A falta de abastecimento de água é um problema enfrentado pelos moradores de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, há mais de cinco anos. Para suprir as necessidades básicas da casa, algumas famílias contratam caminhão-pipa para abastecer as caixas d'água. Com isso, os moradores têm até 'cartão fidelidade' concedido pelas empresas.
Nesta semana, o governador Mauro Mendes e o prefeito de Várzea Grande, Kalil Baracat, anunciaram a construção de uma nova Estação de Tratamento de Água (ETA) no município. A nova instalação deve resolver o problema crônico de captação e distribuição de água no município.
Enquanto isso, a promoção oferecida pelas empresas de abastecimento é: 'complete 10 carimbos e ganhe mil litros de água'.
O operador de máquinas Odair Silva, morador do Residencial Santa Cecília, já preencheu um cartão e ganhou o 'brinde'. Ele contou que sofre com a falta d'água desde quando se mudou para a região, há cerca de dois anos.
“Para completar o cartão é porquê está faltando muita água. Em alguns locais a água chega, mas aqui na minha casa não. Tem gente pegando água com bacia, balde, porque caixa não enche. É a empresa que tem nos atendido. Qualquer quantidade que precisamos eles trazem”, disse.
A autônoma Pamela Carla Koch, moradora do Bairro Jardim Primavera, também tem enfrentado problemas com a falta do recurso natural. Na casa dela, o abastecimento acontece, mas de forma lenta. Mesmo chegando a água, é necessário usar uma bomba para encher a caixa, pois o que vem da rua não tem força para subir para o depósito.
“Consegui encher uma caixa uma hora da manhã. Às 5h30 acordei de novo para terminar de encher as outras. O pessoal que mora em outras quadras passam por isso há anos. É um sofrimento”, relatou.
Com a dificuldade no abastecimento, ela também passou a comprar água e ganhou o 'cartão fidelidade'.
O preço médio pago pelos moradores por cada mil litros varia de R$ 40 a R$ 120. “Uma vizinha pagou R$ 40, outro vizinho que comprou a mesma quantidade, no mesmo momento, pagou R$ 120 em 2 mil litros. Ficamos sem entender como avaliam os preços. Outro morador também comprou mil litros por R$ 60”, explicou.
A estudante Kevilyn Bruna, que vive com a família no Bairro Parque do Lago, passa pelo mesmo problema. Com a pouca água que chega, a família precisa usar a bomba para conseguir mandar água para a caixa, o que resulta no aumento do valor da energia.
“Para nós que vivemos com um salário mínimo é difícil. A conta de energia vem mais de R$ 200 por causa da bomba que usamos para tentar puxar a água, e mesmo assim não enche a caixa. Aqui sempre faltou água, infelizmente isso não é novidade, mas, de uns meses pra cá, piorou. Vamos economizando, mas no final temos que comprar água de um caminhão-pipa”, disse.
Segundo ela, a mãe já chegou a pagar R$ 80 por mil litros de água. Restringindo o uso, a quantidade comprada é suficiente para uma semana.
“Temos que tomar um banho por dia para não gastar muita água e sobrar para lavar roupa, escovar os dentes, lavar uma louça. Sem passar pano na casa, dura uma semana. É muito difícil, ainda mais nessa pandemia que temos que nos higienizar sempre”, lamentou.
Mesmo com o período de chuvas, há falta de abastecimento de água na cidade. Os moradores afirmam que temem o período da seca que se aproxima.
Novas estações de água
A nova ETA anunciada pelo estado será instalada no Bairro Chapéu do Sol. Serão investidos R$ 25 milhões. O novo sistema deve captar 250 litros por segundo ou 24 milhões de litros por dia.
A previsão é de que a obra seja realizada em duas etapas. Na primeira fase serão contemplados 27 bairros. Já na segunda etapa serão beneficiados outros quatro bairros da região.
O projeto, que está sob análise da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra), prevê a construção de um sistema de captação, uma adutora de água bruta, uma estação completa com três adutoras de água tratada, além de três reservatórios apoiados com capacidade de reserva de 7 mil m³, ou seja, 4,5 milhões de litros. Ainda não há data prevista para a entrega da obra, que está em fase de licitação.
A Prefeitura de Várzea Grande informou que também está com obras em andamento para a instalação da nova ETA, no Bairro Cristo Rei. Serão 320 litros por segundo ou 27 milhões de litros por dia.
A previsão é que a estação fique pronta entre agosto e setembro deste ano. Segundo a prefeitura, as obras demandam tempo "e até a entrada em funcionamento haverá dificuldades em atender a demanda hoje reprimida decorrente de 60% de perdas em tudo que é produzido”.
O município informou ainda que, em cinco meses, já foram adquiridos novos conjuntos de motobombas para captação e mais para a distribuição e novos equipamentos.
“Temos recursos e trabalho em execução, mas não temos tempo para atender o que já está deficitário”, diz.