“Ó abre alas / que eu quero passar”. Quando a clássica marchinha de Chiquinha Gonzaga pede passagem, é sinal que fevereiro chegou. E em Cuiabá os foliões já fincaram o estandarte no Casarão do Boa, reduto da folia mais democrática da região, o “Carna Boa”, cujas atrações vão do samba ao rock; do reggae ao forró; de mpb ao baião; do blues às marchinhas e por aí vai.
O carnaval só começa neste sábado (10.02) e vai até terça (13.02). Como cada dia será uma atração de gênero musical diferente, o folião tem opção de comprar o ingresso específico para os dias de seu interesse (R$ 50 antecipado; R$ 68 na hora) ou adquirir o passaporte para todos os dias (R$ 160). Cerveja, água e refrigerante são open bar e não tem hora para terminar. E quando bater a fome, o folião pode se deliciar com caldos e lanches com preços acessíveis (entre R$ 10 e R$ 15).
“O Carna do Boa surge como uma proposta alternativa e democrática ao carnaval tradicional. Aqui impera a diversidade e a comunhão entre ritmos e o público”, afirma Wesley Rodrigues, que toca o espaço desde 2014. Ele explica que o “Casarão carrega esse espírito boêmio do bairro (Boa Esperança) e a realização do carnaval é a extensão da proposta do bar enquanto espaço cultural, que é de aproximar pessoas e propiciar um convívio harmônico, divertido e respeitoso entre elas. E a música é a comissão de frente para que isso aconteça”.
Falando nisso, a festa de momo já contagiou a programação do bar há muito tempo. Isso porque, desde o início do ano, o Casarão conta com atrações musicais todos os dias e uma promoção mais do que especial: o cliente bebe à vontade das 17h às 21h e só paga R$ 24,90. “É para já irem entrando no clima do carnaval. E se o pessoal gostar, a gente até continua com a promoção depois”, complementa Wesley.
PROGRAMAÇÃO
No primeiro dia de folia (10.02), a comissão de frente vem com rock, bebê! A banda “Os Diferentes” promete entrar no clima carnavalesco e tocar fantasiada, ao melhor estilo Mamonas Assassinas, que, inclusive, faz parte do repertório, que ainda inclui Raimundos, Charlie Brown Jr., Nando Reis, Detonautas e por aí vai.
Em seguida, o potente Power Rock Trio, composto pela tríade de guitarra (Danilo Bareiro); contrabaixo (Jeanbass) e bateria (Nelson Küchler), apresenta a nata do blues e rock’n’roll. O repertório é abarrotado de releituras de grandes clássicos do rock, como Pink Floyd, Jimi Hendrix, The Doors, Eric Clapton... E também alguns nomes consagrados do rock nacional: Barão Vermelho, Raul Seixas, Ultraje a Rigor, dentre outros. O virtuoso trio se consolidou no cenário musical cuiabano tocando com frequência nas principais casas de shows da capital e promete uma apresentação impecável.
No domingo (11) é a vez da voz do reggae. Então, “woman, don’t cry”, “cause every little thing gonna be all right”. E tudo vai ficar muito bem porque a compositora, musicista e intérprete Karola Nunes, uma das mais aclamadas artistas mato-grossenses da nova geração, vencedora do “Novos Talentos 2017”, quadro do programa “É Bem Mato Grosso”, vai embalar os foliões com um repertório que mescla grandes clássicos do reggae nacional e suas composições próprias, carregadas de críticas sociais e comportamentais, sagacidade e muito bom humor. Além do rico repertório, sua espontaneidade e presença de palco também chamam a atenção.
Karola Nunes, vencedora do “Novos Talentos 2017”, quadro do programa “É Bem Mato Grosso”
Antes dela, abrindo a programação do dia, o promissor jovem Kristian Amorim aquece o público tocando grandes sucessos de O Rappa, Criolo, Maneva, Rael, Natiruts, Cidade Negra e outros importantes expoentes do reggae nacional.
Na segunda (12) os foliões poderão gastar a sola das sandálias a vontade, pois, como diria o clássico de Dorival Caymmi, “quem não gosta de samba / bom sujeito não é / Ou é ruim da cabeça / ou é doente do pé”. Olha o “Sambaião” aí, gente! Pois bem, um dia que, como sugere o nome, mistura samba com baião só pode ser qualquer coisa de maravilhoso, não é mesmo?
Sambaião de dois! Ou melhor, de duas. Duas mulheres que transbordam talento e simpatia: Laura Paschoalick (Baião e Forró) e Mariana Borealis (Samba). Laura tem um toque de Midas, tudo que ela toca vira um baiãozinho gostoso embalado por sua voz suave e melodiosa. Seus shows são sempre muito dançantes e o público nunca se satisfaz, sempre quer mais uma saideira. E essa onda cativante também emana das cordas (vocais e do violão) de Borealis. A depender dela, o samba nunca vai morrer, nem mesmo quando o dia raiar, porque ela sabe que a ordem é samba e nada mais!
Infelizmente todo carnaval tem seu fim, mas o fim do Carna Boa (13.02) é em altíssimo estilo, com direito a baile de máscaras e marchinhas. A chave de ouro do carnaval fica por conta do tradicional grupo Roda de Bamba, que cativa os foliões com aquele samba raiz, além, é claro, das clássicas marchinhas. Ah e ainda terá premiação especial para a melhor fantasia. Portanto, se prepare, pois a folia mais democrática da região vem aí e promete agitar os foliões.
CASARÃO DO BOA
O Casarão do Boa é o legado do antigo Espaço Sayonara, criado em meados da década de 50 e fechado em 1989. Durante as mais de 3 décadas de existência, o Sayonara chegou a ser a casa de espetáculos mais famosa do Centro Oeste, onde se apresentaram nomes como Roberto Carlos, Maysa, Jair Rodrigues, Ângela Maria, Orlando Silva, Beth Carvalho, Alcione, Agnaldo Rayol e Grande Otelo.
Além da importância histórica, o Casarão simboliza a boêmia daqueles saudosos tempos, mas sem abrir mão da contemporaneidade, o que explica a diversidade de ritmos que embalam suas noites, assim como seu próprio público, também muito diverso, composto por jovens, adultos e idosos de variadas classes sociais.
A charmosa arquitetura, caracterizada pelos tijolinhos à vista, somada ao clima agradável por se situar às margens do rio Coxipó, garantem aos frequentadores uma vivência ímpar. Além, é claro, da sensação de aconchego proporcionada pelas sombras das frondosas mangueiras e da Sete Copas à entrada, que parecem envolver as pessoas com seu frescor, ideal para tomar uma cervejinha gelada no fim da tarde ou para emoldurar uma folia de carnaval.