Um coletivo de artistas de Florianópolis instalou, sem autorização da prefeitura, um busto do empresário Eike Batista na Praça XV, marco zero da capital catarinense. A peça foi disposta no pedestal antes ocupado pelo busto de bronze do pintor Victor Meirelles (1832-1903), que foi roubado no ano passado e ainda não fora substituído.
A equipe do coletivo Erro, responsável pela obra, alega que o objetivo não é ironizar ou criticar o ex-bilionário, e sim protestar junto à Prefeitura de Florianópolis pela demora na recolocação do busto de Meirelles e de outras três personalidades catarinenses. As peças foram roubadas em agosto de 2013. Segundo a polícia, o interesse não seria na peça artística e sim no material do qual eram feitas para revenda no mercado paralelo. Os responsáveis nunca foram encontrados.
Das quatro estátuas, apenas a de Jerônimo Coelho foi recolocada. Os bustos de José Boiteaux, João da Cruz e Souza e Victor Meirelles ainda estão sendo esculpidos, sob encomenda da Fundação Municipal de Cultura Franklin Cascaes.
O busto de Eike foi doado à Fundação Cascaes e deverá ser substituído pelo bronze de Victor Meireles, quando ficar pronto
"Botox"
O busto de Eike Batista chama-se "BustoX" - a letra "X" está ao final como em todas as empresas do empresário. Instalada na praça em 28 de março, a obra foi doada à Fundação Cascaes e deve ir posteriormente para alguma praça ou museu públicos, já que há planos para reposição do bronze original para a Praça XV. A instituição só não soube informar o prazo para a reposição.
O coletivo chama a peça apenas de "botox", alusão ao produto usado para rejuvenescimento: "Dá para o relacionar o 'botox' com o bigodão das antigas do Victor Meirelles", disse Pedro Bennaton, 35, um dos artistas integrantes do grupo. "Se alguém está fazendo qualquer relação com os negócios do Eike é por conta própria, nossa intervenção é apenas na estética da cidade".
O busto está localizado dentro de um jardim cercado, de costas para o antigo Palácio do Governo e de frente para o prédio dos Correios.
A casa do pintor Victor Meirelles, hoje um museu, fica a 100 metros dali. Anderson Loureiro, assessor da instituição, ressaltou as diferenças físicas entre o empresário e o pintor catarinense. "Com certeza, o Eike não é o Victor", afirmou, após contemplar a peça na tarde desta quinta-feira (10).
Inspiração
O Grupo Erro idealizou a instalação quando o empresário Eike Batista ainda integrava a lista da Forbes dos homens mais ricos do mundo. No ranking, o então bilionário chegou a ocupar o 7º lugar. Atualmente, Batista passa por uma grande crise em seus negócios e o prejuízo de sua petroleira subiu 14 vezes em 2013, para R$ 17 bilhões.
Os artistas chegaram a inscrever o projeto do busto no edital cultural Elizabete Anderle, do Governo do Estado, um conjunto de 12 obras premiadas com R$ 75 mil, em 2013.
"Nós perguntamos [em 2012, antes de concorrer ao edital] quem era o herói da galera, e naquela época, Eike [Batista] era o cara", disse a porta-voz do Grupo Erro, Juliana Basseti. "Eike estava em todas as capas de revista como um cara legal, então a gente resolveu tocar o projeto".
O escultor Gustavo Tirelli foi contratado para produzir a peça, ao custo de R$ 6.000. No ateliê do artista, várias fotos do empresário serviram de modelo para a criação.
Na praça XV, uma folha de papel plastificada foi postada pelos artistas numa árvore em frente ao busto de Eike Batista, sem mencionar o nome do empresário.
Procurada pelo UOL, a assessoria do empresário Eike Batista não respondeu até o fechamento desta reportagem.