Em dois dos espaços públicos, localizados no Centro Histórico de Cuiabá, que estão sendo revitalizados pela Prefeitura Municipal, foram encontradas marcas arqueológicas, que estariam relacionadas às ocupações urbanas pelas quais a capital mato-grossense passou ainda no século XIX. São fragmentos de cerâmica, moedas antigas, ladrilhos hidráulicos, pedras de quartzo brancas e paralelepípedos, descobertos na Praça Alberto Novis e na Escadaria do Beco Alto, entre as Ruas Pedro Celestino e Ricardo Franco. “Hoje, Cuiabá passa por um dos primeiros trabalhos de arqueologia urbana. Essas ocupações ou marcas históricas da cidade, como calçamento em pedra quartzo, estariam relacionadas as primeiras reformas realizadas na região central durante o século 19”, informou o arqueólogo Fernando Silva Myashita, da empresa Archeo Pesquisas Arqueológicas.
Na Praça Alberto Novis, ele conta que havia um casarão, que permaneceu até os anos 70. O local também teria sido sede de uma gráfica e, por isso, foram encontradas placas de máquinas tipográficas. Após, o lugar começou a passar pelo processo de pavimentação. “Esse achado é um importante registro da arqueologia urbana. Todo o Brasil vem procurando retratar diversas ocupações e momentos pelos quais passaram as cidades. Com isso, a gente procura entender os processos pelos quais a cidade passou, as transformações, inclusive, as de uso do espaço urbano”, frisou. Todo o trabalho estaria sendo acompanhado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Conforme o arqueólogo, ainda vai definido a melhor alternativa em relação aos vestígios, mas o mais indicado é que sejam preservados ou mantidos no local como “testemunhas” do processo de ocupação e desenvolvimento da capital. Outra possibilidade é de que parte dos objetos coletados sejam acondicionados no Museu da Pré-História Casa Dom Aquino.
A reforma dos dois espaços começou no mês passado e faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC Cidades Históricas, do Governo Federal. As obras também ocorrem na Praça Senhor dos Passos, e serão estendidas para as Praças Caetano de Albuquerque, no Calçadão da Galdino Pimentel e a da Mandioca, na Rua Pedro Celestino.
Conforme a administração municipal, esses locais carregam marcos que simbolizam períodos ou momentos significativos para a sociedade. “Seguindo as determinações do prefeito Emanuel Pinheiro, as estátuas que ficam na Senhor dos Passos, do escultor Jonas Corrêa, que retrata a chacina do ‘Beco do Candeeiro’ e a escultura da praça Dr. Alberto Novis, do artista Paulo Pires, da coletânea ‘Sociedade de Pedra’, não serão retiradas do local nem mesmo durante as obras”, comentou o secretário de Meio Ambiente, Juarez Samaniego. “Estamos trabalhando na possibilidade de readequação do projeto para que não tenhamos nenhum dano na história, na cultura ou patrimônio da cidade”, acrescentou.
Ele reforça que o estudo arqueológico é uma forma de garantir a preservação do patrimônio cultural, no caso, a localização de objetos do passado, que identificam os costumes de determinada época. “No Brasil existe uma legislação de proteção ao patrimônio arqueológico que diz que antes da construção de determinadas obras é preciso fazer um diagnóstico arqueológico da região”.
Já o arqueólogo, Lucas Hirooka, também da Archeo, destacou que o Centro Histórico é uma região que foi ocupada há milhares de anos por diferentes civilizações, sendo que as mais remanescentes, antes da chegada do homem branco, foram os bororós. “Por isso, a possibilidade de se encontrar objetos importantes para o registro histórico e, posteriormente, a sua preservação agregando valores ao município, é muito grande”, afirmou. As obras estão orçadas em R$ 900 mil. O prazo de conclusão é de 120 dias, com entrega total prevista para o mês de maio.