Entre fios, nós e histórias de geração em geração, as redeiras do Limpo Grande, em Várzea Grande, resistem ao tempo com talento, paciência e amor pela arte de tecer. Mas uma preocupação crescente ameaça esse ofício centenário, o desinteresse dos jovens em aprender a tradição das redes artesanais, passada por diversas gerações das famílias.
Criada em 2021, a Associação das Redeiras do Limpo Grande começou com 15 mulheres. Hoje, já são 53, que produzem não só redes, mas também xales e outras peças feitas à mão, comercializadas dentro e fora do Estado.
Para Jilaine Maria da Silva Brito, 38, presidente da associação, o desinteresse dos jovens é um risco real para a continuidade da cultura, mas não é motivo para desistir. "A associação nasceu para resgatar uma cultura que estava quase desaparecendo. Conseguimos motivar mulheres que haviam perdido a esperança. Nosso trabalho é único, não existe em outro lugar."
“Cresci vendo a minha mãe, a minha avó tecendo. Elas faziam para ajudar nas contas de casa. É algo lindo e importante pra a tradição de Várzea Grande, mas é muito cansativo”, conta Lethycia Roberta de Figueiredo, 22, a integrante mais nova da associação.
Para Lethycia, a tradição ainda tem futuro se for valorizada a tempo. "Mesmo sendo difícil, aprendam. A rede é uma tradição incrível que vem de muitas gerações. É uma história da nossa comunidade bordada ponto a ponto. Não pode acabar."
Ela ainda não domina a técnica, mas tem vontade de aprender. Mesmo assim, entende os motivos da ausência da juventude. "Leva dois ou 3 meses para fazer uma rede. Um xale demora semanas. É tudo manual, o material é caro e o retorno financeiro demora. Muitos jovens acabam desistindo sem nem tentar".
A associação sobrevive com recursos de editais, enfrentando burocracias e limitações. Mesmo assim, as mulheres seguem firmes, com planos ambiciosos, como exportar suas peças e integrar a rota turística oficial de Mato Grosso.
"Queremos atrair mais jovens. Mas hoje estamos com muitas encomendas e dificuldade em organizar oficinas. Precisamos de apoio do poder público para manter o espaço e investir na formação de novas redeiras", afirma Jilaine.
As conquistas são visíveis, com participação em feiras nacionais, premiações e até um passo inédito no mundo da moda, por meio de uma colaboração, a primeira da associação, com a renomada estilista Isabela Capeto.
"Nossa arte conquistou mais um lugar de destaque. Chegamos ao setor da moda, um sonho realizado, na qual há tempos estava em nossos planos e ficaram maravilhosas pelas mãos da estilista".
Apesar dessa conquista, há um vazio preocupante. A juventude da comunidade não tem se engajado em manter esse legado vivo.
Enquanto o futuro das redeiras caminha sobre fios cada vez mais frágeis, as mulheres do Limpo Grande seguem transformando a linha em legado e agora em moda de passarela.