Caso seguissem a Lei Trabalhista, a maioria dos principais apresentadores de TV do país já poderia ter se aposentado, ou estaria perto de fazer isso. Porém eles continuam no ar — alguns com muito prestígio, outros com menos — sem demonstrar interesse em encerrar a carreira.

Essa decisão de permanecer à frente das câmeras após os 60, 70, 80 anos beneficia as emissoras, que não encontram sucessores à altura dos grandes nomes do entretenimento. Mas essa realidade levanta uma questão: o que será da televisão brasileira daqui a alguns anos, quando as atuais estrelas não estiveram mais na ativa?

Você pode argumentar: ninguém é insubstituível. Ok, concordo. Contudo, quem faria o mesmo — com semelhante performance — que Silvio Santos, Faustão, Ana Maria Braga, Jô Soares e Serginho Groisman? E a lista de apresentadores veteranos sem um sucessor direto tem muitos outros nomes.

Silvio Santos fará 84 anos em dezembro. É uma quase unanimidade de crítica e público. Ele ainda não fala abertamente em aposentadoria, mas pensa na sucessão no palco e na direção do SBT. O apresentador, que voltou a encostar na audiência da Globo, gostaria de levar Gugu Liberato de volta ao canal.

Após 22 anos no SBT (1981-2003), Gugu sempre foi considerado seu sucessor natural. Questões contratuais, como a garantia de patrocinadores e faturamento mínimo, emperram um acordo entre os dois para que o apresentador, de 55 anos, estreie um novo programa no SBT. No comando de sua emissora, SS conta com uma das filhas, Daniela Beyruti, na direção artística. Um sobrinho dele, Leon Abravanel, é diretor de produção. Outro sobrinho, Guilherme Stoliar, que já ocupou cargos importantes no SBT e hoje preside o Grupo Silvio Santos, poderá assumir em breve novo posto na cúpula.

Na Globo, Faustão tem poderes quase ilimitados. Sócio da emissora no horário de exibição de seu programa dominical, ele chega a faturar 5 milhões de reais por mês. Aos 64 anos, o apresentador não gosta de falar em aposentadora.

Luciano Huck, 42, chegou a ser apontado como seu sucessor. Dias atrás surgiu na imprensa a hipótese de Regina Casé, 60, ocupar a faixa de horário de Faustão. Por enquanto, apenas especulações.

Com 65 anos recém-completados, Ana Maria Braga parece viver o auge do vigor físico. Há quase 15 anos no ar com o Mais Você, a apresentadora teve altos e baixos na Globo. A fase atual é tranquila. O ibope oscila, mas sem crise. E o faturamento só aumenta. 

Quando Fátima Bernardes estreou sua atração, há dois anos, comentou-se que Ana Maria deixaria de ser a rainha das manhãs do canal. Aconteceu o contrário. Percebeu-se que ela ainda é imprescindível para a emissora — e hoje tem mais status do que nunca entre os diretores do canal.

Nos últimos anos, Jô Soares, 76 anos, ganhou alguns concorrentes com bom desempenho. Danilo Gentili, 34, que recentemente trocou a Band pelo SBT, onde apresenta o The Noite', consegue até vencê-lo eventualmente no Ibope.

Rafinha Bastos, 37, na bancada do Agora é Tarde, na Band, apresenta resultado de audiência bem tímido. Tem potencial de crescer no ranking caso consiga se desatar da postura politicamente correta que adotou, e volte a ser o kamikaze do humor nacional.

Por enquanto, Gentili e Bastos não são considerados pela Globo para uma eventual substituição de Jô Soares. Até porque a emissora tem em seu elenco um candidato considerado perfeito: Pedro Bial, 56.

O 'garoto' Serginho Groisman completará 64 anos em junho. Por enquanto ele não possui um substituto na Globo com o mesmo talento para falar com os jovens. E conquistar esse perfil de telespectador — de 18 a 24 anos — é fundamental para o futuro da TV aberta.

A dificuldade em preparar a sucessão de apresentadores ganha contornos dramáticos ao consideramos que as principais emissoras enfrentam perda gradual de audiência, mesmo com seus melhores nomes em plena atividade. Imagine a complexidade de um cenário sem essas estrelas.