Em nova decisão assinada no dia 25 deste mês, a juíza Ana Cristina Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, alertou que os consecutivos pedidos de revogação de prisão na ação penal contra 15 réus acabam tumultuando o andamento processual. Eles são processados pelos crimes de organização criminosa e furto qualificado, acusados de integrar um grupo que atuava no roubo de cargas de soja em três estados tendo movimentado cerca de R$ 6 milhões.
A quadrilha foi desmantelada na operação Safra, deflagrada em junho de 2021 pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Judiciária Civil (PJC). Os crimes foram praticados em Mato Grosso, São Paulo e Paraná. A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público Estadual (MPE) em 18 de agosto de 2021 e recebida cinco dias depois, ocasião em que foram mantidas as prisões preventivas decretadas contra todos os réus.
No mais recente despacho a juíza mandou desentranhar dos autos três pedidos de revogação da preventiva formulados pela defesa do réu Cristiano do Vale Albuquerque, que insurgiu contra parecer do Ministério Público recomendando a manutenção da prisão. Isso porque um dos pedidos já foi apreciado há menos de 60 dias e negado, mas a defesa vem fazendo pedidos semelhantes de forma insistente.
Outro pedido formulado no processo partiu do Banco Volvo (Brasil) S/A para liberação do de um caminhão Volvo de cor preta que foi apreendido na operação, pois o veículo é objeto de alienação fiduciária, ou seja, é financiamento pelo banco e ainda não foi totalmente quitado. “Tendo em vista se tratar de pedido de terceiro interessado, bem como para que não tumultue esta ação penal, autuem-se em autos apartados o pedido”, despachou a magistrada.
Ana Cristina Mendes também confirmou a realização das audiências de instrução já agendadas para os dias 28, 29, 30 e 31 deste mês, por videoconferência. “Dessa forma, expreça-se nova carta precatória com a finalidade de intimar a testemunha Rodrigo Luis Silva, arrolada pela defesa do acusado Cristiano do Vale para que compareça a audiência designada, devendo solicitar que a mesma seja cumprida por oficial plantonista, por se tratar de processo com réu preso, enviando-se o link da audiência”.
Os 15 réus na ação penal são: Fábio Costa dos Santos, Tatiane Ramirez Maia, Ricardo Augusto Morro, Antônio Carlos Morro, Juraci Gonçalves do Amaral Júnior, Douglas Pereira dos Santos, Lincoln José Ferraz, Leandro Ricardo de Lima Camargo, João Siqueira Silva, Edson Ferreira dos Santos, Robert Nascimento dos Santos, Cristiano do Vale Albuquerque, Adriano Aparecido de Moraes, Marcos José Rodrigues e Joabe Félix Macedo.
O CASO
As investigações da Polícia Civil apontaram que a organização criminosa atuava no roubo e furto de cargas de grãos em Mato Grosso e mais dois estados , movimentando R$ 6 milhões com o esquema criminoso praticado. As cargas de grãos, principalmente soja, eram desviadas ou furtadas de fazendas produtoras ou armazéns graneleiros, onde os criminosos agiam utilizando notas fiscais frias para a retirada dos produtos.
Depois que revendiam as cargas, ainda dentro de Mato Grosso, saíam do Estado com o dinheiro obtido no esquema, agindo como 'piratas', conforme apurou a investigação que reuniu ocorrências registradas em 40 boletins comunicados à Polícia Civil de Mato Grosso.
As investigações foram iniciadas pela delegacia de Paranatinga (377 KM de Cuiabá), que apurou os furtos de duas cargas de soja ocorridos em março de 2021. Outras ocorrências foram registradas nas cidades de Sorriso e de Ipiranga do Norte, distantes, respectivamente, a 420 e 450 quilômetros da capital. A GCCO identificou que o esquema criminoso envolvia uma empresa de transportes sediada no município de Assis (SP).