Após meses com movimento fraco e oscilante, o comércio surpreendeu neste fim de ano com o crescimento das vendas de Natal.
O resultado do último mês do ano elevou a confiança do setor, que agora atinge o maior nível desde 2013.
Segundo dados da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), as vendas natalinas avançaram 5,5% sobre o Natal do ano passado.
"Foi acima do que esperávamos, porque vínhamos em um movimento muito fraco de vendas. Diria que o Natal ajudou a salvar o ano", afirmou o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun.
A entidade atribui o resultado ao pagamento do 13º salário, cuja segunda parcela caiu no dia 20 de dezembro, à manutenção da Selic -a taxa básica de juros- na mínima histórica de 6,5% e à inflação em baixa -nos 12 meses encerrados em novembro, o índice estava em 4,05%.
Em todo o ano, as lojas em shoppings faturaram R$ 156,3 bilhões, segundo a associação -uma alta real (descontada a inflação) de 2,2% sobre 2017.
A associação não tem dados do Natal. O SPC Brasil estima movimentação de R$ 53,5 bilhões apenas na data.
"Após um período de retração da economia, observa-se uma perspectiva positiva do cenário pós-eleições, que estimulou muitos consumidores a irem às comprarem neste Natal", disse a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti.
A CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) afirmou que este foi o melhor Natal em cinco anos.
Pesquisa da entidade, em parceria com o SPC, estimou em 2,66% as vendas a prazo na data, o segundo resultado positivo após três anos de queda.
Outra entidade do setor, a Fecomercio, também registrou resultado positivo.
Segundo cálculos da entidade, feitos com base em dados da Boa Vista SCPC, as vendas do setor no país entre 13 e 20 de dezembro -semana antes das comemorações natalinas- cresceram 3,8%, ou R$ 1,7 bilhão a mais que em 2017.
O maior crescimento no Natal veio das vendas pela internet, cujo faturamento subiu 13,5%, para R$ 9,9 bilhões, segundo a Ebit/Nielsen.
No saldo anual, o faturamento do ecommerce deve fechar com alta de 12%, chegando a R$ 53,5 bilhões.
Os resultados positivos do fim deste ano, depois de meses de altos e baixos -de acordo com Sahyoun, a paralisação dos caminhoneiros, a Copa do Mundo e o período pré-eleitoral travaram um melhor desempenho do setor ao longo do ano-, elevaram o otimismo dos comerciantes.
Em linha com o que disse Kawauti, do SPC, o presidente da Alshop afirmou que o clima de otimismo aumentou após a eleição e com a definição dos ministros do novo governo.
De perfil liberal, Paulo Guedes, escolhido por Jair Bolsonaro (PSL) para comandar a pasta da Economia, foi bem recebido pelo mercado.
"Acreditamos que a economia deva entrar em um processo de retomada forte de crescimento, ainda mais depois de o [futuro] ministro da Economia nos colocar que vai desonerar a folha de pagamento e vai começar a privilegiar os empresários", disse Sahyou.
A expectativa dos comerciantes por resultados melhores daqui para a frente foi captada pelo Índice de Confiança do Comércio, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Segundo a pesquisa, o índice subiu 5,7 pontos em dezembro, para 105,1, o maior nível desde abril de 2013 (taxas acima de 100 indicam otimismo; abaixo, pessimismo).
"A confiança do comércio encerra 2018 com alta expressiva no quarto trimestre. É a primeira vez desde março de 2014 que o índice ultrapassa os 100 pontos, limite que identifica a transição para níveis elevados de confiança", disse Rodolpho Tobler, do Ibre/FGV.
Esse aumento significativo da confiança é reflexo de que a movimentação do varejo no último mês de 2018 não ficou restrita à semana do Natal.
"Depois de passar por períodos turbulentos ao longo do ano, como a greve dos caminhoneiros e o período eleitoral, os comerciantes esperam aumento de vendas neste fim de ano e têm boas expectativas para o começo de 2019", afirmou Tobler.
De modo geral, o brasileiro está mais otimista com a economia, de acordo com pesquisa Datafolha publicada no domingo (23).
Segundo o instituto, 65% dos entrevistados acham que a situação econômica do Brasil vai melhorar nos próximos meses, ante apenas 23% que diziam isso no levantamento anterior, de agosto deste ano.
Já 67% dizem acreditar que estarão em melhor situação econômica pessoal à frente. Em agosto, eram 38%.
O Datafolha ouviu 2.077 pessoas em 130 municípios nos dias 18 e 19 de dezembro.
Neste levantamento, acham que a economia brasileira vai piorar 9% -eram 31% em agosto. Já os que dizem acreditar em estabilidade caíram de 41% para 24%.
Na avaliação das finanças pessoais, os pessimistas passaram de 14% para 6%.
Os entrevistados que veem a situação igual à frente passaram de 44% para 25%.
O Índice de Expectativas da FGV também apresentou variação positiva e avançou pela terceira vez consecutiva, chegando a 112,58 pontos -maior nível desde fevereiro de 2011.
Tobler, porém, faz uma ressalva. "A sustentação dessa recuperação dependerá da continuidade da melhoria do mercado de trabalho e da redução da incerteza."
Segundo o último relatório da IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado, a economia brasileira se recupera, mas ainda de forma insuficiente para recolocar o país nos níveis de 2014, quando a crise econômica teve início, o que deve ocorrer apenas em 2020.