Ao se pronunciar acerca do apoio (via convênio) que a Prefeitura de Várzea Grande tem direcionado diuturnamente ao Projeto Casa Lar, da Associação Beneficente Vida Nova, que mantém quatro unidades domiciliares no município, o prefeito Walace Guimarães disse ser um entusiasta desse trabalho social. Segundo salientou, é prerrogativa missionária de qualquer gestor proteger as crianças e incentivá-las para um futuro melhor. "As nossas crianças representam o futuro deste País, de toda a humanidade. É imprescindível que todos os segmentos sociais se mobilizem para protegê-las e tornar possível a construção de destinos sólidos para elas e seus familiares, pois logo serão adultas. E nós seremos meras testemunhas desse processo evolutivo natural".
Conforme o prefeito, cada uma das 40 crianças abrigadas pelo projeto várzea-grandense dispõe de lar autêntico bastante confortável. "Nada falta nas casas. Elas atuam exatamente como qualquer lar familiar, sem restringir a liberdade das crianças, que vão à escola, saem para se divertir, etc., devidamente acompanhadas. Elas não se sentem reclusas aqui, mas felizes, confiantes, independentes em todos os aspectos".
Guimarães ainda detalhou que as crianças são encaminhadas ao projeto pela Promotoria da Infância e Juventude e Conselho Tutelar de Várzea Grande. "Infelizmente, as ocorrências que motivam isso são repetitivas: negligência geral dos próprios familiares e uma série de abusos aterradores, de ordem sexual, torturas físicas e até psicológicas. É arrepiante alguns casos registrados. Muitas chegam assustadas, famintas, doentes, sem confiar em ninguém. O medo é algo explícito no brilho dos olhinhos inocentes, vítimas da maldade humana. Mas desaparece após o trabalho paciente e dinâmico das equipes desse projeto, assistentes sociais e psicólogos, que estão de parabéns!".
RECONHECIMENTO:
"Aqui tenho tudo que nunca pensei encontrar disponível. Não apenas cama, comida boa, mas muita atenção carinhosa, cuidados. As "tias" (assistentes do Projeto Casa Lar) estão sempre disponíveis para atender a todos sem gritar, sem bater... Falam com delicadeza, sugerem para que façamos as coisas da maneira certa. Então, ninguém discorda, todos colaboram. Elas são legais".
As palavras acima são do menino Kevin Willians, 10 anos, um dos componentes da Casa Lar da Avenida Couto Magalhães, Várzea Grande. Ele fala com voz pausada, e olha a todos diretamente nos olhos, sem receio. Mas também diz preferir não lembrar do seu passado, antes de vir para o projeto. "Eles me salvaram, na realidade. Sofri muita coisa ruim lá em casa, pois apanhava bastante. Mas não gosto de falar disso".
Para a gerente administrativa do Casa Lar, Josefina de Campos Almeida, a maioria das histórias das crianças abrigada nas quatro casas tem conotação genuína de horror. "Tem os pequeninos, bebês, que ainda nem sabem falar, mas já sofreram muito antes de a Promotoria intervir e encaminhá-los para cá. Penso nisso e na quantidade de pessoas que sonham em constituir família e não conseguem, por causa de algum tipo de problema. Já muitos que geram filhos praticam maldades inconcebíveis com quem não pode se defender. Não têm consciência de nada".
O trabalho das mães-sociais (cada casa conta com uma) é complemento fundamental à atuação dos psicólogos e assistentes sociais do Casa Lar, informou Josefina. "As mães sociais jamais se ausentam, a não ser para acompanhar as crianças e adolescentes quando pegam ônibus ou vão a algum lugar. É uma modalidade de acolhimento diferenciada, a nossa, focada na reintegração da criança ao seu lar de origem. Faz com que elas se sintam livres. Prova disso é aquela menina ali, Tatiane da Silva, hoje com 20 anos. Tatiane já integrou um dos grupos acolhidos e não quis sair após completar 18 anos. Hoje é funcionária do projeto, remunerada".