Ao decretar a prisão preventiva de cinco suspeitos de envolvimento com o grupo de extermínio autodenominado Comando 4 (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos), o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), alertou para o “potencial bastante pernicioso” da organização. Segundo o ministro, o grupo demonstrou capacidade de identificação, monitoramento de alvos, agenciamento de pessoal e estrutura operacional, inclusive financeira, “a denotar elevado potencial de letalidade”.
“Dito de outro modo, a letalidade potencial da organização é imensurável, dada sua elevada capacidade operacional e bélica, notadamente porque integrada por agentes que pertencem ou pertenceram às Forças Armadas e que receberam treinamento militar especializado”, diz a decisão. A decisão do ministro Zanin foi dada no dia 24 de abril.
Durante um mês a PF preparou a sétima fase da Operação Sisamnes, espreitando os alvos e consolidando informações sobre seus paradeiros. Ao fazer buscas nos endereços ligados aos investigados em Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais nesta quarta-feira, 28, a Polícia Federal apreendeu fuzis e pistolas com silenciador, munição, lança-rojão, minas magnéticas e explosivos com detonação remota.
O ministro considerou “indispensável” a prisão do instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa, do pistoleiro Antônio Gomes da Silva, do coronel Etevaldo Caçadini de Vargas, do sargento do Exército Gilberto Louzada da Silva e do fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo.
“Entendo que os elementos informativos reunidos pela autoridade policial atestam a presença de indícios suficientes da constituição de uma rede criminosa armada, destinada à eliminação de ‘alvos’, com tabela de valores para eliminação de autoridades públicas e monitoramento exercido por indivíduos com treinamento militar.”
O Estadão pediu manifestação das defesas de Aníbal Laurindo e Antônio Gomes. Os advogados Sarah Quinetti e Ronaldo Lara, que representam o coronel Etevaldo Caçadini, disseram que ele é inocente.
Zanin argumentou que as informações reunidas pela Polícia Federal demonstram que o grupo seguiu em operação “até os dias atuais”. “A reiteração criminosa necessita ser obstada. A representação policial trouxe elementos suficientes conducentes à existência de fatos contemporâneos”, justificou.
Além da “periculosidade” dos suspeitos, o ministro considerou que havia risco concreto de fuga, “uma vez que a organização pode disponibilizar a seus agentes expertise e meios para ocultação e travessia de fronteira”. O grupo entrou na mira da Polícia Civil de Mato Grosso na investigação do assassinato do advogado Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, em dezembro de 2023. O advogado foi atingido por oito tiros à queima-roupa na porta de seu escritório em Cuiabá.
O “lobista dos tribunais” foi o pivô da investigação sobre a venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mensagens encontradas no celular dele levantaram suspeitas da compra de decisões e deram início ao inquérito.
Quando a investigação chegou a gabinetes do STJ, o caso foi remetido ao STF, por causa do foro dos ministros do Superior Tribunal de Justiça. Com isso, a Polícia Federal assumiu o inquérito. Já existe um processo criminal contra os executores do advogado, que foi devolvido à primeira instância, por falta de conexão com a investigação mais ampla. Em relação aos mandantes, contudo, os autos seguem sob responsabilidade do Supremo Tribunal Federal.
Ao pedir autorização para prender os suspeitos, a Polícia Federal alegou ter encontrado provas de uma organização criminosa especializada em espionagem e execuções sob encomenda.
‘Comando 4’ tinha lista com nomes de ministros do STF e tabela de preços por assassinatos
Para Zanin, os elementos apresentados pelos policiais federais indicam “não só da participação de alguns investigados no homicídio de Zampieri, mas também da existência de uma estrutura organizacional armada, com integrantes das forças armadas da ativa e da reserva e que se volta à execução de pessoas”.
Entre as provas, há uma lista com nomes de parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes e o próprio Zanin, apreendida com o coronel Etevaldo Caçadini. O grupo tinha também uma tabela de preços a cobrar por execução. Os valores chegavam a R$ 250 mil para ministros do STF. No caso de senadores, R$ 150 mil; deputados, R$ 100 mil. Para ‘figuras normais’, eram R$ 50 mil. Os valores constam de anotações encontradas com investigados.
A PF procura agora descobrir se houve de fato alguma articulação de atentado contra autoridades. Além disso, havia dezenas de imagens de vítimas de homicídios no celular Hedilerson Barbosa.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi a favor das prisões. O órgão destacou a “gravidade das condutas e sua natureza violenta”.
Além das prisões, Zanin determinou o monitoramento com tornozeleira eletrônica de outras quatro pessoas - Salezia Maria Pereira de Oliveira, Davidson Esteves Nunes, Peterson Venites Komel Júnior e José Geraldo Pinto Filho. Eles também estão proibidos de sair de casa à noite e foram obrigados a entregar seus passaportes.
COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS SARAH QUINETTI E RONALDO LARA, QUE REPRESENTAM O CORONEL CAÇADINI E SALÉZIA MARIA
O escritório Sarah Quinetti Advocacia Criminal informa que está acompanhando de perto as diligências realizadas nesta pela Polícia Federal em Belo Horizonte, Minas Gerais, no âmbito da Operação Sisamnes que envolve o coronel Caçadini e demais pessoas, a quem representamos.
Ressaltamos que, até o momento, não foi encontrado qualquer elemento ilícito relacionado aos acusados nas buscas realizadas na capital mineira.
Reafirmamos nossa confiança nas instituições brasileiras e no trabalho responsável das autoridades competentes, bem como reafirmamos nossa convicção na inocência dos nossos constituídos.
Permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.
Sarah Quinetti e Ronaldo Lara