Além do avanço do novo coronavírus, as mulheres têm enfrentado uma outra pandemia, a da violência física e sexual, sobretudo doméstica. A avaliação foi feita pela presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso (Cedm), a procuradora Glaucia Amaral. Ela destaca que as mudanças impostas pelo isolamento social elevaram o número de “gatilhos” que fizeram disparar o número de casos. Nesta entrevista, Glaucia pontua que ações de conscientização e o fortalecimento da rede de proteção à mulher são alguns dos projetos que estão em andamento e que, mesmo com a impossibilidade de realização da Conferência Estadual da Mulher presencialmente, o evento será realizado virtualmente, inclusive com a entrega do Prêmio Ruth Marques Corrêa da Costa. Confira:
Estamos perto do terceiro mês de isolamento social e os índices de casos de violência contra a mulher só aumentam em todo o mundo. Qual o panorama atual na nossa realidade de Mato Grosso?
Com certeza é um momento bastante difícil. O isolamento social, por si só, não gerou um aumento de casos, mas fez com que muitos dos “gatilhos sociais” fossem disparados, causando uma explosão de casos de agressões físicas e sexuais. Tivemos este ano caso de feminicídio, também, o que não havia sido registrado em 2019. Então o panorama é bastante delicado e tem feito com que todos os órgãos atuem no sentido aumentar a eficácia para prevenir e coibir esta violência.
Como a rede de proteção à mulher tem atuado para a redução dos casos e para o atendimento das vítimas?
Este é um trabalho constante que realizamos e, com a pandemia, estamos ampliando algumas ações. É importante deixar claro que órgãos como a Delegacia da Mulher não fecharam, que a patrulha Maria da Penha segue seu trabalho, enfim, que os órgãos públicos estão atuando normalmente. E isso segue em discussão dentro do Grupo de Trabalho criado em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública. Estamos neste momento discutindo formas de garantir o atendimento às vítimas, neste momento em que elas não podem ou são aconselhadas a ficarem em suas casas.
Além dos órgãos públicos, de que forma a iniciativa privada pode ajudar?
Com a conscientização. As empresas podem e devem ajudar com eventos e dinâmicas para os funcionários, pode massificar campanhas públicas de combate, enfim, pode se engajar nesta luta. São atitudes importantes que são notadas pelos consumidores e ajudam a agregar valor às marcas. Este trabalho também é feito pelo Poder Público, nas escolas, nas comunidades, em diversos outros lugares.
Recentemente, o presidente da OAB-MT foi acusado de suposta violência doméstica contra sua esposa. Qual a atuação do Conselho neste caso em específico?
Desde o primeiro momento, o CEDM esteve acompanhando o caso, inclusive na delegacia, e vai continuar acompanhando, inclusive solicitando às autoridades competentes. Isso é praxe, sempre que solicitado o Conselho vai acompanhar as investigações, os procedimentos, os processos, atuando para assegurar o pleno atendimento das vítimas.
Todos os anos, o Conselho realiza a Conferência Estadual da Mulher, evento muito importante no sentido de propor políticas públicas afirmativas, evolvendo todos os 141 municípios, antes da etapa estadual. Qual será a dinâmica para este ano, uma vez ele não ocorrerá presencialmente, por conta da pandemia?
O evento é de suma importância dentro da estratégia de combate à violência contra a mulher e a adoção de políticas afirmativas. Como não pode haver aglomerações, a etapa estadual da conferência será realizada toda virtualmente, inclusive com a entrega do prêmio Ruth Marques Corrêa da Costa, que premia mulheres com atuação destaca nesta luta. A pandemia potencializou a violência contra a mulher, trouxe novos problemas, mas tenho a certeza de que seguiremos lutando em busca das soluções.