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CADEIRA DA DISCÓRDIA

Disputa por vaga no STJ tem lobby, traição e intriga política

 

O GLOBO

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A disputa acirrada por uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem provocado ruídos entre aliados tradicionais em Alagoas e já antecipou as discussões sobre a formação dos palanques da campanha à reeleição do presidente Lula.

Lula vem segurando a indicação de um ministro para ocupar a vaga de representante do Ministério Público no tribunal, pela qual batalham vários grupos.

Mas a candidata que mais provoca intrigas e puxadas de tapete nos bastidores é Maria Marluce Caldas, procuradora de Justiça do MP alagoano, que surgiu como azarão na eleição da lista tríplice, em outubro, e bagunçou um jogo que já parecia definido a favor do procurador Sammy Barbosa – , candidato do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e de vários ministros do STF, como Gilmar Mendes, Flávio Dino e Alexandre de Moraes.

A demora do presidente Lula em definir o ocupante dessa vaga levou a um embate entre os grupos rivais em Alagoas. De um lado do tabuleiro político alagoano estão o governador de Alagoas, Paulo Dantas, e o clã Calheiros – o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ministro dos Transportes, Renan Filho.

Do outro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o prefeito de Maceió (AL), João Henrique Caldas (PL), o JHC, que está disposto a fazer de tudo para emplacar Marluce, que é sua tia.

Desde o início de sua campanha por ela, JHC ouviu de aliados de Lula que teria que trocar o PL e a proximidade com o bolsonarismo por um partido da base aliada – algo que já esteve para fazer diversas vezes, mas até agora também não aconteceu.

Na avaliação de aliados de JHC ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, a grande barreira para a indicação de Maria Marluce não é o clã Calheiros, adversário histórico do prefeito, e sim Lira, seu aliado.

“Se o Lula tivesse o ‘sim’ do Arthur, essa indicação já teria acontecido. Um rompimento político entre JHC e Lira está próximo”, diz um interlocutor do prefeito sobre o clima acirrado nos bastidores, com a exoneração da Secretaria de Educação da prefeitura de Maceió de servidores ligados a parentes de Lira.

Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, Lira não gostou do teor de uma conversa que JHC teve em encontro recente em Brasília com Lula e o prefeito de Recife, João Campos (PSB), em que discutiu os termos de sua eventual saída do PL de Jair Bolsonaro e a ida para o PSB.

Nessa conversa, JHC teria declarado apoio à reeleição de Lula e se colocado à disposição não apenas de sair do PL de Bolsonaro, mas de fazer o que o petista quisesse nas próximas eleições – seja disputar o governo do Estado ou uma vaga no Senado.

O recado foi interpretado no entorno de Lira como um sinal de que o prefeito está disposto a trair quem quiser para emplacar Maria Marluce na Corte superior. Os dois têm um acordo de que o ex-presidente da Câmara disputará o Senado em 2026 e JHC tentará o governo do estado, mas, diante dessa movimentação do aliado, Lira passou a temer que JHC aceite não concorrer ao governo do estado com Renan Filho e prefira disputar o Senado.

O apoio de JHC interessa ao PT já que o prefeito é uma das principais lideranças do campo da direita no Nordeste. Além disso, Maceió foi a única capital da região em que Bolsonaro derrotou Lula nas eleições presidenciais de 2022 – 57,18% a 42,82%.

Na mesma ocasião em que Lula ouviu o recado de JHC, auxiliares do presidente questionaram o prefeito sobre o acordo com Lira.

“O acordo político entre eles foi o de não deixar a família Calheiros no governo, com JHC governador e Arthur senador. Só que, quando veio a lista do STJ, o JHC ficou desesperado e foi correr atrás de apoio de todo mundo”, diz um aliado de Lira ouvido reservadamente pelo blog.

“Ninguém sabe se o JHC vai trair o Lira ou não, e o Lira cobra o prefeito para assumir publicamente que lado vai nas eleições. O JHC fica em cima do muro. Ele não nega que fez acordo com Renan, e diz para o Lira que a parceria está mantida. Está todo mundo desconfiando de todo mundo.”

‘Camaleão’

Enquanto seus rivais se digladiavam nos bastidores, o governador Paulo Dantas, aliado dos Calheiros, entrou no fogo cruzado para deixar claro a Lula o veto à candidatura de Maria Marluce e o endosso à indicação de Sammy Barbosa.

O movimento, porém, não convenceu os aliados de Lira, que falam em “jogo duplo”: enquanto o governador se opõe publicamente à indicação da tia de JHC, seus padrinhos políticos sinalizam nos bastidores que concordam com a escolha. “O Renan fica tentando jogá-lo contra o Lira”, comenta uma fonte que acompanha de perto as movimentações. “E ninguém entende o JHC. Sair do PL pro PSB é ser camaleão.”

As movimentações de JHC também são vistas com desconfiança por alguns dirigentes da cúpula do PSB. Esses sempre relembram que, em plenas eleições presidenciais de 2022, o prefeito largou o PSB para comunicar a migração para o PL de Bolsonaro – uma das razões para que os integrantes locais do partido tenham resistido a aceitá-lo de volta quando houve as primeiras conversas nesse sentido.

Enquanto isso, Lira tem sido pressionado por ministros do Supremo a endossar Sammy, mas aguarda os sinais de JHC e seus compromissos políticos para 2026 para definir de que lado vai ficar.

“O que eu entendo é que a nomeação da Marluce fortalece o JHC, e o Lira quer o JHC fraco, porque o JHC fraco depende do Lira”, diz uma fonte ligada ao governo alagoano. Mas no que depender de Lira, o acordo com JHC não só está mantido, como é "inabalável", segundo interlocutores do ex-presidente da Câmara.

Não à toa, o imbróglio tem sido chamado por integrantes do STJ de “Faixa de Gaza”.





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