O primeiro caso de gripe aviária em aves domésticas foi registrado em 16 de maio, em uma granja no Rio Grande do Sul. O país já havia detectado um caso da doença em maio de 2023, porém, em animais silvestres.
Este ano, desde a confirmação do caso no criadouro de animais, suspeitas da doença ocorreram em aves domésticas de outros lugares do Brasil, incluindo em Mato Grosso, no município de Nova Brasilândia (215 km ao sul de Cuiabá). Após estudo minucioso, o caso foi descartado.
Para entender o que é essa doença e se ela pode trazer riscos aos seres humanos, o GD conversou com Daniel Moura de Aguiar, médico veterinário e professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Além disso, ele é pesquisador com atuação na área de doenças infecciosas dos animais.
Gazeta Digital: O que é a gripe aviária e como ela se desenvolve nos animais?
Daniel Moura: A gripe aviária é uma enfermidade infectocontagiosa causada pelo vírus influenza subtipo H5N1. No caso das aves, esse vírus causa uma doença aguda que leva à morte de aves domésticas, por exemplo, galinha, pato, ganso.
As aves apresentam síndromes respiratórias e neurológicas e, geralmente, há uma grande taxa de mortalidade na criação.
O vírus influenza H5N1 é mantido na natureza por aves migratórias e aquáticas, por exemplo, gansos ou patos. Geralmente essas aves são migratórias aqui no Brasil e saem da América do Norte quando começa a ficar frio por lá. Assim, elas vêm até a América do Sul passar o tempo do calor aqui. Quando esfria novamente aqui, elas tendem a retornar para a América do Norte e param muito aqui no Brasil, principalmente na nossa região do Pantanal ou na região Sul, por exemplo, na beira da Lagoa dos Patos, onde está próximo da granja que apresentou o quadro ou caso de gripe aviária.
Essas aves migratórias não desenvolvem a doença, porque o vírus é adaptado a essas aves. No entanto, elas eliminam o vírus no local em que param para descansar, se alimentar ou reproduzir. Essas aves com o vírus compartilham o local com aves da região e é nessa hora que nossos animais se infectam.
Nossas aves não são adaptadas ao vírus influenza, então elas vão sofrer com a doença e morrer. Acontece que algumas delas, ao sofrerem a doença, podem estar em contato com aves domésticas e transmitir essa doença para elas.
Gazeta Digital: Além das aves, essa gripe pode afetar outros animais?
Daniel Moura: Esse vírus é tão patogênico que foram relatados casos de mamíferos que tiveram contato com as aves e desenvolveram a doença, vindo a óbito. Aqui no Brasil mesmo, no litoral do Sul, tivemos a mortalidade de leões marinhos. Nos Estados Unidos, houve a infecção pelo vírus da gripe aviária em vacas leiteiras e também em gatos. Tudo isso por conta dessa alta patogenicidade desse vírus.
Gazeta Digital: Por que em granjas com casos confirmados ocorre o sacrifício de animais?
Daniel Moura: Como esse vírus se multiplica rápido e causa uma mortalidade muito rápida, quando ele entra em uma granja, é necessário que todos os animais ali sejam abatidos para evitar que algum animal escape e leve o vírus para propriedades vizinhas. Então, isso faz parte do controle da doença, para não deixar ela se expandir.
Gazeta Digital: O H5N1 traz riscos aos humanos?
Daniel Moura: Esse vírus é de baixa patogenicidade para nós, seres humanos. No entanto, podemos nos infectar, mas com uma doença branda, com sintomas gripais.
Nos seres humanos, quem geralmente se infecta é a pessoa que atua no cuidado dos animais, como alimentação, troca de cama de aves, aquela pessoa que entra do galpão para fazer a rotina da criação.
Gazeta Digital: Neste período de suspeitas, existe alguma recomendação para a população?
Daniel Moura: A população precisa estar atenta ao surgimento de aves mortas, seja na cidade ou no meio rural, para informar os órgãos competentes para remover esse animal. Aqui no estado nós temos o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), as secretarias de saúde de cada município e também a Polícia Ambiental.
É muito importante que a gente não manipule essas aves por conta do risco de infecção e também porque durante a manipulação, podemos levar o vírus para outros locais e infectar outros animais, no caso aves.
Não há risco de transmissão da gripa viária para seres humanos por meio de ovos e carne, desde que esses alimentos sejam cozidos ou fritos. Então o vírus não resiste ao calor.
Gazeta Digital: Como está a investigação de casos no Brasil no momento?
Daniel Moura: Até agora, tivemos um caso confirmado de uma ave migratória coletada no litoral do Espírito Santo, uma ave silvestre. No Rio Grande do Sul esse de agora é o primeiro caso confirmado em aves domésticas.
Mediante essa emergência de saúde animal, todo o Ministério da Agricultura, todos os órgãos oficiais dos estados de defesa animal estão atentos e trabalhando para serem reforçadas todas as medidas de biosseguridade nas aves para que esse vírus não se espalhe na população.