Símbolos do sagrado para muitos, as cruzes são tradicionalmente reconhecidas como ícones do cristianismo, sobretudo quando em espaços religiosos. Em Cuiabá, contudo, em diversos pontos é possível encontrar estes signos da fé distantes de casas de culto, o que desperta a curiosidade da população.
Sem descrições, assinatura ou até mesmo um nome popular, a cruz na Travessa Diamantino, no encontro com a rua Benedito de Melo segue sendo uma incógnita para os moradores do bairro Lixeira. Rodeado de superstição dos mais velhos, o símbolo religioso faz parte da paisagem do bairro há décadas, mas sua origem é desconhecida.
Nascida e criada no Lixeira, Jacina Angelina César contou à reportagem que sempre ouviu histórias da mãe sobre a cruz. As memórias da infância trazem de volta as falas da mãe repletas de visões de assombrações próximas à cruz.
"Antigamente, essa cruz era aqui, onde tem aquele poste ali. Era uma cruz feita de adobe, de barro. Então, quando passou o asfalto mudaram ela para esse canteiro aí", disse.
"Minha mãe contou para a gente, quando eu era pequena, que aqui era cemitério. Isso que eu sei. E que tinham sepultado um padre nessa cruz quando era ali, mas a gente era muito pequeno e ela falava que tinha assombração", relembrou a moradora.
Distante dali, no bairro Porto, outra cruz concentra em si décadas de adoração e mistério. Conhecido como cruz preta, o símbolo está localizado na rua Benedito Leite, próximo à avenida Comandante Costa.
Similar à cruz do Lixeira, este outro marco também tem atravessado gerações sem que os moradores do bairro conheçam seu real significado. Ao longo dos anos, o símbolo religioso passou por adaptações, com a substituição da madeira pelo concreto, mas a fé em torno do ícone segue reunindo a população do Porto em uma festividade anual.
"Eu creio que isso daí é da época que foi abrindo a cidade, mas não tenho certeza sobre a história verdadeira dela", revelou seo Cláudio Martins Colman, que tem um imóvel em frente ao espaço onde a cruz está instalada.
À reportagem, o homem contou que foi sua mãe a responsável por substituir a madeira inicial da cruz pela estrutura de concreto atual. Ele contou ainda que vizinhança realiza uma festa anual em torno da cruz, com direito a missa, proteção da polícia e jantar gratuito.
Mesmo estando "mais à mostra" que às demais, a cruz branca instalada em frente ao 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, guarda semelhança aos demais símbolos no que diz respeito à falta de conhecimento em torno de sua origem.
Diariamente, milhares de pessoas passam pelo local, que não conta com identificação do símbolo. O fato de estar ao lado da Galeria Lava Pés, contudo, revela parte da origem da cruz, como aponta o padre Felisberto, que é mestre em História formado pela Universidade Gregoriana da Itália.
Com estudos voltados ao desenvolvimento da igreja, o padre explicou que o símbolo foi instalado como um memorial religioso devido ao fato de que muitas pessoas eram executadas no local, onde passava o córrego Lava Pés.
Também relacionada a mortes, a cruz preta foi colocada em memória às pessoas que não resistiram à varíola e que tiveram os corpos enterrados antes de chegarem ao cemitério do Porto.
"Era da época da varíola. Era porque as pessoas não conseguiam chegar ao hospital e morriam na estrada. Daí, colocaram aquela cruz relembrando os mortos do 'período da bexiguinha'", contou o padre, que atualmente reside na Mitra Arquidiocesana de Cuiabá.
Com menos registros que às demais, a cruz do Lixeira é reconhecida apenas como uma "cruz familiar", como explicou o padre. Segundo o historiador, o símbolo teria sido instalado a mando da família Adolfo Vilela, que era tradicional no bairro.
Freakazoid!
Segunda-Feira, 18 de Outubro de 2021, 09h50Carlos Eduardo
Segunda-Feira, 18 de Outubro de 2021, 08h52Jessica Trans Corintiana
Domingo, 17 de Outubro de 2021, 18h52Seu Ramiro - aposentado
Domingo, 17 de Outubro de 2021, 14h19