A reunião em que a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa) se posicionou sobre o relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), na Assembleia Legislativa, foi marcada por embate entre engenheiros ligados ao governo do Estado e do órgão fiscalizador. O professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Luiz Miguel de Miranda, disse que as obras da Copa do Mundo pecam por falta de projetos e as soluções vão custar caro para a população.
Ele alerta que os cuiabanos devem pagar duas vezes pelas obras que não levaram em consideração o tipo de solo típico da baixada cuiabana. “Todas as trincheiras vão ter problema com água o tempo todo. A trincheira do Verdão tem problema sério de drenagem profunda, fizeram uma parede de concreto de 8 metros a 10 metros e não se levou em consideração o solo típico da baixada cuiabana, é um erro inapelável. Não se faz um projeto sem saber o coeficiente de permeabilidade. Só quem conhece o solo cuiabano é quem estudou”.
Conforme o professor do curso de Engenharia Civil da UFMT, a água não deve comprometer a estrutura das trincheiras, mas futuramente essa água pode ficar tão íntima da ferragem e vai vazar sempre. “Isso não é engenharia. Um projeto de engenharia precisa de um plano de execução que não pode ser feito por recém-formado. Não se faz um plano de execução bem feito com um período inferior de 3 anos, sem fazer a discussão com as comunidades sobre seus hábitos, a mobilidade dessas pessoas, quantos são os postes de energia, adutoras de água, ligações domésticas de esgoto. Mal comparando, esses projetos parecem que foram feitos no google”.Ele comparou as obras da Copa a um projeto de uma casa em um terreno. Ao se fazer um sobrado, o profissional da engenharia deve levar em consideração o tipo do terreno, solo e se o madeiramento, se a fundação, o alicerce vão suportar o peso.
A própria Secopa diz que houve um projeto da empreiteira responsável pela execução da obra da Ciríaco Cândia, contudo, as infiltrações nas paredes de concreto não são por falha na execução, mas no projeto.
Foi necessário trazer um professor catedrático da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) para apontar soluções para o problema. “A pressão exercida pelo lençol freático não era esperada, a água está chegando mais rápido que se esperava”, comentou o assessor especial da secretaria-adjunta de Infraestrutura da Secopa, Jamil Sampaio. Ele negou que houve negligência, mas que o método escolhido para a concretagem foi uma opção de quem fez o projeto.
Ele explicou ainda que as paredes ficaram fora do prumo devido à formação rochosa, mas não compromete a estrutura. Sampaio apontou ainda que o relatório do Crea errou ao afirmar que a trincheira do Santa Rosa apresentava fissura. O que parece uma rachadura, na verdade, é uma junta de dilatação por ser duas estruturas independentes. Ao fazer o reboco, ela trincou e vai permanecer sempre desta forma.
DISCUSSÃO
Depois da apresentação de Jamil Sampaio, o professor Luiz Miguel fez as críticas em relação à falta de estudos sobre o solo, e com direitos a réplicas, tréplicas, o debate dos engenheiros tomou conta da reunião. O presidente da Comissão de Infraestrutura, deputado estadual Sebastião Rezende, assistia a tudo calmamente por também ser engenheiro civil.
Para a plateia, sem conhecimento técnico no assunto, ficou claro que a Secopa e Crea, apesar dos discursos, estão em lados opostos.Secretário-adjunto da Secopa, Alisson Sander ergueu um pouco o tom. “Nós sabemos fazer obras. Nossos engenheiros também sabem fazer obras e são credenciados ao Crea”, disse irritado. Apesar dos desentendimentos, o vice-presidente do Crea/MT, Marcos Vinicius Santiago, amenizou e disse que estava satisfeito porque parte dos apontamentos nos relatórios do conselho foram acatados pelas empreiteiras. “Era isso o que esperávamos que fosse realizado, o debate”.
OBRAS EM ATRASO
O relatório do Crea/MT apontou que as obras do córrego 8 de Abril e dos Centros de Treinamento da Barra do Pari, em Várzea Grande, e da UFMT, em Cuiabá, não teriam prazo hábil para ficarem prontos a tempo do mundial de futebol. Na apresentação da Secopa, o superintendente de Infraestrutura, André Luiz Costa, apresentou como solução para concluir as obras do COT e do córrego e avenida 8 de abril, a contratação de mais trabalhadores.
No COT da UFMT, por exemplo, em dezembro tinham 95 trabalhadores e em março passam de 200. O mesmo ritmo crescente de trabalhadores nas frentes de trabalho são vistos em outras obras.Contudo, para o professor universitário, só pessoas não resolve o problema. “Na UFMT não há espaço para colocar mais gente e não adianta colocar qualquer pessoa sem formação. Não é qualquer um que sabe dobrar aço ou medir a qualidade do concreto. Fazer concreto é fácil é só ligar a betoneira e te falo mais uma coisa, pavimento é a minha especialidade. Todos, todos em 2 ou 3 anos vão ter que ser refeitos”.Marcos Vinicius Santiago também comentou que apenas colocar mais recursos humanos não garantem celeridade. “Há outros fatores físicos financeiros a ser considerados e a meteorologia também. Não é só pessoa por hora trabalhada”. Outro fator que deixa dúvidas em relação a entrega dos COTs é que o gramado sequer foi plantado. A grama da Arena Pantanal levou 3 meses para crescer. O fornecedor do gramado dos Centros de Treinamento e do estádio é o mesmo.O secretário Maurício Guimarães evitou falar em prazos de entrega das obras e garantiu que a prioridade número 1 é o Aeroporto Internacional Marechal Rondon e as obras da matriz de responsabilidade como a Arena, o entorno do estádio, Centros de Treinamento e a duplicação da Avenida Mário Andreazza.