Todos que assistem ou escutam o já bem velho “Pânico” sabem mais ou menos o que esperar do show a ser apresentado logo mais, às 19h30, por Christian Pior, a outra alcunha do humorista Evandro Santo, do elenco fixo tanto do programa de rádio do Emilio Surita quanto da tevê Bandeirantes. Sempre com sarcasmo e escracho populares, detona a roupa, trejeitos e cacoetes das pessoas à sua volta. No entanto, no espetáculo de hoje ele pretende inovar ao falar das vicissitudes da transição tecnológica para os mais pobres. Aliás, esse é um de seus assuntos preferidos: a pobreza em oposição à “riqueza”, na opinião sempre do personagem, algo muito superior.
Emulando e caricaturando os homossexuais ressentidos e maldosos que fazem a festa das rodas de mulheres mais fúteis, Pior não perdoa ninguém — nem a si mesmo, quando se depara com gente mais rica do que ele.
De acordo com quem vende o peixe do show, em “Se Net, Colega”, o humorista usa versatilidade e expressões de efeito para falar das diferenças entre o mundo atual, marcado pelas redes sociais, e os anos 1980, quando fichas telefônicas e cartas eram das poucas ferramentas de relacionamento social, conjugal ou não.
O foco do show será os anos 1980, quando a novela Roque Santeiro era líder de audiência na televisão, junto com os programas de auditório do Raul Gil, do Bolinha e do Chacrinha. Uma época na qual a lambada estava no topo da lista das mais tocadas nas rádios e Beto Barbosa era considerado rei do ritmo por causa de “Adocica”.
Há um ar de saudosismo, com lembrança das fitas K7 e aparelhos de som três-em-um, além de uma detectada queda na audiência das novelas em detrimento das séries norte-americanas, baixadas junto com toda e qualquer música de maneira ilegal via internet. As aludidas coisas foram pro mesmo lugar que a maioria das cartas e todas as fichas de telefone e os orelhões (até sua nova configuração prometida) — no lugar destes, entraram aplicativos como Facebook, Twitter e Whatsapp.
“Sou dos anos 80, escrevi cartas, liguei de orelhão, levei canos e não existia celular. As letras de música eram mais complexas e eu tinha que pegar o dicionário para entender as palavras. Hoje, quase aos 40, tudo mudou e tive que me adaptar às loucuras das redes sociais. Este show mistura internet, o saudosismo dos anos 1980, signos, improvisos e lembranças de uma vida bem vivida com salário mínimo, se isto é possível”.