Em declarações informais a agentes da Polícia Civil, a empresária Julinere Goulart Bentos teria assumido que chegou a ordenar o assassinato do advogado Renato Nery, mas depois recuou. Ela também afirmou sentir “muita raiva” do profissional, alegando que ele teria “tomado suas terras”.
Ela é casada com César Jorge Sechi, ambos de Primavera do Leste, e o casal é investigado como mandante do crime. Os relatos constam na decisão da juíza Edna Coutinho, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), e foram usados como fundamento para estender por mais 30 dias a prisão temporária dela e do marido.
Inicialmente, Julinere teria se mostrado disposta a colaborar com as investigações, mas, durante o depoimento formal, optou por permanecer em silêncio. A magistrada destacou, no entanto, que suas falas anteriores, ainda que informais, adquiriram “relevância quando confrontadas com os demais elementos investigativos”.
Além disso, em conversas com os policiais, a empresária fez afirmações “espontâneas e informais” que, para a juíza, “indicam o seu prévio conhecimento sobre a autoria do crime”. Entre os relatos, estaria a menção de que o marido “manifestava frequentemente intenções hostis contra a vítima Renato, aduzindo que tinha raiva dele, pois ‘teria tomado suas terras’”.
Julinere também teria acusado o jornalista Claudio Natal de tentativa de extorsão, alegando que ele pediu dinheiro em troca de não denunciá-la à polícia. Sobre o caso, a juíza ponderou que Julinere não sofreria extorsão se não tivesse participação no crime.
A prisão do casal ocorreu após a delação do policial militar Heron Teixeira Pena Vieira, que os identificou como os mandantes do crime. A juíza considerou “relevantes as informações narradas pela Autoridade Policial”, destacando que, mesmo com o silêncio da empresária, não havia “quaisquer elementos nos autos que desacreditem as palavras do Delegado de Polícia, dotado de fé pública”.
As declarações de Julinere, segundo a decisão, “se coadunam com os demais elementos investigativos produzidos”, o que justificaria a “especial atenção” ao caso. Em um trecho, a juíza relata que a empresária teria confessado. “Julinere confessa perante essa autoridade que deu o mando a Jackson para matar o advogado, mas que ela teria desistido. Alega que seu marido sempre chegava alcoolizado e sempre com a mesma conversa que tinha que matar o advogado”, revelou.
EXTORSÃO
Ainda de acordo com os autos, ela estaria emocionalmente abalada e afirmou que o policial Jackson Barbosa, vizinho do casal e preso em abril por envolvimento no crime, a extorquia constantemente. A polícia também encontrou um “bilhete de cobrança” endereçado a César, supostamente relacionado ao pagamento pelo homicídio.
Diante das evidências, a juíza entendeu que há fortes indícios contra o casal e manteve as prisões para evitar “qualquer interferência na colheita de provas, coação de testemunhas, alteração dos elementos probatórios ou ajuste das versões dos fatos”.
Renato Nery, de 72 anos, foi baleado quando chegava no escritório dele, no dia 06 de julho de 2024. Segundo a Polícia Civil, o atirador já estava esperando pelo advogado e, após atirar, fugiu do local em uma moto. O advogado morreu um dia após ser baleado.
O corpo dele foi sepultado em Cuiabá, na manhã do dia 7 de julho. Familiares e amigos prestaram as últimas homenagens. Ele foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso (OAB-MT) e conselheiro Federal da OAB, na gestão 1989 – 1991.
Dito
Sexta-Feira, 06 de Junho de 2025, 18h56