Cidades Segunda-Feira, 16 de Julho de 2018, 09h:37 | Atualizado:

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DEFICIÊNCIA

Escolas públicas de Cuiabá não têm acessibilidade

 

Elayne Mendes
Gazeta Digital

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As 3 maiores e mais tradicionais escolas públicas estaduais de Cuiabá não possuem acessibilidade para alunos com deficiência motora. Para se ter uma ideia, na escola Presidente Medici há dois alunos cadeirantes que têm que lidar com a falta de rampas internas e com a inoperância de um elevador instalado na unidade em 2009.

Diretores reconhecem falha estrutural e falta de educadores especializados no atendimento a alunos com deficiência, mas enfatizam que inúmeras solicitações para adequações da estrutura já foram feitas junto à Secretaria de Estado de Educação (Seduc), pedidos até o momento não atendidos.

Ministério Público Estadual (MPE) expediu notificação recomendatória ao Estado para a melhoria e aperfeiçoamento da educação inclusiva em toda a rede de ensino e aguarda cumprimento. Composta por salas instaladas no térreo e mais 3 andares, a maior escola estadual de Cuiabá é também a que mais apresenta problemas com relação à acessibilidade.

Na escola Presidente Medici há dois alunos cadeirantes matriculados, sendo uma menina que estuda no período da manhã e um rapaz de 25 anos que estuda à tarde. Segundo a diretora da instituição, Patrícia Carvalho, desde que assumiu a direção da escola, sempre há alunos deficientes solicitando matrícula, e todo ano é o mesmo dilema, onde e como atender estes estudantes. Construída em 1975, o projeto da unidade de ensino não tinha o viés da acessibilidade, como a maioria das estruturas construídas neste período.

Com o passar dos anos, rampas foram construídas na escola, mas apenas do lado de fora, já que na parte interna não foi possível a instalação devido à falta de espaço para uma inclinação adequada e que não oferecesse riscos a quem passasse por elas. Para poder receber os alunos com deficiência total ou parcial da parte motora, a diretora adorou medidas paliativas, como acomodá-los no andar onde a maioria das atividades acontece e que não seria necessária a mobilidade via escadarias. Eles entram pelo portão do fundo da escola, por onde também passam os carros dos professores.

Patrícia enfatiza que em todos os andares existem banheiros adaptados para os alunos cadeirantes, mas, apenas os do 2º andar são utilizados. Os demais estão abandonados e precisando de reforma. Ela ainda elenca outro problema, em se tratando da aluna que estuda no período da manhã. Ela usa sonda e seria necessário que ela tivesse um acompanhante especializado para seu atendimento.

O pedido para o encaminhamento deste profissional foi feito junto à Seduc acompanhado de um laudo médico, assim que a aluna se matriculou, antes do início do ano letivo, mas até o momento não há posicionamento por parte da pasta. “Já houve caso em que eu outras funcionárias tivemos que ajudá-la no esvaziamento da bolsa. Aqui fazemos de tudo, mas jamais deixaremos de atender um aluno por ele ser deficiente”.

Em uma reforma feita na escola, em 2009, foi implantado um elevador, porém o equipamento só funcionou em 2016, quando a Seduc encaminhou um profissional que ficaria responsável por seu manuseio e transporte dos alunos cadeirantes. No final de 2017 o profissional deixou a escola e este ano, o elevador novamente está parado, pois não há funcionário para operá-lo. “É triste, mas é a realidade. Mesmo tendo enviado vários ofícios à Seduc, o problema parece estar longe de ser solucionado”, lamente a diretora.

Prédio da escola estadual Professor Nilo Póvoas, onde atualmente funciona, simultaneamente, outras duas unidades educacionais (Fundação Nova Chance e escola Barão de Melgaço), conta com uma rampa em sua entrada, para auxiliar na locomoção de cadeirantes ou pessoas com algum outro tipo de deficiência motora. Porém, a orientadora de área, Lilian Novack explica que as medidas foram calculadas erroneamente e a cadeira de rodas não passa na curva da rampa.

No interior da escola, para se ter acesso à quadra de esporte é necessário descer duas etapas de escadaria, porém, apenas a segunda possui corrimão, o que representa riscos até mesmo para quem não tem deficiência. Apesar da escola não ter atualmente nenhum aluno cadeirante matriculado, a professora de Língua Inglesa, recém transferida para a unidade, Aurika Simm, possui desvio acentuado da coluna lombar, o que faz com que ela tenha muita dificuldade em se movimentar e, consequentemente, tenha dificuldades em andar entre um andar e outro.

Docente desde 1996, atuando em escolas privadas e públicas, ela conta que esta é a primeira vez que trabalha em uma instituição que não oferece acessibilidade a deficientes. “Todos os dias acordo e peço a Deus que não precise descer as escadas. Já fico triste de me imaginar tendo que descer degrau por degrau com toda a dor que sinto”.

A coordenadora do Nilo Póvoas, Roberta Vieira, lamenta a falta de estrutura adequada para atender todos e enfatiza que solicitações do tipo já foram feitas inúmeras vezes à Seduc. Ela conta que apesar de as salas de aulas serem concentradas apenas em um andar, há atividades, como gincana e feiras culturais realizadas no piso inferior e que quando haviam alunos deficientes, era necessário carregá-los nas escadas. O mesmo acontece quando há concurso público no local e há candidatos cadeirantes.

Na escola Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller, a mais antiga de Cuiabá, e onde estudaram as mais diversas autoridades do Estado, a falta de acessibilidade também é notória. Apesar de haver rampas e pisos táteis na entrada, na parte interna não há nada que possibilitaria a locomoção segura de um cadeirante. O primeiro piso só pode ser acessado por escadarias sem corrimão. Atualmente a escola não tem entre seus 1.550 matriculados, alunos deficientes motores.

Porém, o diretor da instituição, Alceu Trentin, diz que corriqueiramente precisa fazer modificações na instalação de turmas, devido a deficiências momentâneas de alunos que se acidentam. “Temos muitos alunos que andam de moto e num intervalo de tempo curto, sempre há aqueles que se acidentam e têm que usar muletas ou bota ortopédica. Se eles estudam no primeiro piso, tenho que passar toda a turma para o térreo”.

Ele acrescenta que apesar de não ter alunos cadeirantes, há aqueles com baixa visão, que também são prejudicados com a falta de corrimões nas escadas, pisos táteis internos e portas mais amplas. “Eles vivem embarrando nos demais alunos e se sentem constrangidos por isso”. Na escola há banheiros adaptados no térreo. 

A ampliação, conforme explica Trentin, foi realizada em 1998, quando a escola passou pela última grande reforma, realizada pela Fundação Banco do Brasil. Desde então, não houve modificações estruturais no local. Apenas a pintura anual realizada pelo governo do Estado. O diretor encaminhou para a Seduc, em 2014, projeto para a reforma da instituição de ensino, que incluía um elevador, mas até o momento não houve retorno.

 





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