No campo, a gente aprende a medir o tempo pelas safras. Mas existem heranças que não cabem no calendário. Elas surgem em um conselho lembrado na hora exata, um gesto repetido no trabalho diário, em uma presença que continua guiando, mesmo depois da despedida. Entre os associados da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), muitos filhos percorrem hoje estradas abertas por seus pais e, com coragem, fé e responsabilidade, seguem escrevendo histórias que começaram muito antes deles.
Foi assim com o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, filho de Vitélio Costa Beber, que chegou a Mato Grosso quando Nova Mutum ainda dava seus primeiros passos. Na memória do filho, vive um jeito de encarar o trabalho que se misturava ao cuidado com a família, um ritmo firme que ensinava pelo exemplo e que, com o tempo, virou bússola para as decisões de hoje.
“Meu pai foi uma pessoa que o hobby dele era trabalhar. Era incrível, não tinha sábado e nem domingo. E ele nos criou dessa maneira, eu e meus irmãos. Mas, ele sempre teve um cuidado pela família. Italiano, daqueles nervosos que podia ter as coisas dele, mas sempre quis o melhor para a família. Ele foi lutador.”
Vitélio partiu em 2021, aos 77 anos, deixando aos filhos princípios simples e inegociáveis. Lucas, o caçula, guarda esses ensinamentos como quem carrega uma ferramenta indispensável, sempre à mão quando é hora de escolher o caminho.
“Meu pai sempre falava: se um dia você achar que está tirando um real de alguém, dê mil reais, mas não tire nada que seja de ninguém. Ele sempre trabalhou, sempre foi honesto, e passou isso para nós. Deu essa determinação e talvez toda essa cobrança que ele teve comigo na vida, de fato, também me ajudou hoje a estar liderando dentro da nossa entidade. Muita coisa veio dele. Algumas a gente aprende com a vida, com a convivência, mas muita coisa ele passou. Ele foi um ótimo pai.”
Algumas conquistas, no entanto, chegam acompanhadas do silêncio da saudade, alegrias que pedem um abraço que já não é possível. Na presidência da entidade, Lucas sente essa ausência, mas mantém a certeza do orgulho que teria recebido.
“Quando eu pude me tornar presidente, ele não pôde ver. Mas, eu tenho certeza que se ele tivesse, teria apoiado e estaria orgulhoso também”, afirma.
A mesma força atravessa a história dos irmãos Charlles Hoffmann e Ivan Hoffmann, filhos de Jenio Luiz Hoffmann, que, com paciência e humildade, recomeçou do zero para criar raízes na agricultura e deixou aos filhos uma missão clara.
“Ele sempre foi muito trabalhador e, desde que nasceu dessa forma, teve o propósito de deixar um legado para que pudéssemos dar continuidade e, como se diz, virar a chave. Essa foi a sua missão”, destaca Charlles Hoffmann.
“Eu nunca conheci alguém com a paciência que ele tinha para ensinar. Sempre dizia: ‘Se você não aprender no amor, vai ter que aprender na dor.’ E, mesmo quando errava, tinha a humildade de pedir desculpas e sempre se colocava no nosso lugar. É isso que mais guardo dele”, conta Charlles, com emoção e saudade.
Após enfrentar muitos desafios, Jenio faleceu em 2024, deixando lições que moldaram o caráter e o trabalho dos filhos. Ivan recorda um dos valores mais preciosos que herdou.
“Nunca me esqueço do que meu pai me disse, ensinamento que ele recebeu da mãe dele: nunca faça ao próximo o que você não gostaria que fizessem com você. Para ele, isso era uma lei. Em qualquer negócio ou situação, sempre agia assim tratava os outros como gostaria de ser tratado. Também nos ensinou a sermos honrados em tudo. Tenho muito orgulho disso e pretendo passar esse valor para os meus filhos”, conta Ivan Hoffmann.
Com a voz embargada, Ivan deixa um recado a quem ainda pode abraçar o pai. “Graças a Deus, tive a oportunidade de viver muitos momentos ao lado do meu pai tanto os bons quanto os difíceis e acredito que até as situações mais duras serviram para nos unir ainda mais. Sinto que ele partiu com a missão cumprida. Para quem ainda tem seu pai, procure passar o máximo de tempo possível ao lado dele. Dê atenção, carinho. Mesmo na correria, passe em casa antes do trabalho, dê um beijo, um abraço e diga eu te amo. O resto não importa. Nos preocupamos demais com os problemas do dia a dia e, no fim, percebemos que o que realmente fica são os momentos que vivemos juntos.”
Para Charlles, a lembrança também tem som: o riso que quebrava a seriedade e aquecia o dia. “Eu achava muito bonita a risada dele, porque ao mesmo tempo que ele estava sério, estava bravo, quando ele soltava sua risada, era quando eu ficava feliz junto com ele.”
Hoje, Lucas Costa Beber, pai de Luis e João; Charlles Hoffmann, pai de Bernardo; e Ivan Hoffmann, pai de Heitor e Giovanna, seguem o legado recebido, educando com amor e formando uma nova geração.
Neste Dia dos Pais, a Aprosoja Mato Grosso homenageia todos os pais, os que já se foram e deixaram um legado vivo, e os que, no presente, constroem com amor histórias que marcam nossas vidas. Que o exemplo de cada um siga inspirando novas gerações e fortalecendo a agricultura de Mato Grosso.