‘Vou dançar, vou dançar, vou dançar com essa menina! Vou fazer, vou fazer ela remexer!’. Estrela Dalva foi uma das primeiras bandas de lambadão de Mato Grosso. Referência para músicos do gênero da nova geração, a banda fez muito sucesso quando o ritmo começou ganhar destaque no final da década de 90. A primeira formação até se apresentou em um programa de audiência nacional no auge do sucesso. Se bem que nunca deixou de fazer sucesso. Com quase 40 anos de existência, as músicas do grupo animam todo evento em que toca.
O grupo surgiu em 1985 no município de Poconé, em fundo de quintal, tendo 3 precursores: Remil, Dionísio e Antônio Cezino da Cruz. Logo, o "Conjunto Estrela Dalva", primeiro nome da banda, reuniu 10 integrantes, tendo assim a primeira formação. Antônio Cezino, 58, relembra que o grupo não possuía um nome e ele propôs a Dionísio (seu compadre) que o grupo se chamasse ‘Estrela Dalva', após o senhor Olímpio, que realizava festas na cidade de Poconé, os convidar para tocar em sua festa. Aí a banda precisava de um nome para ser e divulgado nas rádios da cidade.
A primeira formação do ‘Conjunto Estrela Dalva’ era composto por: Ozenil (vocal e teclado), Zé Moraes (vocal), Remil (contrabaixo), Sebastião (bateria), Hudson (trompete), João Guilherme (percussão), Moisés (guitarra), Nino (trombone), Dionísio (guitarra), e Cezino.
O primeiro CD da Estrela Dalva foi gravado após 13 anos de existência da banda, em 1998, no estúdio Terra, patrocinado pelo então empresário Júlio César Souza. E foi um sucesso! Segundo informações, já no primeiro disco foram vendidos mais de 40 mil cópias. Na época, a banda já realizava shows na capital. O empresário ficou sabendo do grupo e foi pessoalmente até Poconé conversar com Antônio Cesino e ofereceu a proposta de trazê-los para tocar no clube em que ele era proprietário. Em entrevista ao GD, Antônio Cezino contou que o grupo também fazia muitos shows em Poconé e com o convite do empresário ‘não pararam mais de tocar’.
"Todo dia da semana tinha festa para tocar, era aniversário, casamento e as domingueiras no tabóquinha", contou ao GD.
"Tabóquinha" foi o local construído pelos músicos, em Poconé, para os ensaios quando começaram com a banda e com o grande sucesso passaram a promover ‘domingueiras’ no local, que atraía muitas pessoas. Conforme Antônio, Chico Gil também chegou a ensaiar com a Estrela Dalva no local. "De vez em quando ele aparecia lá. Ele gostava de cantar sertanejo, como Amado Batista", destacou.
O sucesso da Estrela Dalva foi grandioso, é fato! Antônio Cesino atribui o triunfo da banda ao estilo musical que era novo na região. 'Quando chegamos em Cuiabá já tinha as bandas, mas às músicas eram mais devagar. E a gente chegou com um ritmo mais acelerado. Acho que pegou no povo’. Além do estilo próprio, os músicos entre eles, Zé Moraes, Ozenil, Antônio, criavam às próprias canções. O que contibuiu para originalidade e sucesso estrondoso.
É verídico que as atuais bandas de lambadão não têm investido nas composições autorais. Para Antônio, isso "não é bom". 'A gente conseguiu elevar o lambadão com músicas autorais e o povo aprendeu a gostar do lambadão dessa forma'. Assim como outras bandas e músicos precursores do lambadão, a maioria das canções da Estrela Dalva eram composições próprias. 'Não compor músicas decaiu com o lambadão'.
Atualmente, a banda ainda se mantém com nova formação e 8 integrantes. Porém, não está realizando apresentações, desde o início da pandemia. Mas, anteriormente a crise sanitária, Antônio Cesino revelou que não estavam fazendo muito shows.
Dia do lambadão
O dia 10 de setembro foi escolhido para celebrar o ‘Dia do Lambadão de Cuiabá’, em 2018, por meio do Projeto de Lei(PL) 6.318 que elevou o lambadão à Patrimônio Cultural Imaterial e instituiu o dia do lambadão em alusão ao aniversário de Chico Gil, importante nome na difusão do ritmo no Estado e recebe o título de ‘Rei do Lambadão'.
O PJ instituído em Cuiabá é uma cópia da lei que também vigora no município de Poconé, de autoria de Walney de Souza, escritor e idealizador da Academia Lítero-Cultural Pantaneira. Para ele, o governo de Mato Grosso tem feito muito pelo lambadão, porém ainda é pouco e que precisa ser feito mais em prol da cultura do estilo musical.
"Somos uma região com artistas por vezes autodidatas, e esses músicos deveriam ter a garantia de aporte econômico, para continuar produzindo nossas músicas", contou ao GD.
José Moraes é apontado como o criador do lambadão. Segundo estudiosos, o ritmo surgiu através da mistura do carimbó paraense (trazido pelos paraenses que vieram trabalhar nos garimpos, principalmente, em Poconé), da lambada e do rasqueado mato-grossense. O nome "lambadão" foi dado após o produtor musical José Moraes, que fez parte da Estrela Dalva, compor uma música, na qual, letra dizia ‘vamos dançar, dançar, dançar o lambadão’.
O gênero começou ganhar força no final da década de 90. Antes disso, já existiam bandas que tocavam o lambadão, mas não tinham notoriedade. Entre os precursores que começaram a cantar o ritmo e popularizar na baixada cuiabana e em Mato Grosso, o saudoso Chico Gil e a Banda Estrela Dalva, ambos de Poconé. Ao longo dos anos, foram surgindo outros grupos intitulados apenas como de lambadão, entre eles, Stillo Pop Som, Erre Som e Os Ciganos.
Lidiane Barros, jornalista e mestre em Estudos de Cultura Contemporânea, afirma que o lambadão é um 'ritmo frenético, divertido e alegre'. Características marcantes que fazem muitos se apaixonarem pelo estilo, que ganhou destaque nas regiões periféricas da baixada cuiabana, se popularizou e ganhou o estado mato-grossense se tornando símbolo regional.
O lambadão é um estilo próprio, é cultura de Mato Grosso. Se hoje o gênero musical conquistou tamanha popularidade é porque bandas como Estrela Dalva, Os Ciganos, Erre Som, Stillo Pop Som e o saudoso Chico Gil, entre outros, batalharam para à construção da identidade deste gênero cultural local que é paixão de muitos lambadeiros e lambadeiras.
Confira a apresentação da Banda Estrela Dalva no Programa do Ratinho;