Polícia

Terça-Feira, 22 de Julho de 2025, 17h15

CRIME INSANO

Tia destaca dor após 4 meses do assassinato de grávida

Advogada quer pena máxima para a assassina

MARIANA LENZ

GAZETA DIGITAL

 

“São 4 meses da ausência da Emelly, a saudade aperta cada dia que passa, a mãe dela tem oscilações de emoção pela falta da filha e, ao mesmo tempo, é confortada pela presença da neta. Graças a Deus a bebê está bem, está conosco, lembra muito ela, está cada dia mais parecida com ela, mas a gente sabe que não tem como substituí-la. Temos esperança que a justiça seja feita”, é como Neuza Peixoto de Azevedo, 55, tia da jovem Emelly Beatriz Azevedo Sena, 16, descreve a dor da perda da sobrinha e se apega às boas lembranças da adolescente quando ainda estava viva.

Emelly foi assassinada no dia 12 de março deste ano e teve o bebê arrancado de seu ventre ainda viva. Depois, ela foi enterrada no quintal da casa do irmão de Nataly Helen Martins Pereira, autora confessa do crime brutal. A mulher passou meses fingindo estar grávida e matou a menor para roubar a criança.

Em entrevista ao GD, a tia de Emelly relata o contraste entre a dor da perda da sobrinha e a esperança pela vida que agora sopra na pequena Liara, nome que a jovem já havia escolhido para a neném.

Segundo Neuza, a família vive um misto de emoções. A mãe da jovem segue sem condições de falar publicamente sobre o assunto, ainda muito abalada. De acordo com ela, o pai da neném, viúvo de Emelly, mudou-se para a casa dos sogros para ter mais contato com a pequena. Apesar de tudo, a criança está bem e cresce saudável.

Ela conta que a pequena Liara foi uma criança muito desejada pelos pais e Emelly estava na expectativa de ser mãe, já havia arrumado quartinho, berço e se preparava para a chegada da neném, tão amada que chegou a ter dois chás de bebê, um da família paterna e outro da materna.

“Ela estava muito empolgada, mas infelizmente esse sonho foi barrado pela atrocidade que aconteceu com ela, um crime bárbaro”, lamenta.

A tia cita que a sobrinha já tinha pedido a licença maternidade para deixar temporariamente a escola e se dedicar mais intensamente à chegada da bebê. Descrita como alegre, otimista e sonhadora, Neuza conta que a adolescente tinha o sonho de ser atriz e já havia ido até Brasília, com colegas de escola, para participar de concurso de teatro em que apresentaram uma peça sobre cuidados com o meio ambiente, mas nos últimos tempos sonhava em ser advogada.

“Ela era uma boa filha, uma pessoa simples, humilde, brincalhona e tinha uma alegria que emanava dela. Eu sempre estive presente na vida dela, ela morava próxima a mim, eu cuidava dela, levava na igreja, passeávamos, sempre uma alegria contagiante. Sentimos falta da presença dela, tínhamos muita proximidade e convívio”, descreve.

Dentre as lembranças que mais marcaram a tia foi quando a sobrinha participou de seu casamento como dama de honra, por volta dos 8 anos de idade. “Ela entrando como noivinha, feliz, sorridente, brincando, tirando sarro com o primo, essa lembrança me marcou dentre as muitas que tivemos”, diz.

Para a família a esperança na celeridade da Justiça e a fé em Deus tem sido o amparo para os dias com o vazio da saudade. 

Julgamento da acusada

Segundo a advogada Joseilde Soares Caldeira, a morte de Emelly, enquanto feminicídio, está relacionada ao gênero da jovem, assassinada por ser mulher e gestante, tendo sido atraída para a emboscada em razão da gravidez. “Ela foi atraída para a morte pelo estado gestacional, então tem que ser uma punição que seja proporcional ao fato, até mesmo a pena máxima para que o Estado não se depare com outras situações como esta”, enfatiza.

Joseilde cita que a família e a defesa avaliam que o caso vem sendo tratado com celeridade pelas autoridades desde os primeiros atendimentos no hospital, flagrante, investigação e o andamento do processo no Judiciário. Encerrada a primeira fase, agora crê que o crime terá uma resposta definitiva. 

“A Justiça de Mato Grosso é muito competente. O caso é de extrema gravidade e o que a família e a sociedade esperam é pela Justiça na proporção das leis que temos hoje no Brasil”, conclui.

Na última sexta-feira (18), a Justiça acolheu denúncia da 27ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital e decidiu que a Nataly Helen Martins Pereira será julgada pelo Tribunal do Júri pelos crimes de feminicídio qualificado e outros 7 delitos conexos. 

Além do feminicídio, ela foi pronunciada pelos crimes de: tentativa de aborto sem consentimento da gestante; ocultação de cadáver; subtração de criança para colocação em lar substituto; parto suposto; fraude processual; falsificação de documento particular; e uso de documento falso.

Contudo, até o momento não há data para o julgamento e a defesa da acusada ainda pode recorrer.

O crime

Segundo a denúncia do Ministério Público, Nataly atraiu a adolescente Emelly Beatriz Azevedo Sena, 16, e em fase final de gestação, até sua residência no bairro Jardim Florianópolis, sob o pretexto de doar roupas de bebê no dia 12 de março deste ano.

No local, a acusada imobilizou a jovem com um golpe de“mata-leão”, amarrou seus membros, colocou sacos plásticos em sua cabeça e abriu a barriga da vítima para retirar o bebê ainda com vida. A menor morreu em decorrência de choque hemorrágico, conforme laudo pericial.

O corpo foi enterrado nos fundos da casa da do irmão da acusada, que posteriormente se apresentou em um hospital alegando ter dado à luz em casa, utilizando documentos falsos para sustentar a versão. Médicos desconfiaram da ausência de leite, hormônios e outros indícios de gravidez na mulher e acionaram a polícia. Ela foi presa no mesmo dia.

Confira também: Veja Todas