Augusto Melo diz estar de volta à presidência do Corinthians. A decisão é contestada pelo presidente do Conselho Deliberativo do clube, Romeu Tuma Jr, que trata o episódio como um "golpe de quinta categoria".
Menos de uma semana depois de ter sido afastado do cargo numa votação de impeachment realizada no dia 26, Augusto Melo foi reconduzido ao cargo por aliados após uma troca no comando do Conselho Deliberativo.
Neste sábado, a conselheira Maria Angela de Souza Ocampos assumiu a presidência do órgão. Ela se baseia numa decisão do Conselho de Ética do órgão, do dia 9 de abril, que determinou o afastamento de Romeu Tuma Júnior da presidência do Conselho. Apesar da ordem ter sido proferida há quase dois meses, só na sexta-feira ela foi oficializada num ofício enviado à secretaria da casa pelo conselheiro Mário Mello, relator do caso.
A conselheira, aliada de Augusto, afirma ter anulado todos os atos de Tuma Júnior desde o dia 9 de abril – o que inclui a votação do impeachment realizada durante a semana.
Uma grande confusão se formou no Parque São Jorge no fim da tarde, quando Augusto e aliados ingressaram na sede social do clube para retomar o poder. Presidente em exercício desde a noite da última segunda-feira, Osmar Stabile se recusou a deixar a sala da presidência do clube.
– Determino, no pleno exercício das minhas funções de presidente do Conselho Deliberativo: 1) a suspensão dos efeitos de todos os atos irregularmente praticados pelo senhor presidente do Conselho Deliberativo, senhor Romeu Tuma Júnior, desde o dia 9 de abril de 2025, data em que foi determinado e se tornou notório o seu afastamento dos exercícios de suas funções, decretando a nulidade inclusive da decisão tomada pelo plenário do Conselho Deliberativo no dia 26 de maio de 2025, relativamente ao afastamento do cargo do senhor presidente da diretoria – afirmou Maria Angela.
– 2) que o presidente da diretoria, senhor Augusto Melo, eleito pelos votos dos associados reassuma imediatamente o cargo do qual foi indevidamente afastado, seguindo a orientação expedida pela Comissão de Ética de que deva ser aguardado o fim do inquérito policial para que possa ser julgada pelo Conselho Deliberativo em reunião regulamente convocada e da qual participe exclusivamente os conselheiros que sejam considerados aptos a deliberar na forma estatutária.
Maria Angela, 1ª secretária do Conselho, diz ser a “herdeira” do cargo pelo fato de o vice-presidente, Roberson de Medeiros, estar de licença médica.
Tuma Júnior contesta seu afastamento e não o reconhece. Ele afirma jamais ter sido informado da decisão.
– Primeiro: não fui notificado. Segundo: não reconheço meu afastamento. Pelos documentos publicados pela imprensa, vi que a ata não tem a assinatura do presidente, Roberson de Medeiros. Terceiro: a decisão tem que ser do colegiado, não do relator. Nesse sentido, quem tem que me notificar é o presidente da Comissão de Ética, não o relator do caso. Quarto e mais importante: pedi para a secretária do Conselho para ter acesso aos processos da Comissão de Ética, e os processos contra mim não estão no clube. Sumiram! – argumenta.
Em nota, Romeu Tuma fez fortes críticas a Augusto Melo e seus aliados:
– É uma tentativa de golpe institucional perpetrada por um ex-presidente afastado por um processo legítimo que tramitou dentro das regras estatutárias e convalidado pela Justiça. Lamento profundamente que até hoje, o ex-presidente que já foi indiciado pela Polícia por diversos crimes, dentre os quais ter furtado o Corinthians, consiga junto com alguns seguidores aloprados, continuar a manchar a história centenária e democrática do Corinthians. Golpistas não passarão!
Romeu Tuma Jr., na noite deste sábado, emitiu comunicado oficial para a imprensa para atacar a decisão, considerada "tentativa de golpe".
É inadmissível a patética tentativa de golpe que está em curso no Corinthians. Nossa história não merece isso, e aviso aos baderneiros de que não passarão.
Mais inaceitável ainda é a molecagem de quatro Conselheiros que, embora eleitos para preservar o Estatuto, se acham superiores aos 300 que validaram os atos da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo e deram posse ao Presidente Osmar.
Não há, repito, qualquer fundamento para que estes mesmos Conselheiros se coloquem como maiores do que a Justiça, decidindo contrariamente às várias tentativas de me depor negadas todas pelo Judiciário paulista.
Não reconheço qualquer deliberação golpista, inválida, juridicamente nula, adotada por alguns arruaceiros, buscando tumultuar este momento tão importante de reconstrução do Corinthians.
Não resta dúvida de que este movimento trata-se, de maneira clara, de uma tentativa de golpe institucional, perpetrado por um ex-Presidente afastado por um processo legítimo, que tramitou dentro das regras estatutárias e convalidado pela Justiça.
Isso é absolutamente ilegal, além da demonstração de desrespeito com a Instituição e seus associados. São baderneiros, insubordinados as regras do Corinthians e, pior, as decisões judiciais.
Lamento profundamente que o ex-presidente, desprovido de postura adequada, após ter sido indiciado pela Polícia por diversos crimes, dentre os quais ter furtado o Corinthians, tenha petulância e consiga, com o auxílio de seguidores aloprados, continuar a manchar a história centenária e democrática do Sport Club Corinthians Paulista. Golpistas não passarão!!!
Espero que o Presidente Osmar Stabile adote todas as medidas para manutenção da ordem no clube. Da mesma forma, buscarei todas as medidas necessárias para punir esses lunáticos, nas instâncias administrativas, cíveis e penais.
Romeu Tuma Jr
Presidente do Conselho Deliberativo
Entenda a polêmica no Conselho
Tuma é acusado de comandar o Conselho de forma parcial e também de prejudicar a imagem do Corinthians com declarações públicas. O entendimento da maioria dos membros da Comissão de Ética foi de que, se Tuma continuasse no cargo, tais danos seriam perpetuados.
A defesa de Tuma alegou no processo que não existe previsão estatutária no clube para tal afastamento e que a punição liminar deveria ser feita pelo plenário do Conselho, não pela Comissão de Ética. Também alegou "ausência de justa causa para o pedido cautelar".
Votaram a favor do afastamento liminar os conselheiros Mario Mello Junior, Paulo Juricic e Ronaldo Fernandez Tomé. O único contrário foi Rodrigo Vicente Bittar.
Na última segunda-feira, 176 votaram a favor do afastamento de Augusto Melo da presidência do clube, contra 57 por negar o impeachment. O resultado tirou o dirigente da presidência, assumida pelo vice Osmar Stabile.
Para o impeachment ser sacramentado, porém, ainda é necessária uma nova votação, pelos associados do clube.
Na sexta, Romeu Tuma Júnior agendou a assembleia de sócios para o dia 9 de agosto.