Política

Quarta-Feira, 21 de Maio de 2025, 22h10

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TCE "mira" 40 empresas que emprestam para servidores de MT

Hoje, servidores comprometem em média 60% dos salários com empréstimos

Da Redação

 

O presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT), conselheiro Sérgio Ricardo, anunciou nesta quarta-feira a instalação de uma mesa técnica para discutir o superendividamento do funcionalismo público estadual. O encontro será realizado na próxima segunda-feira (26), às 14h30, no auditório da Escola Superior de Contas, com a presença de deputados, representantes do Governo do Estado e sindicatos.

“Quando o cidadão chega a ter 99% do seu salário comprometido, quando o aposentado trabalhou a vida inteira e está recebendo R$ 14,67 pelos próximos 10 anos, a situação chegou ao estado de insustentabilidade. É inadmissível. Então, o que se busca não é culpar ninguém, não é penitenciar ninguém. É salvar o servidor público da situação em que ele se encontra hoje, porque não tem mais para onde ir”, afirmou Sérgio Ricardo.

O tema já vem sendo tratado pelo presidente, que, na sessão ordinária de terça-feira (20), aprovou a sugestão da mesa técnica apresentada pelo vice-presidente, conselheiro Guilherme Antonio Maluf. A iniciativa foi motivada por uma série de denúncias de irregularidades na cobrança de empréstimos consignados, que comprometem até 60% da remuneração dos servidores.

Sérgio Ricardo lembrou ainda que o Tribunal solicitou ao Governo do Estado, por meio da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), um relatório detalhado sobre os empréstimos consignados, que já foi entregue pelo Executivo. “Solicitamos o nome completo de cada servidor, o número de servidores com consignados, o valor total desses empréstimos, quanto cada um paga por mês e quantas empresas estão operando. Já recebemos esse relatório, que tem mais de 4 mil páginas, e estamos estudando os dados para discutir com profundidade”, disse.

Ao propor a mesa técnica, Maluf destacou que o Estado só pode descontar até 35% do salário para cobrir as parcelas contratadas e que as denúncias incluem descumprimento dessa norma prevista na legislação, além da existência de contratos sem assinatura e ausência de canais formais de reclamação. Ele também chamou atenção para a oferta agressiva de crédito por parte das financeiras. “São quase 40 instituições ofertando crédito e o servidor muitas vezes não sabe nem quanto deve, quando contratou ou qual foi a taxa de juros. A pessoa endividada perde o controle da vida financeira, não sabe mais para onde recorrer, entra em desespero”, afirmou.

Diante disso, a mesa técnica  buscará uma solução consensual para a o problema. “O que vem acontecendo hoje é uma situação de descontrole que está sendo ignorada há anos, e que precisa ser enfrentada com responsabilidade. O objetivo da mesa é criar normas claras, garantir educação financeira aos servidores e estabelecer mecanismos que coíbam os abusos que estão sendo cometidos hoje”, pontuou Maluf.

Durante o debate, o conselheiro Waldir Teis sugeriu que a mesa avalie o uso dos fundos previdenciários como alternativa ao crédito convencional, com juros mais baixos. “É uma alternativa interessante, porque, nesse caso, o servidor estaria emprestando para si mesmo, dentro de um sistema mais transparente e com retorno para o próprio fundo. A mesa técnica pode estudar esse modelo e avaliar sua viabilidade aqui em Mato Grosso.”

Já o conselheiro Valter Albano, que preside a Comissão Permanente de Normas, Jurisprudência e Consensualismo (CPNJur), responsável pelas mesas técnicas, alertou para o impacto direto sobre aposentados e pensionistas, que muitas vezes são induzidos a contratar sem compreender as condições. “Essa é uma situação gravíssima. Tem casos em que o pensionista contratou a operação com um clique, o dinheiro entrou na conta e depois que o valor foi depositado, ele não sabia nem explicar como aquilo tinha ocorrido”, afirmou.

A estrutura da mesa técnica deverá contar com a participação de entidades bancárias, Assembleia Legislativa (ALMT), Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), entidades sindicais e instituições financeiras credenciadas. O objetivo é que, a partir do consenso, seja possível propor mecanismos de controle e orientação para os entes públicos, com foco na fiscalização preventiva.

Comentários (8)

  • Edmar Roberto Prandini |  22/05/2025 09:09:16

    Fundos previdenciários não podem ser usados como funding para empréstimos porque a legislação brasileira não permite essa utilização. Os descontos previdenciários dos servidores públicos devem necessariamente ser encaminhados para a MTPrev, responsável pelos pagamentos de pensões e aposentadorias, sendo sabido que a arrecadação proveniente dos descontos previdenciários diretamente dos servidores é inferior às necessidades, sendo a parte faltante coberta pelo Tesouro Estadual. Ao contrário de outros países, os fundos previdenciários, no Brasil, não possuem caráter mutualístico, sendo, portanto, proibida sua utilização como recursos para empréstimos aos seus destinatários. A única forma de reduzir o superendividamento daqueles servidores que confiaram nos "benefícios" das empresas que consignaram partes maiores do que os 35% autorizados em lei para as folhas de pagamento é cancelar novas operações dessa modalidade, promover uma renegociação das dívidas atuais, mediante novos contratos (contratos verdadeiros, consentidos e formalmente assinados) e melhorar os salários com a reposição dos valores inflacionários retidos entre 2019 e 2020.

  • Eugène Terre'Blanche |  22/05/2025 08:08:42

    Não foi esse caboclo aí que tava com Riva, Silval e Eder Moraes lá em Porto, Portugal tudo alegrinhos andando de VLT? Doidos pra ver quanto ganhariam só para mudar o modal?

  • adelino |  22/05/2025 08:08:38

    Vamos ver esse mesmo filme com o consignado dos funcionários privados, atrelado ao fgts, vendem ilusões entregam terror

  • Lodomiro Caetano  |  22/05/2025 06:06:57

    Esse curte um holofote. Vai de portão do inferno a servidor público. Mais um pouco é será o salvador de todos os problemas da nação brasileira. M poupe!

  • Gótico Realista  |  22/05/2025 06:06:02

    Lembro deste sr dentro do VLT com Riva, Silval e Eder Moraes. Eram só sorrisos e abraços.

  • Observador Atento aos Movimentos  |  22/05/2025 01:01:31

    Tá muito estranha essa super exposição desse senhor. Vem coisa aí... Fiquem atentos!

  • OLIVIO NETO  |  21/05/2025 23:11:57

    QUE É ISSO HEIN !? UM DOS PAIS DO VLT DEFENDENDO OS SERVIDORES ???? ELEIÇÃO Tà BEM Aà MESMO !!!! CUIDADO COLEGAS

  • João  |  21/05/2025 22:10:21

    Será que as suas excelências estão querendo exercer a função de "babá de servidor"??? É essa a função institucional do TCE?? Ou seria a aproximação do período eleitoral que norteia essa ação de tutelar??

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