Quando Ana Paula Villar pegou no palito pela primeira vez para desenhar uma florzinha na unha de uma amiga, ela não imaginava que estava começando uma das maiores revoluções da sua vida — e de tantas outras mulheres. Era 2006, e ela, moradora de Rocha Miranda, dividia os dias entre bicos e um trabalho fixo num escritório de contabilidade. Mãe solo, precisava se virar para sustentar o filho pequeno. Foi então, entre salgadinhos e conversas, que a beleza das unhas da colega chamou sua atenção.
— Depois que a gente lavou a louça, eu falei: “vou dar um jeitinho na tua unha”. Era só pra agradar mesmo. Fiz uma francesinha, uma florzinha de palito — relembra Ana Paula. A amiga saiu radiante, e logo as vizinhas começaram a bater na porta.
Sem pretensões, Ana Paula descobria ali um dom.
— Eu dizia: “gente, eu não sou manicure!” Mas elas insistiram tanto que acabei fazendo. E comecei a gostar, porque eu via o efeito que aquilo causava nelas. Era autoestima pura.
A garagem de casa virou salão. A cadeirinha do filho virou cadeira de manicure. A primeira mesa, achada no lixo e adaptada, foi símbolo da resiliência. A estrutura era precária, mas a vontade era gigante. Logo, a procura era tanta que ela precisou contratar mais profissionais.
— Eu trabalhava cedo e chegava tarde, mas minha casa já amanhecia com fila. Tinha mulher esperando desde as 5h da manhã para fazer unha comigo. Fui deixando os bicos aos poucos, até que pedi demissão do emprego. Quando vi, já tinha oito meninas trabalhando comigo.
Atualmente, Ana Paula orgulha-se em dizer que é “a primeira manicure influenciadora do Brasil”, com mais de 4 milhões de seguidores nas redes. Com quase duas décadas de carreira, ela assina as unhas de famosas como Alcione, Roberta Rodrigues e Evelyn Regly, comanda uma escola online com mais de 30 mil alunas e acaba de lançar sua própria linha de produtos profissionais.
A linha de 13 produtos, desenvolvida especialmente para manicures que, como ela no início, enfrentam dificuldades financeiras.
— Quero levar qualidade e acessibilidade para quem está começando. Esse é o meu jeito de retribuir tudo o que conquistei — afirma.
A paixão pelo ofício também se entrelaça com a trajetória dos três filhos: Douglas, de 30 anos, Gustavo, de 22, e David, de 11. Foi pensando neles que Ana Paula decidiu arregaçar as mangas e buscar alternativas para complementar a renda da família.
— Quando comecei, só tinha um filho. Depois veio o segundo. Foi por eles que comecei a me virar. O trabalho no escritório de contabilidade não era suficiente para pagar as contas — relembra. — Fiz de tudo: vendi sanduíche na praia, doces, roupas, lanches... e salgadinho com uma amiga. Foi nela que fiz unha pela primeira vez. E tudo foi acontecendo, com muito trabalho e luta. Depois veio o caçula. E foi o mais velho quem me colocou no digital. Ele que me impulsionou nesse novo caminho — conta Ana Paula.
Foi Douglas quem começou a divulgar o talento da mãe nas redes sociais — primeiro no Orkut, depois no Facebook —, ajudando a transformar o trabalho artesanal em um fenômeno virtual.
— Na época, a moda era a nail art, e eu colocava minha marca em cada unha. Aceitava qualquer desafio: de Minnie a São Jorge, passando por todos os tipos de flores possíveis. Fazia o que a cliente pedisse. Ele postava tudo, e aos poucos fomos ganhando seguidoras no país inteiro. As “Villaretes” começaram ali — lembra ela, com orgulho.
'Traz que eu cuido!':Gari quer adotar bebê que encontrou no lixo, batizada pela equipe de Vitória
Mas Ana Paula faz questão de destacar que sua maior alegria não está apenas nos números ou no sucesso profissional, e sim na possibilidade de oferecer aos filhos aquilo que ela própria não teve na infância: uma boa educação, plano de saúde, conforto — e, acima de tudo, exemplo.
— Ser mãe é minha maior conquista. Conseguir mudar a nossa história, a da minha mãe e a dos meus filhos, através do meu trabalho, me enche de gratidão — diz. — Eles cresceram comigo, viram toda a luta de perto. E hoje celebram cada conquista ao meu lado. Esse trabalho vai muito além da estética. É cuidado, é escuta, é missão. É dar colo e brilho ao mesmo tempo.
Embora já não atenda clientes com a mesma frequência de antes, Ana Paula ainda reserva espaço na agenda para figuras ilustres — entre elas, Alcione, que virou amiga e símbolo de uma parceria que vai muito além do esmalte.
— A Marrom está comigo há quase oito anos. É brilho e autenticidade, exatamente o que acredito para minhas clientes — conta.
Foi justamente essa autenticidade que rendeu à cantora um de seus momentos virais nas redes sociais. Ao ser orientada por um assessor a usar unhas discretas para uma publicidade, disparou:
— Eu lá sou mulher de francesinha, p**?**
O recado era claro: quem assina suas unhas é Ana Paula, com toda a extravagância e brilho característicos de seu estilo.
Mesmo com o sucesso como influenciadora, palestrante e instrutora, Ana Paula faz questão de honrar suas origens.
— Podem me chamar do que for, mas, quando perguntam minha profissão, eu digo: manicure. Faço questão de levantar essa bandeira — afirma.
Agora, ela mira um novo sonho: transformar seu Instituto em uma Fundação voltada ao acolhimento, capacitação e empoderamento de mulheres em situação de vulnerabilidade.
— Vejo crescer a violência contra a mulher, o feminicídio… Quero que elas saibam que podem mudar de vida, que têm valor, que podem ser donas da própria história.