O aluno de medicina Enya Egbe, de 26 anos, encontrou o cadáver do seu amigo Divine durante a aula de anatomia na Universidade de Calabar, na Nigéria. O jovem contou que o corpo do seu colega tinha dois buracos de bala do lado direito do peito. As informações são da BBC.
“A maioria dos cadáveres que usamos na escola tinham marcas de balas. Eu me senti muito mal quando percebi que algumas daquelas pessoas poderiam não ser criminosos de verdade”, contou Oyifo Ana, amiga de Enya.
Egbe entrou em contato com a família de Divine, que tentava encontrá-lo desde que ele e outros três amigos foram presos na volta de uma noitada. Os parentes da vítima conseguiram recuperar o corpo e um painel judicial foi instaurado para investigar a ação policial.
O comerciante Cheta Nnmani, de 36 anos, foi um dos depoentes e contou que ajudou policiais a se livrarem dos corpos das vítimas que eles haviam torturado e executado. Segundo ele, os agentes o chamaram para carregar três cadáveres em uma van até o Hospital Universitário da Universidade da Nigéria (UNTH). Nnmani disse que foi algemado e ameaçado de ter o mesmo destino dos cadáveres.
Por fim, a família de Divine conseguiu fazer com que alguns dos policiais envolvidos na morte do jovem fossem demitidos, caso fora da curva no histórico de assassinatos na Nigéria.
Enya afirma que ficou tão traumatizado que chegou a abandonar os estudos por algumas semanas. Ele conta que imaginava sempre o amigo em pé ao lado da porta quando entrava na sala de anatomia.
O necrotério do hospital particular Aladinma afirma que parou de receber corpos de supostos criminosos, já que a polícia raramente fornecia identificação ou notificava os parentes. “Às vezes, a polícia tenta nos forçar a aceitar os corpos, mas insistimos para que os levassem a um hospital do governo”, diz a instituição.
A associação de anatomistas do país está em busca de uma mudança na lei que detalha os termos de doação de cadáveres às escolas. A entidade pretende tornar obrigatória a obtenção de registros históricos completos desses corpos antes de que eles sejam aceitos.