Com foco nos diretores, diretoras e professores escolares, a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT) participou nesta quinta e sexta-feira (29 e 30) do seminário “O Papel da Educação no Enfrentamento da Violência Contra a Mulher”, promovido pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
Representando a DPEMT, a defensora pública e coordenadora do Núcleo de Defesa das Mulheres, Rosana Leite Antunes de Barros, apresentou o painel temático “Redes Sociais – Algoritmos que Incentivam a Misoginia”, com o objetivo de alertar os educadores de que as crianças e os adolescentes são bombardeados diariamente nas redes sociais com conteúdos misóginos e que têm o poder de propagar ideias violentas contra as mulheres.
“Nosso objetivo é mostrar que a misoginia está presente em todos os lugares e nas redes sociais também, e como os algoritmos acabam fazendo com que essa misoginia possa ser crescente. Atualmente presenciamos o crescimento da misoginia, como por exemplo em alguns sites que trazem a masculinidade tóxica. Durante nossa palestra foi debatida a importância da educação no enfrentamento à violência contra as mulheres. Quando falamos sobre algoritmos, quando você faz uma pesquisa que envolve a violência contra as mulheres, ou passa a seguir uma página com conteúdo misógino, os jovens vão receber várias informações a respeito disso e vão acabar naturalizando essa situação”, conta Rosana Leite.
Misoginia é o nome dado ao ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres. Ela se manifesta em atitudes, piadas, insultos, discursos e também pela disseminação de ideias que colocam a mulher como ser inferior e/ou irracional, apenas para serviços domésticos, objeto sexual ou culpada por violências sofridas. Nas ideias misóginas, as mulheres não têm direitos iguais aos homens.
Além de alertar os educadores sobre as páginas com conteúdos violentos e com ideias tóxicas, a defensora também deu dicas de como os profissionais podem enfrentar o problema, indo desde a educação digital em sala de aula, até mesmo com denúncias, apoio a projetos legislativos que tratem sobre regulação de conteúdos violentos nas redes sociais, bem como o fomento de vozes femininas e antimisóginas.
“O machismo estrutural e a cultura que alimenta o patriarcalismo só podem ser vencidos com a educação. Não há outra forma. (...) Não apenas de forma transversal, mas como conteúdo fixo no currículo. Só assim poderemos, a médio e longo prazo, mudar essa realidade triste de sermos um dos estados com maior índice de feminicídio”, disse Rosana Leite.
O projeto com foco na prevenção e transformação social promovido pelo TJMT foi lançado na noite desta quinta-feira no Espaço Justiça, Cultura e Arte Desembargador Gervásio Leite e contou com palestra magna do desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, Cleones Seabra Carvalho Cunha. Nesta sexta-feira são realizadas diversas mesas temáticas com participações do TJMT, DPEMT, Segurança Pública Estadual e Ministério Público do Estado de Mato Grosso.
A iniciativa, que integra a Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher, busca aliar a força do Judiciário ao poder da Educação para atuar diretamente na base da sociedade, formando uma nova geração comprometida com a equidade, o respeito e os direitos humanos. O projeto é conduzido pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cemulher-MT) e envolve a capacitação de cerca de 130 diretores escolares, responsáveis por unidades de ensino das redes pública estadual e municipal.
A proposta inclui formação, ações pedagógicas e um concurso com foco no enfrentamento à violência de gênero, cuja premiação será realizada no dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Durante a solenidade de abertura, a coordenadora da Cemulher-MT e idealizadora do projeto, desembargadora Maria Erotides Kneip, destacou que o enfrentamento à violência contra a mulher deve começar na infância e envolver toda a comunidade escolar.
“Esse é um tema que precisamos enfrentar com coragem e só com iniciativas como esta conseguiremos transformar essa cultura que desqualifica a mulher e ignora seus direitos fundamentais”, afirmou.