“O chamado que vem da boca Daquele que tudo criou pela força da palavra”. Esse é um dos significados do verbo latino “vocare”, vocação em português, e é como Amanda Dias, 30 anos, afirma que ela os três colegas empossados no cargo de defensores públicos nesta sexta-feira (18/10) se sentem diante da profissão que escolheram exercer: vocacionados.
Como oradora, com voz embargada pela emoção de finalmente concretizar um sonho, Amanda relatou a trajetória de sacrifícios, privações e a dedicação aos estudos - realidade comum aos quatro - a partir de suas experiências pessoais, para explicar o quão marcante é este dia para eles, suas famílias e para as pessoas que dependerão de seus serviços.
“Lembro-me como se fosse ontem do primeiro dia que sentei para estudar. Era o ano de 2013 e escolhi a escrivaninha do meu quarto, mas logo a secretária chegou para limpar e pediu que eu escolhesse outro cômodo. Optei então pela cozinha e logo ela apareceu e ligou a máquina de lavar roupas. O barulho era alto e me incomodava. Mas, com o passar dos dias eu comecei a entender que o barulho da máquina de lavar era muito pequeno, perto de todos aqueles que os meus pensamentos trariam durante essa trajetória de estudos. Um sonho, o sonho, isto é o que nos trouxe até aqui”, disse.
Amanda continuou afirmando que se não fosse o sonho de um dia se tornarem defensores públicos, não teriam chegado até o dia da posse. “O sonho nos motivou, é certo, mas Deus foi Deus que nos sustentou. À bem da verdade tenho certeza que antes desses sonhos serem nossos, esses sonhos eram de Deus. Que sorte a nossa, meus caros colegas, nós sonhamos o sonho de Deus. Mas, esse sonho não foi apenas nosso, tornaram-se sonhos de nossos pais, irmãos, avós, companheiros e companheiras”, continuou.
A defensora agradeceu a todos, lembrou dos apoios recebidos, afirmou que tiveram os passos guiados por Deus e que assim, pretendem seguir para a parte mais difícil da etapa: a que começa agora no trabalho efetivo, na busca de uma vida melhor para pessoas pobres, que mais precisam de auxílio.
“É chegada a hora de servirmos ao próximo. Quando o trabalhador está pronto, o trabalho aparece, pronto estamos e não tenho dúvidas que há muito trabalho pela frente. É certo que as desigualdades sociais são alarmantes e que os direitos fundamentais básicos para se garantir a vida digna faltam aos nossos assistidos. Porém, a partir do momento em que a eles é garantido um direito, todos os demais podem ser alcançados. Aquele que possui acesso a Justiça, possui acesso a qualquer outro direito, portanto, somos isso, somos o direito de acesso à Justiça”.
Antes da oradora da turma ler o discurso, o defensor público-geral, Clodoaldo Queiroz, deu posse à Marília Oliveira Martins, 28 anos, Tainah da Silva Teixeira de Oliveira, 29, Amanda Pereira Leite Dias, 30 e Murilo David Brito, 31. Eles assinaram o termo de posse e prestaram o juramento da carreira.
A cerimônia de posse foi no auditório da sede administrativa da Defensoria Pública de Mato Grosso, na 16ª reunião extraordinária do Conselho Superior da Defensoria Pública, em sessão solene.
Defensor Público-Geral – Clodoaldo Queiroz agradeceu a presença de todos e reconheceu especialmente a importância do trabalho do atual secretário-adjunto de Relações Políticas da Casa Civil, Carlos Brito, presente na cerimônia. Ele afirmou que Brito teve atuação constante, permanente e aguerrida na defesa da Defensoria Pública, desde sua criação, quando até membros do sistema de Justiça ignoravam o papel do defensor. “Fica aqui nosso agradecimento público por tudo que você fez pela Instituição. A população de Mato Grosso deve isso a você”.
Queiroz afirmou que teria muito a dizer, porém, que tentaria ser breve. Ele lembrou aos empossados que não estava em sua programação nomear novos defensores públicos este ano. Porém, que a garra deles, associada ao trabalho da Administração, tornou essa realidade possível.
“O fato de conversar com vocês, não pela pretensão de serem nomeados, mas em ver o quanto vocês queriam ser defensores públicos, me encheu de motivação e vontade de lutar. Vocês me passaram a certeza de que nasceram para isso. E isso me fez pensar que não poderia perder o prazo desse concurso e não ter vocês nessa função”.
Ele contou que durante o trabalho de campanha para as eleições de defensor-geral vivenciou uma história emocionante, que ilustra perfeitamente o que significa ser defensor público. Numa reunião com o ex-governador Pedro Taques, para falar sobre orçamento, ele foi interrompido pelo colega, Rogério Borges de Freitas (atual primeiro subdefensor-geral), que fez um pedido urgente ao chefe do Executivo.
“Ele pediu ao governador que fizesse uma ligação, pois com ela poderia salvar a vida de uma criança com câncer, que morreria, caso não fizesse uma cirurgia. Saímos de lá e tempos depois, visitando o município de Cláudia, o Rogério me chamou para apresentar o pai e a menina, para a qual, naquele dia, conseguimos o atendimento. Ela estava viva. Fez a cirurgia e estava se recuperando. Com essa história quero dizer a vocês que esse é o nosso poder, isso é ‘defensorar’. Temos que fazer audiências no Fórum, montar processos no gabinete, mas a nossa principal função é essa: salvar vidas”.
Governo – O secretário-adjunto de Relações Políticas da Casa Civil, Carlos Brito, esteve presente na posse representando o Governo e afirmou que a atual administração pretende estabelecer um “tempo novo” com a DPMT e que isso exigirá muito diálogo, reposicionamento de informações, com a intenção de “passar a limpo” a relação e fazer uma revisão histórica dela.
Ele lembrou que o Estado tem um juiz, um acusador e precisa de um defensor para que essa tríade que forma a composição do sistema de Justiça esteja em pé de igualdade.
“Os acolho, Marília, Murilo, Tainah, Amanda, sejam bem-vindos ao serviço público, assumindo uma função bastante específica e que se diferencia das outras. Participamos ativamente de várias conquistas para a consolidação legal e institucional da DPMT. Já se vão cinco governos que, de uma forma ou de outra, atuei em defesa do órgão. Queria muito ser defensor público, mas fiz outras opções, e diante disso, criei um título para mim mesmo, o de defensor da Defensoria. E onde estou a Defensoria tem uma voz em sua defesa”, garantiu.
A formalidade contou com a participação de todos os integrantes da Administração Superior, do corregedor-geral, Márcio Dorilêo, do representante do Governo, da presidente em exercício da Associação Mato-Grossense dos Defensores Públicos de Mato Grosso (Amdep), Odila dos Santos, da vice-presidente da Escola Superior da DPMT, Rosana Monteiro, do ouvidor-geral, Cristiano Preza e dos conselheiros: Fernanda Cícero, Sílvio de Santana, Erico da Silveira, Paulo Marquezini e Kelly Christina Otácio.
Papel especial - Para Kelly, os novos defensores terão a função de ser a último recurso, a última fronteira a ser atravessada até que uma pessoa desista de ter esperança.
“Estou aqui como conselheira e vou dar um conselho: sejam fortes, corajosos e resilientes, pois a partir de hoje vocês serão o último recurso de uma população carente, vocês serão a última tábua de salvação e por esse motivo, devem vibrar positividade, porque receberão pessoas sofridas, desesperançadas. E já que disseram que Deus os trouxe até aqui, nas horas difíceis, recorram a Ele, peçam o auxílio do Espírito Santo e acolham aqueles que nada têm”.
Família - Para os familiares dos defensores empossados o momento foi de grande emoção, orgulho e a sensação de conquista, dever cumprido. “Disse para minha filha, orgulhe-se de sua conquista, mas principalmente, valorize o caminho que trilhou para chegar até aqui. Pois foi com força, determinação, disciplina e foco que conseguiu. Foi deixando muito feriado, finais de semana, carnavais de lado, que ela chegou ao seu sonho. A entrego para Mato Grosso com a sensação de dever cumprido”, disse Romília Oliveira, mãe da fortalezense Marília.
No período da tarde os novos defensores já começam a participar do curso de formação, que vai do dia 18 a 31 de outubro, com várias atividades teóricas e práticas, para que tenham contato com a população e o trabalho que desenvolverão.