A terceira fase da Operação Barril Vazio revelou um "jogo de troca-troca societário" na NEOVG Derivados de Petróleo S/A (antiga EGCEL), investigada por fraudes que incluem superfaturamento de patrimônio, sócios ocultos e lavagem de dinheiro. Denúncia do Ministério Público de Mato Grosso (MP-MT) detalha como a empresa, que começou com um capital social de R$ 840 mil inflou seu valor para R$ 133 milhões por meio de manobras contábeis fraudulentas e múltiplas alterações em seu quadro de acionistas – sempre com o mesmo grupo no controle.
A denúncia, aceita pela Justiça, revela que a empresa foi erguida sobre alicerces fraudulentos, com superfaturamento de propriedades rurais, simulações de aportes financeiros e uma teia de sócios ocultos que movimentou milhões em benefícios fiscais ilícitos. Criada em 2002 em Mirassol D’Oeste como EGCEL Comercial, Formuladora, Importadora e Exportadora de Derivados de Petróleo Ltda., a empresa declarou um capital social inicial de R$ 840 mil, supostamente integralizado com a "venda" de três fazendas ("Juliana", "Juliana II" e "São Sebastião") pelos sócios-fundadores Estefânia Alves de Freitas, Otáide Trento Júnior e Egnaldo de Freitas Tiago – irmão de EgnoMar Tiago, apontado como sócio oculto.
Dois meses depois, em novembro de 2002, laudos do engenheiro Gilmar Pinto Cabral inflacionaram o valor das propriedades em 1.500%: a Fazenda Juliana II, por exemplo, saltou de R$ 840mil para R 6,5 milhões. O capital social da EGCEL disparou para R$ 13 milhões, sem justificativa econômica. Além disso, o MP-MT identificou múltiplas alterações contratuais para ocultar controladores e maquiar o patrimônio.
Em 2003, Vilma Maria Furlan da Silva (esposa do denunciado Celso Carlos da Silva) assumiu quotas de Egnaldo Tiago, mas devolveu-as meses depois, alegando "dificuldades financeiras". Em 2004, entraram Santiago Selverio Savalio e Fábio Gomes da Silva, sem novos aportes.
Em 2010, surgiu a figura central do esquema: Alexandre Wonhrath da Gama e Silva, que assumiu o controle com sócios ligados à SFC Participações Ltda e à Maiori Participações – esta última, uma "empresa-fantasma" usada para inflar o capital social da EGCEL com notas promissórias de R$ 113,9 milhões sem lastro. A Maiori Participações Ltda, controlada pela YTAP Participações S/A, tornou-se sócia majoritária da EGCEL em 2013 mediante títulos sem fundos.
Investigações revelaram que a A YTAP foi criada um mês antes da Maiori, ambas com o mesmo endereço em São Paulo. Alexandre Wonhrath era presidente da EGCEL, sócio da Maiori e diretor da YTAP – evidenciando controle cruzado para fraudes.
A Maiori tinha apenas R$ 500 mil em caixa, mas "integralizou” R$ 100 mil em capital via YTAP, que também não possuía recursos. Em 2017, o JNC Fundo de Investimento em Participações – Capital Semente entrou no quadro societário, com 73% das cotas controladas pelo Fundo Multimercado Crédito Privado, ligado ao denunciado Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como "Beto Louco" – apontado como mentor de fraudes na COPAPE (empresa de combustíveis de SP).
Celulares apreendidos mostraram que Clayton Hyginho de Miranda, diretor da NEOVG, mantinha conversas criptografadas com "Beto", sugerindo articulação de negócios ilícitos. Em 2021, a EGCEL mudou de nome para NEOVG Derivados de Petróleo S/A, mantendo Wonhrath como presidente e Clayton como diretor. O MP-MT sustenta que a empresa nunca deixou de ser operada pelo mesmo grupo criminoso, que fraudou tributos e lavou dinheiro por duas décadas.
“O grupo é caracterizado pela divisão estratégica de funções e pelo uso sistemático de fraudes estruturadas, mediante sucessivas alterações contratuais e reorganizações societárias, que tinham como objetivo principal ocultar suas práticas ilícitas e obter vantagens econômicas indevidas perante órgãos regulatórios e fiscais. Dentre os mecanismos fraudulentos empregados pelo grupo, destaca-se a simulação da integralização de capital social, viabilizada por meio da inclusão fictícia de bens imóveis no patrimônio da empresa, emissão de notas promissórias “pró-soluto”, entre outros métodos”, diz trecho da denúncia.