Opinião

Quarta-Feira, 19 de Junho de 2019, 08h55

Renato Nery

Os ofícios

Renato Nery

 

Cada profissão é um ofício onde produz um resultado. O agricultor, planta e ele mesmo colhe. O médico e o encanador são senhores do desfecho de seus trabalhos. A excelência do resultado, nessas profissões, é fruto de uma tarefa pessoal de causa e efeito. 

Quando se for escolher uma profissão é preciso que  avalie se nela vai ser responsável direto pelo e de qual resultado. Caso contrário estará embarcando numa empreitada onde o desfecho depende  da boa ou má vontade de muitas outras pessoas e pode não ser o esperado. 

Vou apenas ficar em uma delas pela qual eu dediquei a maior parte da minha vida: a advocacia. O que é essa profissão? É um subir e descer ladeira initerruptamente. Ninguém lhe dá açúcar, cada cliente lhe leva uma pitada (uma saca) de sal. O cliente desaba os problemas em cima do seu patrono e vai para casa aguardar o resultado e este vai queimar a pestanas a procura de uma solução. E quando ele acha que encontrou a solução, vai à procura da máquina judiciária que lhe dará futuramente a resposta. Esta resposta nem sempre é a desejada, pois cada cabeça uma sentença. Cada juiz um teorema de decifração futura e incerta. Os julgamentos apertados, por maioria simples, e a mudança de entendimentos constantes da Corte Suprema dão conta da insegurança a que é submetida a comunidade e do aumento exponencial do drama de milhares de advogados.  Dorme com um barulho destes!

E muita gente ainda acha que a advocacia é a profissão dos sonhos. Quem tem problemas dorme a acorda com eles! E se a sua profissão é de resolver contendas alheias, cuide por que é um candidato à pressão alta, diabetes e tantos outros males crônicos que ronda a vida contemporânea. E o estresse reiterado é um veneno para o sono e para os nervos!

O sucesso não depende da profissão, mas da aptidão, do talento e da competência do profissional. Afirmar que esta ou aquela profissão dá dinheiro e fama é uma falácia! Não vá por aí que poderá ser o caminho de um rotundo fracasso.

Encerro este texto com um trecho do livro que estou lendo – Até Prova Em Contrario de Gallatin Warfield – Editora Record 1993 – pag. 44: “Essa era a parte mais frustrante do exercício da advocacia: o fato de que os resultados sempre dependiam dos outros. Os juízes  e jurados ficam com as cartas que deveriam jogar e quais deveriam ser descartadas. Não era assim com os médicos e os encanadores. Todas as correções eram sempre por procuração. Podiam exultar por uma sentença vitoriosa, mas lá no fundo sempre existia a dúvida sobre quanto crédito mereciam”.  

Renato Gomes Nery. E-mail – rgenery@terra.com.br

 

Comentários (1)

  • Citizenship |  19/06/2019 16:04:56

    1. Depende do médico o desfecho da sua atividade? Parece-me equivocada essa afirmação. 2. O advogado confunde sua atividade com o resultado vitorioso ou derrotado da sentença judicial? Então, um criminoso confesso cuja culpabilidade estivesse sobejamente demonstrada pela investigação e inquérito não encontraria defensor. Não parece que seja a deontologia da advocacia. 3. Será que não se faz interessante revisar o escopo das atividades e profissões, além da ética profissional?

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