A mãe de uma jovem de 20 anos que afirma ter sido abusada sexualmente por policiais militares diz que a filha está à base de calmantes, bastante machucada e emocionalmente abalada. O caso ocorreu no último domingo à noite, por volta das 23h30, e envolveu PMs do 24º Batalhão de Polícia Militar, de Diadema, na Grande São Paulo. Segundo a vítima, os agentes teriam oferecido a ela uma carona para voltar para casa.
Ao GLOBO, a mãe, que pediu anonimato por medo de retaliação, relata que a filha foi abusada pelos dois PMs no banco de trás da viatura, e que havia bebidas alcoólicas dentro do veículo.
— Os policiais estavam bebendo na viatura no horário de trabalho. Olha que polícia maravilhosa a gente tem em São Paulo. Eles estavam curtindo o carnaval na viatura em horário de expediente — disse.
De acordo com a Polícia Militar, o cabo James Santana Gomes e o soldado Léo Felipe Aquino da Silva cumpriam escala de serviço naquela noite e, durante o patrulhamento, foram solicitados pela jovem para que a levassem a algum terminal de ônibus. Eles teriam levado a mulher até o Terminal de Ônibus Piraporinha, onde perguntaram a um funcionário do terminal informações sobre qual ônibus ela deveria utilizar para chegar à sua residência.
Ainda de acordo com o relato dos PMs, eles pediram à jovem que desembarcasse da viatura, e ela teria se exaltado, informando que não ficaria naquele local. Em seguida, ela teria ameaçado os policiais, dizendo que diria aos seus superiores que os agentes tinham cometido o estupro. Ainda de acordo com os PMs, eles acessaram a Avenida do Estado e a deixaram em um ponto de ônibus.
A mãe da jovem nega a versão da PM. Ela afirma que os policiais, depois de estuprarem a moça, a colocaram descalça e sem nenhum pertence para fora da viatura.
— Eles vão falar o que convém. Mas, se são tão inocentes, por que colocaram a minha filha para fora da viatura e roubaram todos os pertences dela, todos os documentos, bolsa, óculos de grau, inclusive o iPhone? Por que ficaram com o telefone dela? Porque ela tinha mais vídeos que ela não conseguiu enviar pra gente. Então ali é prova, né? — afirma.
Segundo a mulher, a filha faz tratamento para depressão com remédios controlados há vários anos e já denunciou o pai por estupro para a Polícia Civil no ano passado, parte das razões de seu histórico de doenças mentais. Nada disso, entretanto, invalida seu relato sobre os ocorridos no domingo, diz a mãe.
— É um pesadelo, sabe? É um pesadelo. Se ela estava bêbada ou não, se faz tratamento ou não, isso não justifica. Ela estava vindo de um bloquinho de carnaval... É a mesma coisa de você falar assim: ‘pô, aquela menina ali, ó, que está na rua, ela foi estuprada porque ela está com a saia curta´. Ela pediu ajuda para carregar o iPhone porque ela estava sem bateria. Se o policial viu que ela estava ali em uma situação vulnerável, que tivesse encaminhado para o Pronto Socorro ou uma delegacia mais próxima. Mas não. Ficaram dentro da viatura dando voltas e voltas com ela por horas, e abusaram sexualmente dela no banco traseiro. Os dois, não um só — relata.
Ainda de acordo com a mulher, a jovem passou por exames no Instituto Médico Legal e ficou parte do dia de ontem no Hospital da Mulher.
— Até mesmo a médica que fez a perícia dela, para verificar os hematomas, porque ela está muito machucada, ficou abismada com a quantidade de roxos — finaliza.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que os PMs foram presos pelos crimes de “abandono de posto” e “descumprimento de missão”, por terem dado carona para a jovem. Ambos deixaram a área de patrulhamento a eles incumbida “sem autorização e sem motivo justificado”. A acusação de estupro, segundo a pasta, “é rigorosamente apurada pela instituição”.
Piti-Bitoca
Quarta-Feira, 05 de Março de 2025, 15h33