Neste sábado (21), Cuiabá acordou diferente. Pelos muros da cidade, estão pregados panfletos nos quais escritores são "procurados". Trata-se de uma provocação estética e semântica, além de se configurar uma intervenção na dura linguagem urbana.
"Se, de um lado, vivemos sob a égide da perseguição ao humanismo como expressão livre, por outro, escritores são procurados para nos salvar desse opaco período cultural. Procura-se porque os intelectuais estão sendo caçados", diz texto divulgado pelo advogado Eduardo Mahon, da Academia Mato-grossense de Letras (AML) e pelo escritor Caio Ribeiro.
Segundo eles, existem pessoas fazendo literatura de qualidade, no entanto, falta espaço, circulação e oportunidade. "Até mesmo nos ambientes em que seria previsível valorizar escritores, estamos nós arrostados por outras letras".
Eles citam o descaso com a literatura produzida em Mato Grosso, mas ao mesmo tempo pontos positivos, como:
A Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso) adota escritores mato-grossenses no exame vestibular;
As escolas particulares fazem encomendas às editoras e agendam visitas de escritores a turmas interessadas em conversar sobre literatura;
Editoras nunca tiveram tanta demanda, escritores iniciantes e veteranos, unidos no fazer literário
Recentemente, o município de Juína abriu procedimento para a aquisição de obras literárias para abastecer a biblioteca municipal que recebeu premiação internacional
Tangará e Cáceres, Sinop e Barra do Bugres, Santo Antônio do Leverger e Lucas do Rio Verde são cidades onde o público lota os auditórios quando há lançamento de livros.
Milhares de lambe-lambes com rostos de mais vários escritores de Mato Grosso tomaram o espaço púbico. A grande escala repete estes rostos com a mesma frase.
"Literatura é sonho em prosa ou poesia, é invenção e reflexão, é retrato e criação. Literatura é arte. É a arte que constrói a nossa identidade e não nos deixa esquecer de que somos humanos. Reduzir literatura ao utilitarismo é uma violência. É dizer: a poesia e a ficção não prestam para nada. As mentes mais obtusas interpretam a autonomia da arte como falta de serventia. Quanta pobreza intelectual, quanta aridez estamos vivenciando atualmente, uma mentalidade típica de fanáticos e ditadores", diz.
Augusto Cezar
Segunda-Feira, 23 de Setembro de 2019, 10h37