídios por dia.
São casos e situações em que mulheres foram vítimas do machismo, da cultura que cria homens agressivos, que são admirados pela força e incansavelmente incentivados a ocuparem posição de liderança em todos os espaços, inclusive dentro de casa. Além da imposição de autoridade, há o sentimento de posse, entre outras raízes machistas, como o entendimento de que as tarefas domésticas e a criação dos filhos cabem apenas às mulheres. Numa reprodução sistemática, estes conceitos passam de geração a geração, de pais para filhos.
Mudar isso requer um esforço constante, mas que só é possível quando reconhecemos nosso papel nesta construção cultural, seja como pai, mãe, filho, irmão, amigo, etc. Aprender a dizer e ouvir “não” é um bom começo.
*Nara Assis é jornalista e servidora pública estadual
Edmar Roberto Prandini | 05/04/2019 09:09:33
Quando há uma pergunta sobre uma questão cuja resposta depende exclusivamente da vontade ou desejo do inquirido, então, caso este apresente o "não", há obrigação de sua aceitação. Todavia, quando a pergunta lida com conteúdos lógicos ou informações de conhecimento adquirido, nem sempre o "não" é aceitável, porque pode representar uma contradição no argumento ou uma inverdade, pelo distanciamento entre a afirmação do inquirido e os fatos a que se referem. E, se o "não", por seu lado, deriva exclusivamente do fato de que o que se nega é a pessoa que interroga ao invés do conteúdo de seu questionamento, o não é inaceitável, porque o que está havendo é a discriminação contra a pessoa, de tal modo que se o questionamento viesse de outrém, a resposta poderia ser afirmativa. O "não" não é tão simples, nem tão autônomo: há que se compreender suas razões. Não são apenas as afirmações que precisam ter suas razões explicadas: mais do que elas, o não. "Não, não!", quase nunca é aceitável. Diálogo não se estabelece pelos vetos, mas pelos esclarecimentos e exposição dos motivos.
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