O transplante renal da primeira dama de Cuiabá, Virgínia Mendes, marcado para esta sexta-feira, em São Paulo, seria um procedimento comum como tantos outros realizados no país não fosse o doador, o marido, prefeito Mauro Mendes. Por se tratar de um homem público, desde a última quarta-feira, quando o prefeito anunciou que doaria um rim à mulher, começaram nas redes sociais, bastidores da política, imprensa e outros setores uma série de discussões com temas dos mais variados.
Riscos cirúrgicos, compatibilidade, família, declaração de amor e até estratégia política estão entre os assuntos comentados por pessoas ou grupos, leigos, claro, em torno da cirurgia. Portadora de uma doença crônica progressiva denominada “síndrome renal policística”, caracterizada pela presença de vários cistos, a sobrevivência de Virgínia depende do transplante. Por causa da progressão da doença, há pouco mais de um mês ela teve de retirar os dois rins, passando a viver ligada a um equipamento que faz a filtragem do sangue.
O nefrologista Osvaldo Cassemiro Radel Filho, do Centro de Nefrologia de Cuiabá (CRC) na Santa Casa de Misericórdia, explicou que a cirurgia entre pessoas sem nenhum grau de parentesco não é tão incomum como se imagina. É claro, esclareceu, que a chance de compatibilidade é maior entre consanguíneos, ou seja, pais, irmãos e outros parentes próximos.
No caso de Virgínia Mendes, o especialista detalha que poderia haver parentes próximos compatíveis, porém com restrição ou mesmo impedidos de doar órgãos. Por ser portadora de uma doença genética, parentes como pais e irmãos poderiam carregar a mesma doença nos genes, mesmo que ainda não tenham desenvolvido.
Por amor, acredita o especialista, Mauro Mendes candidatou-se à doação. Entretanto, até chegar no momento atual, da cirurgia de retira do rim dele para transplantá-lo na esposa, o casal passou por uma série de procedimentos.
A ‘prova cruzada’, que consiste na mistura do sangue e soro de ambos para analisar a formação de anticorpos e assim avaliar o grau de rejeição, assim como os riscos que a retirada de um rim representaria ao doador, são alguns dos cuidados. O ideal, lembrou o especialista, seria 100% de compatibilidade, o que ocorre raramente, somente entre pessoas com genes idênticos. Com percentuais menores, de 50%, que seria o grau diagnosticado entre a primeira dama e o marido, e até 25%, seria possível fazer transplantes.
Sobre os riscos de rejeição do novo rim, Radel Filho disse que há uma série de considerações, listando a técnica cirúrgica, tempo de duração da cirurgia, a experiência da equipe técnica, assim como os medicamentos e um hospital referência como o Albert Einstein. Para o doador, no caso o prefeito, os riscos são mínimos. “Se vive muito bem com um rim”, completou. Em seu perfil no facebook, Virgínia classificou o marido de “alma gêmea” no texto em que diz que “o verdadeiro amor é aquele em que você se importa mais com a felicidade da outra pessoa do que com a sua própria”.