Cidades Domingo, 29 de Junho de 2025, 22h:35 | Atualizado:

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CASO RENATO NERY

MPE revela que caseiro recebeu treinamento em chácara para matar advogado em MT

Assassino pressionou policiais para receber pelo crime

DIEGO FREDERICI
Da Redação

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O cabo Heron Teixeira Pena Vieira e o caseiro Alex Roberto de Queiroz Silva, acusados de executar o advogado Renato Nery em Cuiabá no ano de 2024, circulavam livremente nas dependências do Batalhão da Rotam, na Capital, onde conseguiram a arma do crime. Alex ainda "azucrinava" Heron pelo pagamento de R$ 40 mil pelo assassinato, ligado a disputa judicial por terras.

Os promotores de justiça do Ministério Público do Estado (MPMT) - Élide Manzini de Campos, Rinaldo Segundo, Rodrigo Ribeiro Domingues, Samuel Frungilo e Vinicius Gahyva Martins -, denunciaram Heron e Alex no dia 14 de maio de 2025. A dupla responde pelos crimes de homicídio mediante recompensa com recurso que dificultou a defesa da vítima, fraude processual, abuso de autoridade e integrar organização criminosa.

Renato Gomes Nery foi morto com pelo menos sete tiros na cabeça no dia 5 de julho de 2024. A motivação do crime, segundo os promotores de justiça, ocorreu no contexto de uma disputa judicial por mais de 12 mil hectares de terras em Novo São Joaquim (475 Km de Cuiabá).

Tanto a pistola utilizada no crime (Glock G17 9mm) quanto suas munições foram “fornecidas” pela Rotam, batalhão onde Alex, que não é Policial Militar, tinha “acesso livre”.  “Alex possuía e compartilhava com terceiros vídeos e fotografias da fachada da unidade da Rotam, demonstrando acesso livre às instalações da unidade policial especializada. Tal circunstância corrobora a compreensão de que a arma do crime tenha sido obtida por Heron por meio de contatos no Batalhão da Rotam. O acesso, em certa medida privilegiado, que Alex mantinha às dependências da referida unidade - fato comprovado por perícia técnica realizada em seu aparelho celular - evidencia o trânsito facilitado dos denunciados”, diz a denúncia.

A mesma Glock G17 foi “plantada” por policiais militares num suposto confronto com criminosos uma semana depois da morte de Renato Nery para sugerir que os suspeitos utilizaram a arma de fogo na “troca de tiros” - e despistar as investigações.

A denúncia também revela que a vítima, que representava uma das partes numa disputa judicial de terras, tinha obtido uma liminar suspendendo pagamentos de arrendamentos no valor de R$ 2,3 milhões, poucos dias antes de seu assassinato, em 28 de junho de 2024. Os supostos mandantes do crime, um casal de empresários de Primavera do Leste (236 Km de Cuiabá), foram denunciados pelo próprio Renato Nery em 25 de junho do ano passado por integrarem o chamado “Escritório do Crime”.

A organização contava com “suposta participação de um membro do Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso”. Dez dias depois, o advogado “foi brutalmente assassinado”, segundo a denúncia.

Os promotores de justiça não detalham quem seria o juiz ou desembargador do TJMT envolvido na trama. Para o cometimento do crime, de acordo com o MPMT, Heron teria exigido R$ 200 mil e se mostrou apreensivo para receber o pagamento à medida que as investigações avançavam, realizando, inclusive, diversas viagens à Primavera do Leste.

Ele chegou a fazer ameaças contra os mandantes, dizendo que revelaria “informações comprometedoras” se o acordo não fosse cumprido. “Heron, por sua vez, realizou diversas viagens à cidade de Primavera do Leste com o objetivo de cobrar de intermediários o pagamento pela execução do crime, demonstrando crescente apreensão à medida que as investigações avançavam, especialmente após tomar conhecimento das buscas realizadas nas residências dos supostos mandantes. Em determinado momento, sinalizou que, caso não recebesse o valor combinado e viesse a ser preso, poderia revelar informações comprometedoras sobre os demais envolvidos”, diz ainda a denúncia.

AZUCRINAR COM TERERÉ

Alex Roberto de Queiroz Silva, por sua vez, tinha uma “relação próxima” com Heron, incluindo o recebimento de “presentes”, como um telefone celular, além de tomar “tereré” com o policial militar. “Conforme análise do aparelho celular apreendido com Alex, foram encontradas mensagens enviadas a terceiros onde ele menciona visitas frequentes à residência de Heron (‘Oi vou lá no Heron assistir jogo’ e ‘Acabei de chegar aqui no Heron’), indicando proximidade e convivência regular entre ambos. Em conversa, Alex afirmou expressamente: ‘eu ganhei um celular ontem pô do chegado do meu lá do Heron chamou eu lá na casa dele falou cola ai eu vou tomar um tereré aí eu fui lá ele deu um celular para mim novinho na caixa”, diz a denúncia.

Alex e Heron monitoraram a rotina de Renato Nery antes de sua execução, ocorrida na entrada de seu escritório na Av. Fernando Correa - a principal artéria viária de Cuiabá. “No dia anterior ao crime (4 de julho de 2024), por volta das 07h45min, o denunciado Alex Roberto de Queiroz Silva já havia rondado o escritório da vítima em uma motocicleta Honda CG 160 Fan de cor vermelha, sem placa, parando por cerca de dois minutos no mesmo ponto onde estacionaria no dia seguinte para a execução, demonstrando a premeditação e o reconhecimento prévio do local”, revela o MPMT.

Alex também recebeu uma espécie de “treinamento prévio” num estande de tiros improvisado na chácara no bairro Capão Grande, em Várzea Grande, na região metropolitana, onde era caseiro. “O denunciado Alex Roberto de Queiroz Silva, por sua vez, atuou como caseiro na chácara e realizou diversos treinamentos com a arma que seria utilizada no crime. Conforme depoimentos colhidos durante as investigações, Alex praticava disparos contra garrafas e tábuas no local, tanto a curta quanto a longa distância, para aperfeiçoar sua pontaria”.

Conforme o MPMT revelou, Alex também teria ficado apreensivo com o avançar das investigações, “azucrinando” o parceiro de crime para receber os R$ 40 mil de pagamento pela execução do advogado. “Após o crime, Heron realizou diversas viagens à cidade de Primavera do Leste com o propósito de cobrar o pagamento prometido, demonstrando evidente interesse econômico na prática delituosa. Embora tenha alegado que se deslocaria em razão da insistência de Alex - que, segundo ele, o ‘azucrinava’ -, é notório que sua motivação principal também era assegurar o recebimento da vantagem pactuada”, revelam os promotores de justiça.

Além do PM e do caseiro, as forças de segurança também prenderam os policiais militares Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira, Leandro Cardoso e Jorge Rodrigo Martins no início do mês de março de 2025. As suspeitas sobre os policiais, que fazem parte da Rotam, aumentaram quando exames de balística comprovaram que a pistola Glock, utilizada para matar Renato Nery, foi empregada em 2022 no homicídio de um homem identificado como João Fidelis. Fidelis foi assassinado no bairro Pedro 90, em Cuiabá, por dois homens que estavam numa motocicleta. Ele respondia por furto.

A arma, por sua vez, teria sido falsamente apreendida no dia 12 de julho de 2024 por policiais militares da Rotam. Na ocasião, um confronto entre os PMs e três suspeitos deixou um homem morto e um adolescente de 16 anos ferido. O terceiro membro do bando conseguiu fugir.

A alegada apreensão da arma ocorreu sete dias depois da morte de Renato Nery, em 5 de julho do ano passado. Investigações da PJC, entretanto, apontam que ela teria sido “plantada” no confronto da Rotam para ocultar sua utilização na execução do advogado. Participaram do suposto confronto da Rotam os PMs Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira, Leandro Cardoso e Jorge Rodrigo Martins.

O grupo também é alvo da operação “Simulacrum”, do ano de 2022, que revelou que policiais militares fariam parte de um grupo de extermínio realizando “emboscadas” com a ajuda de criminosos para executar pessoas com passagem pela polícia. A maioria dos crimes ocorreu na região metropolitana de Cuiabá. Renato Nery foi assassinado em 5 de julho de 2024 na porta de seu escritório, localizado na Capital. Ele tinha 72 anos de idade.





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