A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, nesta segunda-feira, 14, novas diretrizes que recomendam o uso do medicamento injetável lenacapavir como medida adicional de prevenção ao HIV, estratégia amplamente conhecida com profilaxia pré-exposição (PrEP).
De acordo com a OMS, a decisão pode contribuir para melhorias na resposta do mundo contra o vírus que afeta cerca de 40 milhões de pessoas globalmente.
Para o médico infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o pronunciamento da OMS é fundamental para acelerar a chegada da medicação às pessoas que mais precisam – mas faz uma ressalva.
“Historicamente, há um atraso desde o momento em que uma medicação é aprovada até que ela chegue, de fato, ao público. A PrEP oral é um exemplo disso: foi aprovada pela FDA, nos Estados Unidos, em 2012, e só chegou ao Brasil cinco anos depois”, enfatiza Furtado.
No Brasil, é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a PrEP oral, que consiste no uso de comprimidos em duas modalidades: diária ou sob demanda. A diferença entre elas está no momento em que as pílulas são tomadas.
A distinção entre as duas terapias, que tem como base evidências científicas, permite que o recurso seja adotado de acordo com comportamento sexual de cada indivíduo, tornando a adesão ainda mais simplificada (entenda como funciona cada uma).
A partir da recomendação da OMS, consultamos o Ministério da Saúde acerca da possibilidade de incorporação da PrEP injetável na rede pública de saúde.
Em nota, a pasta afirmou que realiza o monitoramento dos avanços com relação aos medicamentos de prevenção e tratamento do HIV. No texto, o ministério reconhece os importantes resultados científicos dos injetáveis, mas acrescentou:
“Em relação ao lenacapavir injetável, o medicamento ainda não possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), requisito essencial para sua incorporação ao SUS.”
Atualmente, mais de 124 mil pessoas fazem o uso de PrEP no país, de acordo com estimativas do ministério. Em junho, o medicamento foi aprovado para uso nos Estados Unidos pela Food and Drug Administration (FDA).
Mecanismo de ação
Desde a década de 1990, a ciência compreende que o controle eficaz do HIV depende da combinação de diferentes estratégias e mecanismos de ação parar bloquear o vírus em suas variadas fases de replicação.
Por isso, cerca de 35 anos atrás, o manejo da infecção ganhou o nome de “coquetel” devido à grande quantidade de pílulas que precisavam ser tomadas, o que não se observa atualmente — leia reportagem especial sobre a evolução do tratamento.
Até o momento, interferir na multiplicação do patógeno é o objetivo central da terapia antirretroviral, que conta com um número amplo de medicamentos que reduzem e zeram a carga viral no organismo, preservando assim as funções do sistema imune e garantindo saúde e qualidade de vida.
Em geral, a maioria dos antivirais atua em um estágio específico da replicação viral. Por isso, é comum que os pacientes utilizem dois ou mais remédios ou apenas um comprimido quando é possível realizar a junção de dois compostos em uma única pílula.
Todo esse preâmbulo tem um motivo justificado. É esse contexto que ajuda a explicar como o lenacapavir se difere de boa parte dos fármacos disponíveis mundo afora. A farmacêutica Gilead, fabricante do produto de nome comercial Yeztugo, afirma que o medicamento foi desenvolvido para inibir o HIV em vários estágios da replicação.
A substância inibe essa replicação interferindo em múltiplas etapas essenciais desse processo. De forma resumida, o composto bloqueia a ligação de proteínas importantes, interfere ainda na montagem e liberação do vírus e promove a malformação de estruturas relevantes do micro-organismo.
Com essa tecnologia, o lenacapavir se tornou uma opção de prevenção de ação prolongada contra a infecção pelo HIV. A injeção deve ser tomada a cada seis meses ou duas vezes ao ano.
Um dos objetivos do desenvolvimento de opções medicamentosas de ação prolongada é atender às necessidades e preferências individuais na busca por proteção no contexto sexual. O conceito de Prevenção Combinada reúne um conjunto de medidas nesse sentido, como preservativos masculino e feminino, lubrificante, vacinas para HPV e as hepatites A e B, e testagem regular para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).