Ao deflagrar hoje a sétima fase da Operação Sisamnes, que investiga corrupção em várias instâncias do Judiciário, a Polícia Federal apontou indícios de que militares abriram uma empresa para realizar ações de espionagem e homicídios.
A PF encontrou uma tabela manuscrita com preços para espionar ou até mesmo matar autoridades do STF (Supremo Tribunal Federal) e parlamentares do Congresso Nacional.
A tabela apreendida mostra que os preços cobrados variavam conforme o alvo. Pelos valores, considerados baixos, a PF suspeita que esses preços seriam para espionar os alvos:
Ministros / Judiciário - R$ 250 mil
Senadores - R$ 150 mil
Deputados - R$ 100 mil
Figuras normais - R$ 50 mil
Coronel está preso
A PF cumpriu hoje novo mandado de prisão contra o coronel da reserva do Exército EtevaldoCaçadini de Vargas, que já estava preso. Ele é suspeito de ser um dos líderes desse esquema dos assassinatos — a tabela de preços havia sido apreendida em uma operação anterior, na casa do coronel Caçadini.
O coronel Caçadini já havia sido preso pela Polícia Civil de Mato Grosso em janeiro de 2024 por suspeita de envolvimento no crime. Também já foi alvo de denúncia pelo Ministério Público de Mato Grosso relacionada ao caso.
A defesa pediu, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso, liberdade ao coronel, argumentando que não havia provas vinculando ele ao crime e dizendo que foi citado após "tortura" feita a um dos executores — o pedido ainda não foi julgado.
Com a operação de hoje, Caçadini também tem uma segunda ordem de prisão, agora expedida pelo STF.
Também foram alvos da PF hoje outros quatro alvos, cujos nomes não foram divulgados.
Trata-se de uma empresa que, no papel, seria destinada a serviços de segurança privada, mas que, na verdade, operava serviços ilegais, de acordo com a investigação. Segundo a PF, eles se autodenominavam, informalmente, como "Comando C4: Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos".
Suspeita de propina no STJ
A suspeita é que o grupo organizou e executou o assassinato do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros no final de 2023 em Cuiabá. O advogado havia sido o pivô da investigação sobre corrupção em várias instâncias do Judiciário. Tudo teve início a partir da análise do seu celular, que foi apreendido para a apuração dos autores do homicídio.
O material foi enviado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que identificou indícios de pagamento de propina a desembargadores e também a assessores de ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O "Comando C4"
Para deflagrar a operação, a PF informou ao STF que "descobriu a existência de uma organização criminosa empresarial denominada 'Comando C4', formada por militares (ativos e da reserva) e civis, dedicada à prática de crimes graves, especialmente espionagem e homicídios sob encomenda, sendo responsável pela morte de Roberto Zampieri".
A organização criminosa mantinha, segundo a PF, "uma espécie de tabela de valores atribuídos à execução de homicídios, cujos preços variavam conforme a função exercida pela vítima". Entre as possíveis vítimas estariam nomes de parlamentares e autoridades do Judiciário
"A Polícia Federal identificou registros manuscritos contendo menções a autoridades brasileiras, entre as quais se destacam parlamentares do Congresso Nacional e ministros do Supremo Tribunal Federal", escreveu a PF.
A operação de hoje foi autorizada pelo ministro do STF Cristiano Zanin. São cumpridos cinco mandados de prisão, quatro de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão.