No etanol, vem aí uma tempestade perfeita que pode fazer o preço subir. A análise é compartilhada pelos times de análise da XP e do BTG Pactual em relatórios nesta quarta-feira.
Os estoques de etanol estão excepcionalmente reduzidos — no nível mais baixo em quase uma década, para ser mais preciso. E estimativas menores para a área plantada de cana e para o ATR (Açúcar Total Recuperável, indicador da quantidade de açúcar na cana que pode ser utilizada na produção de açúcar e etanol) podem levar a um aumento de preços do biocombustível nas próximas semanas.
Nos relatórios, tanto a XP como o BTG Pactual reduziram a previsão de moagem de cana-deaçúcar para 589,5 milhões de toneladas, 3 milhões abaixo da estimativa anterior.
Os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, da XP, mantiveram a projeção de produtividade, mas reduziram a de área plantada.
Ambas as casas também cortaram a projeção de ATR de 82,4 milhões de toneladas para 79,2 milhões de toneladas. “Com a redução do ATR, tanto a produção de açúcar quanto a de etanol são impactadas” , afirma a XP.
Lembrando que o consenso sobre a safra de cana vem diminuindo desde o início da temporada, a casa diz que as chuvas recentes “devem trazer melhor perspectiva, preparando o terreno para um início melhor da safra 2026/27 em comparação com o mesmo período do ano passado, quando a região Centro-Sul enfrentou seca e incêndios”.
Nesse contexto, a entrada em vigor do novo mandato do etanol, com a mistura elevada de 27,5% para 30% a partir de agosto, indica “um cenário de preços melhor diante da oferta menor”.
Moagem sobe em julho e sinaliza recuperação
Em seu relatório, o BTG Pactual também apontou uma redução do ATR na safra 2025/26, de 82,4 milhões de toneladas para 79,2 milhões de toneladas. Por isso, o banco reduziu a estimativa de oferta de etanol na safra em 2 milhões de metros cúbicos.
Os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla dizem que neste ano os estoques de etanol estão contrariando o padrão tradicional de sazonalidade.
Segundo o BTG Pactual, os estoques costumam aumentar durante os meses de moagem, entre abril e novembro, para depois diminuírem na entressafra, “quando a demanda permanece estável, mas não há nova oferta no mercado.”
Neste ano, entretanto, “fortes chuvas no início da temporada desaceleraram a colheita, levando os estoques ao menor nível em mais de uma década” , diz o BTG Pactual.
O banco lembra ainda que, contrariando o senso comum, os preços caíram nos últimos meses em paralelo com a redução na oferta.
Agora, a previsão é que os volumes de moagem aumentem com a normalização do clima, permitindo que as usinas acelerem a colheita.Um indicativo disso foi a moagem de cana em nível recorde na primeira quinzena de julho.
Mas “embora esse aumento sazonal deva levar a um aumento de estoques, o saldo geral da safra permanece apertado” , pondera o BTG Pactual.
Segundo o banco, o aumento obrigatório da mistura de etanol anidro na gasolina para 30% a partir de 1º de agosto, combinado com uma previsão de um mix mais açucareiro na safra 2025/26, deve limitar a oferta do combustível, impulsionando os preços.
“O etanol é mais impactado nesta atualização, tanto pelo lado da oferta quanto da demanda. A nova taxa de mistura de 30% pode criar um cenário de preços mais favorável, o que pode estreitar ainda mais a paridade entre etanol e açúcar. Esse cenário mais apertado provavelmente sustentará preços mais altos” , concluiu.