Médicos da rede municipal de Cuiabá ameaçam pedir demissão coletiva na próxima semana, após o feriado prolongado, em virtude, segundo eles, de uma redução salarial de R$ 1.2 mil na premiação que recebiam. Hoje são cerca de 130 médicos que atuam nas policlínicas, Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Morada do Ouro e unidades do Programa de Saúde da Família (PSF). Desses, pelo menos 80 são contratados somando cerca de 70% do efetivo médico que atende a toda a rede municipal da Capital. De acordo com um médico ouvido pela reportagem, são esses contratados os principais atingidos pela redução e ameaçam se demitir e irem trabalhar na rede privada.
Os profissionais dizem que o prêmio do mês de março pago nesta quinta-feira (18) veio faltando R$ 1,2 mil e afirmam que o secretário municipal de saúde, Werley Silva Peres teria informado a um médico sobre a redução do prêmio para que ele informasse aos demais colegas. Assim, eles exigem que o valor seja restabelecido, caso contrário prometem pedir demissão. O médico da UPA Morada do Ouro ouvido pelo GD disse que as salas verdes (casos de consulta médicas, menos graves) já tiveram os trabalhos cortados. "Somente casos de urgência e emergência (sala vermelha) estão sendo realizados", disse ele.
Ele reconhece que o salário deles saiu de R$ 1,8 para 2,5 mil e que hoje estão recebendo os 40% de insalubridade como manda a lei. Explica que antes só recebiam 20%, apesar de a lei determinar 40%. "O nosso salário que era uma vergonha de R$ 1.8 mil foi elevado para R$ 2.5 mil, mas foi um aumento por lei e continua sendo baixo. Mas por outro lado, o secretário tirou R$ 1.2 mil do prêmio", afirma o médico.
De acordo com ele, cada plantão durante a semana saía por uma média de R$ 550 enquanto pelos plantões dos finais de semana o Município paga aproximadamente R$ 1 mil. Mas conta que esse valor dos plantões semanais também sofreu uma redução de pelo menos R$150, saindo agora por uma média de R$ 400. De acordo com um dos médicos que ameaçam demissão, essa redução já vinha sendo anunciada, no mês passado e o valor até chegou a ser descontado, mas já temendo a paralisação a secretaria realizou o pagamento do valor após 3 dias alegando que havia acontecido um erro. “Caso eles não paguem o valor exato, saíremos todos. Vai aumentar ainda mais o caos nas unidades de saúde de Cuiabá”, desabafa o profissional.
Segundo os médicos, "como trabalhar para a rede pública já é ruim devido aos baixos salários e as precárias condições de trabalho, com o corte da premiação seria ainda pior". Já que, segundo eles, a rede pública paga melhor e a procura por médicos é grande. De acordo com a Prefeitura, houve um reajuste salarial em março e com isso um médico em início de carreira passou a receber R$ 2,3 para contratado e R$ 3,5 mil para concursado do município de Cuiabá para uma jornada de 24 horas semanais. Sendo assim o salário bruto inicial pode chegar a R$ 7,5 mil para os contratados e R$ 9,1 mil para os concursados devido, somando aos prêmios que, segundo os profissionais agora foram cortados, ressaltando que esses incentivos só cabiam ao médico que cumprisse plantões semanais, sendo um de fim de semana por mês.
Conforme um dos médicos, houve uma reunião entre os profissionais e o secretário municipal de Saúde, Werley Silva Peres, para deixá-lo a par do descontentamento da categoria quanto ao corte da premiação, a diminuição do valor dos plantões e a respeito da possível demissão de todos os profissionais. O número de médicos que o Sistema Único de Saúde (SUS) possui para atender a população cuiabana já é pequeno, preocupação que deve aumentar durante a Copado Mundo. Semana passada a prefeitura de Cuiabá anunciou a contratação emergencial de 40 novos médicos, para o atendimento na UPA e policlínicas.
Os profissionais além de denunciarem a redução no prêmio, garantem que os cortes nem foram comunicados devidamente aos servidores. “O secretário fez o anúncio a um colega ontem pela manhã, e pediu que ele avisasse ao restante do pessoal, a atitude do secretário confirma o desinteresse quanto à situação dos médicos, a nossa maior preocupação é durante ao período da Copa do Mundo, que deve ser ainda mais crítico", finaliza um dos médicos entrevistados.
Outro Lado - A assessoria da secretaria municipal de Saúde informou que desconhece a situação e disse que estranha o fato, já que alega ter havido um reajuste salarial da categoria em março, com a aprovação do sindicato e o acompanhamento do Tribunal de justiça de mato Grosso (TJ-MT). "Casos isolados serão verificados pela Secretária após o feriado", disse a assessoria.
marinaldo
Domingo, 20 de Abril de 2014, 10h14