O presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Crisanto Rudzö Tseremey’wá, expressou indignação e chamou de "uma grande palhaçada" a decisão de conceder a medalha de mérito indigenista ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
A medalha foi concedida pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, em despacho publicado no Diário Oficial da União nesta quarta-feira (16).
Ao g1, Crisanto disse que todos os 43 povos originários do estado estão indignados. Ele ainda afirmou que vê uma manobra na ação do governo.
"Já estamos vivendo a pré-campanha. Então, com a possibilidade dele não ser reeleito, começa a fazer tudo isso. É uma manobra, porque esse governo não fez nada aos indígenas. É uma grande palhaçada, com todo perdão aos palhaços que trazem alegria para a gente, mas não tenho outra palavra", afirmou.
A medalha de mérito indigenista já havia sido concedida ao cacique Raoni, uma das maiores lideranças indígenas do Brasil.
O g1 tentou contato com Raoni, mas até a publicação desta reportagem, não obteve retorno porque ele segue isolado na aldeia, sem comunicação.
Segundo Crisanto, a medalha concedida ao Bolsonaro é vista como desrespeitosa. "É lamentável, isso é muita falta de consideração, é desumano, antissocial. Depois chamam a gente de incivilizados. Nós somos civilizados dentro do nosso universo. E o que essa classe mostra ao país é falta de educação", ressaltou.
Para o presidente da FepoiMT, as ações de desmantelamento nos principais órgãos públicos de defesa indígena, como a Funai, são a prova de que o governo não trabalha para o povo.
"Ele não governa do povo para o povo. Bolsonaro não nasceu para ser presidente, não cabe a ele estar nessa cadeira. Não sei porquê ele ainda não renunciou", disse.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também se manifestou contra a decisão e ainda usou da criatividade para demonstrar repúdio. "A Apib reconhece e denuncia com a 'medalha do genocídio indígena' as políticas de morte do governo Bolsonaro", disse.
No ano passado, a Apib entrou com uma denúncia no Tribunal Penal Internacional de Haia (TPI), alegando que Bolsonaro cometeu crimes contra a humanidade e genocídio ao incentivar a invasão de garimpeiros em terras dos povos originários.
Na denúncia, a Apib ainda pediu ao TPI "atenção ao período da pandemia da Covid-19". Além disso, eles também pontuaram sobre a explícita política anti-indígena do governo ao não dar andamento com novas demarcações de terras.
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Quinta-Feira, 17 de Março de 2022, 10h30