Câmeras de segurança registraram o momento em que policiais militares de Brasnorte simularam uma espécie de perseguição “fake” aos bandidos que assaltaram uma agência do Banco Sicredi no município (a 571 km de Cuiabá), no dia 31 de julho.

Os policiais investigados por facilitar a fuga do bando foram identificados como os cabos Anderson de Amaral Rodrigues e Alan Carvalho da Silva. Amaral recebe um salário de R$ 11,8 mil e Alan, R$ 12,4 mil. 

O vídeo mostra os bandidos fugindo em uma Hilux de cor prata que havia sido roubada no dia 28 de julho durante um assalto a um idoso e, logo atrás, aparece uma viatura da PM. Os dois veículos estão em alta velocidade, mas ninguém foi preso pela PM naquela ocasião.

De acordo com os autos, Gabriele Costa Tavares, esposa de um dos criminosos presos, afirmou em depoimento que seu marido teria feito um acordo com os policiais militares. Eles receberiam uma quantia em dinheiro para “fazer vista grossa”, atrasar a resposta à ocorrência e dificultar o trabalho das forças de segurança, inclusive fornecendo informações que ajudariam a quadrilha.

Segundo o relato, os dois policiais, que estavam de plantão no dia do crime, também teriam a função de simular um confronto, com disparos de arma de fogo, durante o assalto — o que demonstra a gravidade concreta dos fatos. 

O crime

Durante coletiva de imprensa, o delegado Sued Dias Júnior informou que, até o momento, 14 pessoas foram presas, sendo que 12 têm envolvimento direto no crime. Entre os detidos, estão os dois policiais militares suspeitos de participação no roubo à agência do Sicredi.

As investigações apontaram que empresários faziam parte da rede de apoio que garantiu logística, fuga e ocultação dos autores diretos do roubo. Um deles, por exemplo, cedeu o próprio estabelecimento comercial para que o grupo se escondesse e realizasse a divisão do dinheiro logo após o crime. Dois ou três deles eram empresários locais de Brasnorte que resolveram se aventurar nesse roubo mal-sucedido”, explicou o delegado.

Ainda segundo ele, o crime foi planejado com pelo menos 20 dias de antecedência. Os criminosos utilizaram três veículos, incluindo a Hilux roubada, que ficou escondida por um dia em uma área de mata.  Quatro homens armados invadiram a agência por volta das 14h de quinta-feira (31), fizeram reféns e fugiram em direção a Juína (735 km ao noroeste). Durante o trajeto, dois reféns foram liberados — um a cerca de 3 km de Brasnorte e outro a quase 10 km.

Os criminosos, porém, não deixaram a cidade. Após o crime, contaram com a ajuda dos empresários para se esconder e dividir o dinheiro. A quantia levada ainda não foi divulgada.

Parte do grupo foi presa em Vilhena (RO) na madrugada de sábado (2 de agosto), durante uma operação integrada. No local estavam dois dos autores diretos do assalto, o motorista do HB20 e mais dois homens ligados à fuga.

Outros dois irmãos, que também auxiliaram o bando, foram detidos: um deles, recepcionista de hotel, hospedou os criminosos; o outro, mecânico, escondeu o carro usado na fuga na oficina do pai. Em Brasnorte, a Polícia Militar realizou mais quatro prisões, incluindo dois suspeitos de participação direta na invasão da agência e o motorista do carro clonado usado no roubo da Hilux.

A Polícia Civil já solicitou o bloqueio das contas bancárias dos envolvidos e a quebra de sigilo bancário. Há indícios de que parte do dinheiro tenha sido depositada em contas de terceiros. O valor total ainda não foi informado oficialmente, mas, segundo os investigadores, o objetivo dos empresários era enriquecimento pessoal.